Whatever it takes, isto é, “faremos aquilo que for necessário” ficará na história como a frase mais icónica que saiu da boca de Mario Draghi, no auge da crise, em 2012. Nessa altura, o presidente do BCE referia-se a fazer tudo o que fosse necessário para salvaguardar a integridade da zona euro. Mas, agora que Draghi está de saída, a mesma expressão foi utilizada por Philip Lane, o novo economista-chefe da autoridade monetária, mas para se referir àquilo que o BCE está disposto a fazer para aproximar a taxa de inflação do objetivo.

Numa apresentação a investidores citada pelo Financial Times, numa altura em que vários membros do Conselho do BCE mostram ter dúvidas sobre as medidas anunciadas na semana passada, o irlandês Philip Lane afirma que “o Banco Central Europeu (BCE) irá fazer aquilo que for necessário para atingir o nosso objetivo de inflação”. Lane acrescentou que o empenho do BCE no cumprimento do seu mandato é “inabalável”.

Na nossa análise, se for necessário, podemos baixar a taxa de juro [dos depósitos] ainda mais e, com ela, a taxa de juro paga no mercado overnight“, disse Philip Lane.

O Banco Central Europeu anunciou na quinta-feira mais um corte da taxa de juro dos depósitos, em 10 pontos-base, para um valor ainda mais negativo (0,5%) e vai, também, ser reiniciado o plano de compras de dívida nos mercados, a um ritmo de 20 mil milhões por mês — uma iniciativa que não foi submetida a votação no conselho do BCE, que inclui membros que nos últimos dias manifestaram publicamente discordância em relação a esta proposta.

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As taxas de juro vão continuar nestes níveis, “ou mais baixos”, até que as expectativas de inflação “convirjam de forma robusta” com o objetivo do banco central, que é de “abaixo, mas perto de 2%”, indicou o BCE.

O BCE diz que as compras de dívida vão continuar “enquanto forem necessárias” para “reforçar o impacto acomodatício” das taxas de juro — além disso, indica-se que este novo programa de compras de dívida deverá terminar “pouco tempo antes de o BCE começar a subir as taxas de juro”.

Por outro lado, ao cortar a taxa de juro dos depósitos, como se previa, o BCE anunciou que vai introduzir um sistema segmentado, para tentar mitigar o impacto sobre os bancos desta decisão — o BCE diz que é para “apoiar a transmissão da política monetária”. Na prática, esta nova taxa de juro não será aplicada sobre todas as reservas que os bancos “estacionam” no BCE, mas só a partir de determinada fasquia.

Draghi volta a cortar as taxas de juro e relança “bazuca” sem votação no BCE