O deputado do Partido Conservador britânico Jo Johnson, irmão do primeiro-ministro Boris Johnson e secretário de Estado das Universidades e da Ciência, que se opõe à chamada “saída dura” (ou sem acordo) do Reino Unido da União Europeia, apresentou esta quinta-feira a demissão dos cargos de deputado e de membro do Governo.

“Foi uma honra representar [o círculo eleitoral de] Orpington durante nove anos e servir como secretário de Estado sob a liderança de três primeiros-ministros. Nas semanas recentes, tenho estado dividido entre a lealdade familiar e o interesse nacional. É uma tensão impossível de resolver e é tempo para outros assumirem os meus lugares enquanto deputado e secretário de Estado”, escreveu Jo Johnson numa mensagem publicada no Twitter.

Boris Johnson reagiu à demissão do irmão esta quinta-feira num discurso na escola da polícia de Wakefield, em West Yorkshire, no norte de Inglaterra. “Ele é fantástico e foi um ministro brilhante. Fez um fantástico trabalho para nós e para este país”, declarou. Ainda assim, o líder britânico assume que o Brexit era uma questão onde ambos discordavam: “O Jo não concorda comigo acerca da União Europeia porque, obviamente, é uma questão que divide famílias e divide toda a gente”.

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No mesmo discurso, o primeiro-ministro inglês afirmou que preferia “morrer numa valeta” do que ir a Bruxelas pedir um novo adiamento do Brexit. Johnson foi então questionado se preferia demitir-se do que atrasar a saída da Europa, mas fugiu à pergunta: “Isto custa mil milhões de libras por mês e não se chega a lado absolutamente nenhum. Qual é o objetivo de mais atrasos?”, disse.

A decisão de Jo Johnson surge numa das semanas em que a novela do Brexit viveu episódios importantes no Parlamento, com o primeiro-ministro Boris Johnson a perder a maioria parlamentar; com a Câmara dos Comuns a fazer aprovar uma lei para adiar o Brexit até 31 de janeiro de 2020, que aguarda agora aprovação pela Câmara dos Lordes; e com o parlamento a rejeitar a proposta de Boris Johnson para o país realizar eleições antecipadas.

Jo Johnson, o mais novo dos quatro irmãos Johnson, chegou a fazer campanha contra o Brexit (e, portanto, contra o irmão), mas mudou de ideias — embora continuasse a defender que a saída não poderá acontecer sem uma acordo — e em julho deste ano foi nomeado por Boris para se sentar ao lado dele no Governo.

Jo Johnson: o benjamim do clã Johnson que fez campanha contra o Brexit e foi agora nomeado pelo irmão Boris

Antes, tinha passado por governos de David Cameron (como secretário de Estado no gabinete do primeiro-ministro) e de Theresa May, de que se viria a demitir em janeiro de 2018. Na altura, Boris Johnson elogiou o gesto do irmão, lembrando que os dois tinham discordado relativamente ao Brexit, mas estavam “unidos na indignação” contra o governo de Theresa May.

“Nem o irmão confia nele”, diz Partido Trabalhista

Angela Rayner, responsável do Partido Trabalhista pelas questões de educação (habitualmente referida como ministra sombra da Educação), reagiu à demissão de Jo Johnson assinalando que “Boris Johnson é uma ameaça tão grande que nem o seu próprio irmão confia nele”.

“Tivemos quatro secretários de Estado da educação em dois anos — o mais recente sinal do caos que os Tories causaram à educação e da ameaça que um desatroso Brexit sem acordo coloca aos nossos colégios e universidades”, disse Rayner, num comunicado emitido pelo Partido Trabalhista.

“Precisamos de eleições assim que a possibilidade de sair sem acordo estiver fora de questão, para que um governo trabalhista possa transformar o nosso sistema educativo e a nossa sociedade, para que possam trabalhar para todos, e não apenas para alguns privilegiados”, rematou a trabalhista.

Artigo atualizado às 22h00 com as declarações de Boris Johnson