A morte de Senna chocou o mundo em 1993. 22 anos depois, Jules Bianchi morreu aos 25 anos na sequência de um acidente no Grande Prémio do Japão. Os avanços técnicos e tecnológicos na Fórmula 1, na Fórmula 2, na Fórmula 3 e em todas as principais provas de automobilismo, permitiram este hiato de 22 anos — um hiato, ainda assim, demasiado curto. Quatro anos depois de Bianchi, apontado como o futuro da Ferrari, deixar marcada uma geração que é a de Charles Leclerc, Lance Stroll e Lando Norris, os minutos de silêncio em homenagem a pilotos regressaram à Fórmula 1.

Este sábado, na Fórmula 2, Anthoine Hubert morreu depois de um acidente com Juan Manuel Correa: o carro do piloto francês foi abalroado pelo do norte-americano, durante a segunda volta, e partiu em dois e Hubert, de 22 anos, não resistiu aos ferimentos. O jovem piloto, natural de Lyon, estava a cumprir a primeira época na F2 ao serviço da Arden e estava no oitavo lugar da classificação geral, tendo vencido tanto no Mónaco como em Le Castellet. Era membro da Renault Sport Academy, depois de ter sido campeão francês de F4 em 2013, e era um dos favoritos para saltar no próximo ano para a Fórmula 1.

Este domingo, no mesmo circuito de Spa em que Anthoine Hubert morreu, a Fórmula 1 cumpria o Grande Prémio da Bélgica, a primeira prova depois da pausa de verão. Após uma paragem em que a Red Bull enviou Pierre Gasly para o “cantinho do castigo” que é hoje a Toro Rosso, Alexander Albon estreava-se enquanto segundo piloto, ao lado de Max Verstappen, e tem até ao final da temporada para mostrar que tem qualidade suficiente para ficar antes de a equipa se atirar a Nico Hulkenberg. Na grelha, Charles Leclerc garantiu a pole-position, com Vettel a confirmar a dobradinha da Ferrari ao sair também da primeira linha, e Hamilton e Bottas formavam a segunda linha. Verstappen saía de quinto e Raikkonen largava da sexta posição.

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No arranque, Charles Leclerc conseguiu manter a liderança, Hamilton largou muito bem e ultrapassou Vettel nos primeiros metros mas o alemão da Ferrari soube recuperar a posição mais à frente, enquanto que Max Verstappen colidiu com Raikkonen e partiu a suspensão, saindo de pista desde logo em direção ao muro. O holandês da Red Bull abandonou de forma imediata, o veterano finlandês caiu para o penúltimo lugar e o safety car entrou em ação logo na primeira volta, impedindo que Hamilton fosse atrás dos Ferrari mas controlando também que Leclerc e Vettel fugissem.

Depois da 19.ª volta, em que as bancadas do circuito de Spa se levantaram para aplaudir os carros em silêncio, numa homenagem a Anthoine Hubert, que corria com o número 19, os quatro da frente começaram a luta das boxes e da estratégia. Vettel foi o primeiro a trocar de pneus, regressando na quinta posição e atrás de Lando Norris mas era líder virtual porque Leclerc, Hamilton e Bottas ainda não tinham parado. O jovem da Ferrari foi o segundo a mudar de médios para macios e seguiram-se os Mercedes, com a pit stop de Hamilton a demorar mais do que o expectável. Vettel assumiu a liderança de forma natural quando os três principais rivais voltaram mas a Ferrari, através da comunicação rádio, disse ao alemão que deixasse passar o colega de equipa, que estava mais rápido em pista e tinha superiores chances de ganhar o Grande Prémio.

As melhores condições dos pneus de Lewis Hamilton permitiram que o piloto inglês chegasse de forma natural ao segundo lugar, passando por Vettel à segunda tentativa, e a Mercedes já pedia a Bottas que poupasse os pneumáticos porque existia a possibilidade de lutar pela terceira posição com o alemão da Ferrari. Vettel teve mesmo de fazer a segunda paragem para voltar a trocar de pneus e Bottas assumiu o último lugar do pódio; mais atrás, Alexander Albon, na estreia com a Red Bull, ficou em quinto, à frente do antigo colega Kvyat, de Ricciardo e de Gasly, que foi substituir.

Charles Leclerc conseguiu manter a vantagem sobre Hamilton e garantiu a primeira vitória da carreira na Fórmula 1 — dedicada, em tanta medida como a Anthoine Hubert, a Jules Bianchi, de quem era amigo próximo e a quem costuma costuma dedicar as pole-positions, os pódios e as conquistas. O piloto monegasco, cada vez mais o futuro da Ferrari que o amigo também era quando morreu, não escondeu a emoção quando apresentou as condolências à mãe de Hubert antes da corrida: no final, ganhou. Não no dia ideal, mas ganhou. Segundos depois de passar pela meta, Leclerc não escondeu as lágrimas e, via rádio, disse “esta foi pelo Anthoine”. “Estou muito feliz mas é um tempo muito difícil. Não foi o fim de semana ideal mas estou muito feliz de qualquer forma”, acrescentou.