As críticas de José Sócrates a António Costa, num artigo de opinião no jornal Expresso, parecem ter sido feitas “de encomenda”, defendeu este domingo o comentador da SIC Luís Marques Mendes, para quem as palavras do ex-primeiro-ministro beneficiaram o atual chefe do Governo.

Aquilo encomendado não sairia melhor. É dinheiro em caixa para António Costa. Ele ganha  votos e ganha credibilidade com uma crítica de José Sócrates. Primeiro, porque Sócrates é hoje, goste-se ou não, um ativo tóxico. Para as pessoas que tentavam colar José Sócrates a Costa até dá jeito porque demonstra que estão nos antípodas um do outro”, disse.

No sábado, José Sócrates escreveu que é “insuportável assistir, sem reagir” aos “ataques” que o primeiro-ministro faz “à história do PS e aos anteriores governos socialistas”, nomeadamente às maiorias absolutas. As declarações surgem depois de António Costa ter afirmado, numa entrevista à TVI, que “os portugueses têm má memória das maiorias absolutas, quer as do PSD quer a do PS”.

Marques Mendes considera que “José Sócrates nem sequer tem razão na crítica que faz ao primeiro-ministro”. Segundo o comentador, Costa não criticou a maioria absoluta de Sócrates, mas “constatou que os portugueses têm uma impressão menos boa das maiorias absolutas”.

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Para Marques Mendes, além das críticas de Sócrates, a sondagem JN/TSF foi outra “ajuda” a Costa, dando-lhe quase 44% dos votos nas legislativas de outubro.

Se António Costa teve ajudas, a rentreé do PSD foi “agridoce”. Isto porque apesar das “boas iniciativas”, Rui Rio deparou-se com uma sondagem “demolidora”, que lhe dá 20% dos votos. Ainda assim, Marques Mendes acredita que “o PSD vai ter um resultado acima dos 25%”. Mas deixa conselhos a Rio: o líder social-democrata deve ter uma campanha mobilizadora, ser assertivo nos debates e passar uma mensagem clara. “Não pode andar a mudar de mensagem todos os dias”, atirou.

O CDS, por outro lado, está “num beco ainda mais complicado do que o do PSD”, uma vez que “está muito em baixo nas sondagens” e não está a “conseguir ir buscar votos” aos sociais-democratas.

Sobre a rentreé de bloquistas, Marques Mendes elogiou o “profissionalismo” do partido de Catarina Martins. “O objetivo do Bloco é clarinho: quer ir para o Governo ou, se não for, [o objetivo] é pelo menos ter votação para influenciar as políticas do PS.”

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Frisando que bloquistas querem evitar uma maioria absoluta do PS, Marques Mendes defendeu que se “tradicionalmente” o combate político era entre PS e PSD, “neste momento há uma bipolarização PS/Bloco de Esquerda”. “O Bloco de Esquerda é o grande obstáculo à maioria absoluta” dos socialistas, afirmou. Por isso, o debate da campanha entre Costa e Catarina Martins será o “mais decisivo”.

Ainda na Esquerda, o comentador teceu largos elogios a Jerónimo de Sousa (“é uma pessoa genuína”), embora considere que esta campanha eleitoral será “a última campanha” do líder dos comunistas para eleições legislativas. “Depois de Jerónimo de Sousa, o PCP vai esvaziar ainda mais.”

Ainda sobre as eleições, Mendes atirou que quer o partido de António Costa “tenha ou não tenha maioria absoluta, um governo do PS nos próximos anos terá uma vida infernal”: por exemplo, porque “vamos ter menos economia” e porque “não vai haver estado de graça”, mas uma contestação social.

Já da entrevista deste domingo de Costa à agência Lusa, na qual o primeiro-ministro anuncia não ter ambições de ser Presidente da República, Marques Mendes conclui que António Costa tem a “ambição de ter um cargo europeu”.