Depois de descer o rio Cuanza em caiaque, inscrevendo o feito no Guinness, o italo-britânico Óscar Scafidi vai continuar as suas aventuras pelos países lusófonos e prepara-se para escrever um guia sobre a Guiné-Bissau.

Em entrevista à Lusa durante a sua passagem por Luanda, para apresentar o livro “Kayak the Kuanza” e um guia de Angola para “viajantes independentes e intrépidos”, o escritor adiantou que já fez alguns contactos preliminares com as autoridades guineenses e espera poder lançar o livro em 2020.

“Estou muito interessado na África lusófona e quero escrever um livro sobre a Guiné-Bissau”, um país com um potencial imenso e ainda por descobrir, disse.

Scafidi foi pela primeira vez à Guiné Bissau em 2006 de jipe, numa viagem através da África ocidental que começou na Libéria. “Fiquei impressionado com a beleza natural daquele país”, recordou, salientando que, desde 2016, está a trabalhar com o Governo da Guiné Bissau para escrever um guia de viagem que espera concluir em 2020.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O aventureiro, de 34 anos, acredita também no potencial turístico de Angola e lançou em julho, pela Bradt, uma editora britânica de guias de viagem focada em lugares inexplorados, a terceira edição do livro que escreveu sobre este país.

“Angola tem imenso potencial, para diferentes tipos de turismo, desde o ecoturismo ao surf que é fantástico”, justificou, apontando ainda a existência de um grande número de espécies de aves, como outro foco de atração.

Durante esta semana, Oscar Scafidi participou em palestras em que relatou as suas aventuras, e encontrou-se também com responsáveis do Governo angolano do setor do Turismo.

O viajante nasceu em Roma, mas estudou no Reino Unido e viveu em Angola durante cinco anos, dando aulas de História e Filosofia na Escola Internacional de Luanda.

Óscar Scafidi desceu o rio Cuanza, o maior de Angola, com o amigo Alfie Western, em 2016, percorrendo um total de 1.300 quilómetros, dos quais 384 feitos a pé, em 32 dias e 12 horas que lhe valeu um recorde mundial.

A aventura durou pouco mais de um mês, mas exigiu uma longa preparação que começou nove meses antes.

Em Angola, Alfie fez o reconhecimento do Cuanza e mapeou os troços navegáveis, identificou áreas de evacuação em caso de emergência, contactou as autoridades governamentais e provinciais e preparou o caiaque, uma canoa da década de 1960, feita de madeira e tela, com cerca de 45 quilos.

Entretanto Óscar, em Londres, tratava da aquisição dos equipamentos, incluindo câmaras de filmar e material de campismo, e treinava no Tamisa, tendo também realizado um curso para melhorar a técnica de navegação e segurança nos ‘rápidos’.

Os dois amigos reuniram-se também com especialistas da National Geographic que lhes deram alguns conselhos sobre os riscos que iriam enfrentar, sobretudo os perigosos hipopótamos.

Mesmo assim não evitaram alguns ataques. Entre as muitas peripécias relatadas no livro “Kayak the Kwanza”, que Óscar escreveu com base no diário em que registava as suas impressões, houve também um quase naufrágio, em que os aventureiros iam perdendo o caiaque.

“Sentimos a vida em risco muitas vezes. Tentámos precaver muitos perigos antes da viagem, mas encontrámos outros inesperados. O pior foram os hipopótamos, que são muito agressivos, muito territoriais e matam imensa gente todos os anos”, relatou à Lusa.

Os exploradores debateram-se igualmente com a dificuldade de encontrar informação sobre a zona que iriam atravessar, pouco estudada e em algumas áreas quase totalmente despovoadas.

“Não sabíamos quantos hipopótamos existiam porque não há muitos estudos científicos e o que nos tinham dito era que, provavelmente, não existiam muitos, porque teriam morrido durante a guerra civil”, explicou.

Afinal a realidade foi bem diferente: “Avistámos centenas de hipopótamos durante a viagem, fomos atacados uma vez e perseguidos noutra”, disse Scafidi, que descreveu estes momentos como “os mais stressantes da viagem”.

Iam também preparados para alguns encontros indesejáveis com os garimpeiros de diamantes, mas a surpresa acabou por ser positiva.

“Foram extremamente amigáveis, deixaram-nos acampar com eles e deram-nos conselhos sobre as quedas de água que iríamos encontrar e qual o melhor caminho a seguir para evitar os hipopótamos”, contou Scafidi.

A aventura teve também objetivos beneméritos, já que parte dos fundos recolhidos com a venda dos livros destinam-se à Halo Foundation, uma organização não-governamental (ONG) que promove a desminagem em Angola.

Sem perder o gosto pelas aventuras, Óscar, que agora vive na Tunísia, quer lançar-se em breve um novo desafio: a descida do Mangoky, um rio com 565 quilómetros em Madagáscar, onde viveu nos últimos dois anos.

“É uma questão de conseguir preparar as coisas com o Alfie”, afirmou, explicando que o parceiro de aventuras está agora bem mais distante, a viver na Papua Nova-Guiné.