O escritor húngaro Gyorgy Konrad, voz da dissidência durante o domínio de Moscovo no Bloco de Leste, morreu esta sexta-feira, aos 86 anos, em Budapeste, noticiou a agência MTI, citando a sua família.

Sobrevivente do Holocausto, durante a ocupação nazi da Hungria, na II Guerra Mundial, combatente pela democracia durante os anos de domínio comunista, controlado por Moscovo, opositor do governo de direita de Viktor Orban, no poder desde 2010, Konrad foi um dos escritores húngaros mais traduzidos e premiados internacionalmente, escreve o jornal The New York Times.

Foi o autor de obras de ficção como “The Case Worker”, “The City Builder”, “The Loser” e “A Fest in the Garden”, e de ensaios como “Antipolitics” e “The Invisible Voice: Meditations on Jewish Themes”, livros referenciados pelo jornal norte-americano e nunca publicados em Portugal, de acordo com os dados da Biblioteca Nacional.

Em “A Guest in My Own Country: A Hungarian Life” (“Um Convidado no Meu Próprio País: Uma Vida na Hungria”, em tradução livre), livro de memórias premiado em diversos países, Konrad recordou a infância no Holocausto e a revolução húngara, em 1956, contra a ditadura comunista.

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Durante os anos de domínio soviético, os seus livros estiveram proibidos na Hungria. Foi membro da oposição democrática e várias vezes preso pelas autoridades da ditadura.

A partir de 1989, durante a transição para a democracia, com a Perestroika e a abertura de fronteiras a ocidente, foi um dos promotores da aliança para a democracia, sendo considerado, como escreve a agência espanhola Efe, um dos intelectuais mais influentes dos primeiros anos de liberdade.

Entre 1997 e 2003, Konrad dirigiu a Academia das Artes de Berlim, depois de já ter presidido o Pen Club Internacional (1990-1993), promovendo a aproximação de instituições culturais de Leste e do Ocidente, após a queda do Muro de Berlim.

Foi distinguido com a Medalha Goethe e o Prémio Carlos Magno, na Alemanha, com o prémio Manès-Sperber, na Áustria, e o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, além de ter recebido os principais prémios no país de origem. Era uma das principais vozes na oposição ao governo de Viktor Orban.

O meu país está a parecer-se com as ditaduras pós-soviéticas da Ásia Central. Há já quem lhe chame ‘Orbanistão’”, escreveu num artigo no The New York Times, em 2012.