A rua das Flores começou a ser construída em 1518 ao longo dos jardins do bispo D. Pedro da Costa, um grande devoto de Santa Catarina, daí o nome inicial ter sido rua de Santa Catarina das Flores. Durante o século XIX esta artéria da cidade foi ocupada por mercadores e ourives, tendo ficado mesmo conhecida como a rua do Ouro. Do lado em que o sol espreitava mais horas estavam as casas de joias, onde o ouro reluzia e chamava mais atenção, já do lado da sombra imperavam as lojas têxteis e principalmente os linhos nas montras, uma vez que o linho se danificava quando era exposto ao sol.

Nos anos 80 do século passado, a rua das Flores entrou em declínio, os edifícios históricos entraram em decadência, alguns mesmo em ruínas, e muitos moradores optaram por viver noutras zonas da cidade, longe da droga e dos assaltos. O cenário mudou graças à procura turística e ao interesse imobiliário. Hoje é uma das ruas mais movimentadas do Porto, repleta de negócios com direito a esplanadas e  a empregados poliglotas, turistas vindos dos quatro cantos do mundo e artistas de rua que juntam a música, a dança e o malabarismo em cada esquina.

É no número 27 desta rua que podemos encontrar a nova morada do grupo PortoBay, depois de em dezembro ter adquirido o Hotel Teatro, em Sá da Bandeira. O novo hotel de cinco estrelas PortoBay Flores tem 66 quartos, spa, piscina interior, ginásio, restaurante, bar com esplanada para a rua e um pátio com jardim. Na fachada saltam à vista as grandes portas de madeira, os janelões sobrepujados por frontões triangulares, as varandas em ferro forjado e as cantarias de pedra onde foram anexos brasões quinhentistas, elementos que marcam uma época e anunciam a presença de história de Portugal do espaço.

O hotel junta harmoniosamente o antigo e o contemporâneo, tendo 55 quartos num novo edifício construído de raiz e 11 num antigo palacete. Trata-se da Casa dos Maias ou Palácio dos Ferrazes, uma vez que a burguesia urbana da cidade escolhia esta rua para as suas residenciais, casas senhoriais cuja traça antiga foi mantida até hoje. “Os Ferrazes Bravo, por consórcio da família Ferraz com o também fidalgo Manuel Bravo, foram proprietários da casa até ao século XIX, altura em que foi adquirida por Domingos de Oliveira Maia. Foi construída ainda no século XVI pelo fidalgo Martim Ferraz, onde até então estavam as hortas do Bispo do Porto”, explica ao Observador António Trindade, Presidente e CEO do grupo Portobay.

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Também no interior viajamos no tempo e a transformação é clara, as antigas cavalariças do palacete deram agora lugar à entrada do hotel, num projeto assinado pelo arquiteto Samuel Torres de Carvalho que recuperou os seus principais elementos. Entre eles destacam-se a imponente escadaria, onde as lajes de granito originais com 500 anos, os azulejos, os motivos decorativos em pedra original e um antigo forno de cozinha que se encontra a meio do corredor que une o edifício do palacete e a ala nova do hotel.

A larga escadaria da entrada conta ainda com dois lanços laterais e um lanço central, num corrimão onde se apoiam seis colunas elevadas até os salões superiores. É aqui, nos salões recuperados da família Maia, que se encontra o restaurante do hotel e uma sala de reuniões cheia de luz natural, ambos com vista para o casario que se prolonga até ao Douro. Entre a ala nova e o palacete surge, nas traseiras, um pátio pavimentado em lajes de granito, onde mora “um dos segredos do Porto”, uma pequena capela barroca de meados do século XVIII da autoria do artista italiano Nicolau Nasoni, autor de emblemáticos trabalhos na cidade como a Torre dos Clérigos ou a igreja da Misericórdia, vizinha deste hotel. As obras duraram cerca e dois anos e meio e a decoração de interiores ficou a cargo de Catarina Cabral, que combinou o clássico do edifício com peças de design moderno.

Da alta gastronomia à medicina indiana

Na entrada do hotel, o Bar dos Maias, nome que homenageia a última família a habitar no edifício, oferece opções de cocktails e refeições ligeiras, num espaço com acesso direto à rua das flores. Varandas espaçosas e camas com dois metros de largura, assim é a maioria dos quartos do PortoBay Flores. Clássicos, superiores top floor, suites e suites duplex são as tipologias disponíveis, sendo que os 11 quartos distribuídos pelo palacete são, naturalmente, os mais clássicos, ainda que com apontamentos contemporâneos no mobiliário e no que toca a iluminação. “Aqui decidimos usar tecidos em tons terra, verdes secos e dourados”, revela a organização do hotel. Já na ala nova, o conceito de interiores é mais moderno e reinam “os tons entre azul petróleo, crus e beges”.

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O restaurante Bristô Flores está aberto ao público não hóspede, tanto ao almoço como ao jantar e ocupa os salões nobres do palacete, no primeiro andar. Na cozinha, o chef Nuno Miguel conjuga sabores portugueses com toques de alta gastronomia, num conceito que privilegia a simplicidade. A carta varia entre opções vegetarianas, de peixe, carne de origem protegida e queijos ou enchidos nacionais. Os pratos não têm mais que três ou quatro ingredientes e destacam-se a massada de peixe e marisco, o polvo assado com limão e tomilho, a barriga de leitão ou a carne DOP grelhada.

Como não há hotel sem spa, a área de relaxamento do PortoBay Flores liga-se à piscina interior aquecida com luz natural, onde também pode encontrar sauna, banho turco e ginásio. O Mandalay Spa é composto por três salas de tratamento especialistas em terapias oriundas do sudeste asiático e tratamentos baseados na medicina indiana e tailandesa. A esfoliação corporal à base de coco, o óleo de lótus para combater a celulite ou o sal dos Himalaias para desintoxicar são apenas alguns ingredientes que fazem milagres.