Numa altura em que vivemos cada vez mais absorvidos pelas redes sociais, por aquilo que toda a gente, seja onde for, diz, escreve e publica na internet, as entrevistas ortodoxas e comuns aos jornais e à comunicação social tornaram-se ainda mais relevantes. Ainda que este paradigma seja algo contraditório – toda a gente está sempre a falar e diz coisas todos os dias, logo, aquilo que diz numa entrevista perde importância –, a verdade é que é fácil de explicar. Vivemos numa altura em que toda a gente solta frases e comentários a toda a hora, pequenas declarações, imagens, conteúdos de consumo rápido e duração limitada: o que quer dizer que uma entrevista, uma conversa entre duas ou mais pessoas, sentadas e frente a frente, com perguntas e respostas, é algo cada vez mais valorizado.

Tudo isto é aplicável ao mundo do futebol. Cristiano Ronaldo faz publicações no Instagram diariamente e há poucas semanas deu uma longa entrevista à TVI que se tornou relevante porque o jogador português raramente fala da forma que falou ali sentado, cara a cara com um interlocutor. O inglês The Guardian, no último ano, desdobrou-se em entrevistas que acabaram por revelar que muitos antigos jogadores da Premier League, ingleses ou não, passaram por problemas de depressão durante os melhores anos da carreira, entre Gary Neville e Emile Heskey – e nenhuma dessas confidências havia sido feita no Facebook, no Instagram ou em qualquer outra plataforma. Esta quinta-feira, é o jornal Sport que publica uma longa entrevista com Lionel Messi: que se torna, novamente, importante porque o argentino é especialmente reservado e contido em todas as declarações que faz.

Ao Sport, Messi garantiu que se sente “melhor” quanto à lesão muscular que sofreu antes do início oficial da temporada mas revelou que ainda não vai estar presente no próximo jogo, a contar para a liga espanhola, já este sábado com o Valencia – e que ainda não sabe se regressa aos relvados a meio da semana e para a Liga dos Campeões, com o Borussia Dortmund, ou só no fim de semana seguinte frente ao Granada. O capitão dos catalães explica que não está “preocupado” com o arranque de época da equipa (em três jogos, perderam um, empataram outro e só venceram uma vez) mas reconhece que é necessário “fazer o clique e mudar para fortalecer” o rendimento e “agarrar os jogos”. Depois de explicar que a eliminação nas meias-finais da Liga dos Campeões, às mãos do Liverpool, acabou por ditar uma reta final da temporada passada em que o Barcelona ainda perdeu a Taça do Rei, Messi defende que era importante para o clube voltar a ser campeão europeu mas que também é bom renovar o título de campeão nacional.

Sobre Neymar, de quem é amigo pessoal e com quem formou um trio ofensivo de luxo em Camp Nou (também na companhia de Suárez), o jogador argentino não esconde que teria ficado “encantado” se o brasileiro tivesse voltado a Barcelona. “Entendo as pessoas que estavam contra. E é normal por tudo aquilo que se tinha passado com o Ney, pela forma como se foi embora e como nos deixou. É normal e lógico que exista muita gente que não quer que ele volte, mas se pensarmos a nível desportivo, para mim o Neymar é um dos melhores do mundo e obviamente que a nossa equipa iria aumentar as possibilidades de conseguir os resultados que todos queremos. Como algo desportivo, teria ficado encantado se tivesse voltado”, explica Messi, que confidencia ainda que não sabe se o Barcelona “fez tudo o que era possível” para garantir a contratação do brasileiro.

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Messi e Neymar tornaram-se muito próximos durante o período em que o brasileiro esteve em Barcelona

“Não sei o que se passava na direção. Sei aquilo que falava com o Ney, aquilo que ele me contava. Tinha muita vontade de voltar. Não sei se o clube realmente queria ou não. Porque por aquilo que sei, o Ney tinha muita vontade. Também entendo que é muito difícil negociar com o PSG depois de todas as idas e voltas que têm com o Barcelona. E é difícil por ser um dos melhores. Nunca são fáceis estas negociações (…) Tinha gostado de que voltasse pelo que implicaria, não só a nível desportivo como também a nível de clube, pelo que significa a nível de patrocinadores, de imagem, de crescimento. O clube teria dado um salto também. Mas bem, não deu”, atirou o jogador de 32 anos, que revelou ainda que ainda não teve grande contacto com Griezmann porque tem treinado à margem do grupo e comentou também a situação de Dembélé, acusado várias vezes na temporada passada de ser pouco profissional, aconselhando o francês a “dar o salto”.

Além de garantir que “não manda” no Barcelona e de dizer que o antigo central Carles Puyol seria uma boa solução para o cargo de secretário técnico do clube (uma posição que já teve quatro ocupantes nos últimos anos), Lionel Messi falou ainda sobre o futuro da carreira e deixou o aviso de que quer integrar sempre um “projeto ganhador”. “Quero estar no Barcelona todo o tempo que puder, fazer toda a minha carreira porque esta é a minha casa. Mas também não quero ter um contrato longo e ficar aqui porque tenho um contrato, mas sim porque quero estar bem fisicamente, jogar e ser importante e ver que há um projeto vencedor. Quero continuar a ganhar coisas no clube, quero continuar a conseguir coisas importantes. Não tenho intenção de me mudar para lado nenhum mas quero continuar a competir e a ganhar”, sublinhou o avançado argentino.

Por fim, Messi também falou sobre Cristiano Ronaldo – e sobre o facto de o jogador português ter dito no Forum Grimaldi, durante a cerimónia de entrega dos prémios aos melhores jogadores da temporada passada, que aceitaria um convite para jantar com o argentino. “Não tenho problema nenhum. Sempre disse que não tenho nenhum problema com ele, só não somos amigos porque nunca dividimos um balneário. Sempre que nos vemos é em galas ou cerimónias de entrega de prémios. Não tenho problema nenhum. Aliás, a última gala foi a altura em que mais falámos e mais próximos estivemos. Não sei se vai haver jantar porque não sei se nos vamos cruzar, cada um vive no seu país e tem os seus compromissos. Mas se tiver de acontecer, não há problema nenhum”, concluiu o capitão do Barcelona.