O deputado do Partido Conservador britânico Jo Johnson, irmão do primeiro-ministro Boris Johnson e secretário de Estado das Universidades e da Ciência, que se opõe à chamada “saída dura” (ou sem acordo) do Reino Unido da União Europeia, apresentou esta quinta-feira a demissão dos cargos de deputado e de membro do Governo.
“Foi uma honra representar [o círculo eleitoral de] Orpington durante nove anos e servir como secretário de Estado sob a liderança de três primeiros-ministros. Nas semanas recentes, tenho estado dividido entre a lealdade familiar e o interesse nacional. É uma tensão impossível de resolver e é tempo para outros assumirem os meus lugares enquanto deputado e secretário de Estado”, escreveu Jo Johnson numa mensagem publicada no Twitter.
It’s been an honour to represent Orpington for 9 years & to serve as a minister under three PMs. In recent weeks I’ve been torn between family loyalty and the national interest – it’s an unresolvable tension & time for others to take on my roles as MP & Minister. #overandout
— Jo Johnson (@JoJohnsonUK) September 5, 2019
Boris Johnson reagiu à demissão do irmão esta quinta-feira num discurso na escola da polícia de Wakefield, em West Yorkshire, no norte de Inglaterra. “Ele é fantástico e foi um ministro brilhante. Fez um fantástico trabalho para nós e para este país”, declarou. Ainda assim, o líder britânico assume que o Brexit era uma questão onde ambos discordavam: “O Jo não concorda comigo acerca da União Europeia porque, obviamente, é uma questão que divide famílias e divide toda a gente”.
No mesmo discurso, o primeiro-ministro inglês afirmou que preferia “morrer numa valeta” do que ir a Bruxelas pedir um novo adiamento do Brexit. Johnson foi então questionado se preferia demitir-se do que atrasar a saída da Europa, mas fugiu à pergunta: “Isto custa mil milhões de libras por mês e não se chega a lado absolutamente nenhum. Qual é o objetivo de mais atrasos?”, disse.
A decisão de Jo Johnson surge numa das semanas em que a novela do Brexit viveu episódios importantes no Parlamento, com o primeiro-ministro Boris Johnson a perder a maioria parlamentar; com a Câmara dos Comuns a fazer aprovar uma lei para adiar o Brexit até 31 de janeiro de 2020, que aguarda agora aprovação pela Câmara dos Lordes; e com o parlamento a rejeitar a proposta de Boris Johnson para o país realizar eleições antecipadas.
Jo Johnson, o mais novo dos quatro irmãos Johnson, chegou a fazer campanha contra o Brexit (e, portanto, contra o irmão), mas mudou de ideias — embora continuasse a defender que a saída não poderá acontecer sem uma acordo — e em julho deste ano foi nomeado por Boris para se sentar ao lado dele no Governo.
Antes, tinha passado por governos de David Cameron (como secretário de Estado no gabinete do primeiro-ministro) e de Theresa May, de que se viria a demitir em janeiro de 2018. Na altura, Boris Johnson elogiou o gesto do irmão, lembrando que os dois tinham discordado relativamente ao Brexit, mas estavam “unidos na indignação” contra o governo de Theresa May.
“Nem o irmão confia nele”, diz Partido Trabalhista
Angela Rayner, responsável do Partido Trabalhista pelas questões de educação (habitualmente referida como ministra sombra da Educação), reagiu à demissão de Jo Johnson assinalando que “Boris Johnson é uma ameaça tão grande que nem o seu próprio irmão confia nele”.
“Tivemos quatro secretários de Estado da educação em dois anos — o mais recente sinal do caos que os Tories causaram à educação e da ameaça que um desatroso Brexit sem acordo coloca aos nossos colégios e universidades”, disse Rayner, num comunicado emitido pelo Partido Trabalhista.
“Precisamos de eleições assim que a possibilidade de sair sem acordo estiver fora de questão, para que um governo trabalhista possa transformar o nosso sistema educativo e a nossa sociedade, para que possam trabalhar para todos, e não apenas para alguns privilegiados”, rematou a trabalhista.
Artigo atualizado às 22h00 com as declarações de Boris Johnson