Um estudo publicado esta quinta-feira na revista científica Aging Cell sugere que é possível alterar o relógio epigenético — os marcadores que indicam a idade biológica, não a cronológica — e rejuvenescer as pessoas através de um cocktail de hormonas e medicamentos. Os cientistas administraram uma hormona de crescimento e dois medicamentos para os diabetes a nove voluntários saudáveis e descobriram que a idade biológica deles diminuiu, em média, dois anos e meio.

É o primeiro estudo a afirmar que é possível reverter o envelhecimento biológico, explica a Nature. Mas a comunidade científica já lhe está a torcer o nariz: a amostra usada para testar esta experiência é demasiado pequena e pouco diversificada e os resultados não foram comparados com os obtidos num grupo de controlo.

Pensemos em Cristiano Ronaldo, que entrou em campo este sábado para representar a seleção portuguesa de futebol no jogo de apuramento para o Euro 2020 frente à Sérvia. Em maio de 2018, questionado sobre se realmente se queria reformar apenas aos 41 anos, o avançado da Juventus respondeu: “Já disse que me vou retirar aos 41 anos? Bom, faltam muitos ainda. Tenho 23 anos de idade biológica nesta altura“, desvendou.

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O que significa isto? Que embora o futebolista português tenha 34 anos de idade cronológica, porque nasceu em fevereiro de 1985, uma análise às características genéticas de Cristiano Ronaldo revelaram que, biologicamente, parece pouco mais velho que um homem com a idade de Renato Sanches. À medida que o tempo passa, o ADN sofre alterações químicas que dependem, entre outras coisas, do ambiente e do estilo de vida. Cristiano Ronaldo só sofreu as alterações que normalmente se observam aos 23 anos.

Ora, durante este estudo, os cientistas ficaram atentos a essas alterações químicas, normalmente chamadas “biomarcadores”, porque julgavam que o relógio epigenético das cobaias iria desacelerar — isto é, que a idade biológica continuaria a aumentar à medida que a idade cronológica avançava, mas mais lentamente. Mas não foi isso que observaram: “Esperava ver a desaceleração do relógio, mas vi uma reversão. Foi algo um tanto futurista“, descreveu Steve Horvath, especialista em genética da Universidade da Califórnia, à Nature.

A hormona do crescimento administrada às nove cobaias, todas homens caucasianos com entre 51 e 65 anos, consegue recuperar o timo, glândula responsável pelo amadurecimento dos linfócitos T, um grupo de glóbulos brancos que determina a eficiência do sistema imunitário na luta contra infeções e contra o cancro. A seguir à puberdade, o timo começa a encolher e a cobrir-se de gordura. A hormona do crescimento pode regenerar a glândula, mas também causa problemas de diabetes, daí a administração de mais dois medicamentos.

Para estudar os resultados, os cientistas recolheram amostras de sangue dos nove homens. As análises mostraram que “a contagem de células sanguíneas foi rejuvenescida” em todos os participantes. E as ressonâncias magnéticas desvendavam que, em sete dos nove participantes, o timo tinha aumentado de tamanho enquanto a gordura à volta da glândula tinha encolhido. Mais: olhando para o ADN, os investigadores perceberam que as características químicas também se tinham alterado para um padrão mais semelhante ao de alguém mais novo.

Isto pode ser importante para melhorar o sistema imunitário de pessoas mais frágeis, como os idosos ou os pacientes com pneumonia e outras infeções. No entanto, são precisos mais estudos para chegar a conclusões sólidas. É que a amostra usada para testar esta experiência é demasiado pequena e pouco diversificada. E a investigação não tinha um grupo de controlo — um grupo de voluntários que não são expostos ao mesmo tratamento e que servem de meio de comparação.