Onde é que o Brexit, as alterações climáticas, as crises migratórias e o impacto da tecnologia na sociedade estão relacionados com o design? Em tudo. O design tornou-se omnipresente nos nossos dias e isso é provado no programa da 1ª edição da Porto Design Biennale, que arranca esta quinta-feira e termina a 8 de dezembro.

O evento surge “na sequência da aposta cultural dos municípios do Porto e Matosinhos, onde o design é especialmente valorizado”, assim como a articulação entre instituições de ensino como a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto ou da Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, explica José Bártolo, curador geral da iniciativa. Depois da extinção do Centro Portugal de Design, em 2013, e da bienal Experimentadesign, em 2017, era necessário existir “um organismo público de dinamização e apoio a esta área”.

Segundo o curador e professor da ESAD, esta bienal centra-se numa triangulação entre academia, designers e indústria, cujo objetivo é contribuir para a promoção, divulgação e investimento do design português, criando, ao mesmo tempo, ligações internacionais e novos públicos. Do design digital ao industrial, do design de moda ao design gráfico, o programa conta com 20 curadores e 200 artistas nacionais e internacionais e inclui exposições, performances, conferências, debates, instalações e workshops. A proposta gira em redor do tema Post Millenium Tension, onde a premissa é “pensar o design nas tensões do novo milénio e refletir sobre a forma como ele interage com problemas concretos que afetam os nossos dias e o nosso futuro próximo”.

Ocupando dezenas de locais das cidades do Porto e Matosinhos, o calendário da bienal tem três eixos programáticos: Portugal Tense, centrado no design nacional do novo milénio; Design Forum, conflito entre o design e aspetos políticos, financeiras, tecnológicos e culturais; e Design and Democracy, focado entre o design e a política, são os três eixos programáticos.

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O design, dos millennials à indústria

Um dos grandes destaques vai para a exposição “Millennials — Design do Novo Milénio”, na Galeria Municipal do Porto, que reúne 20 projetos realizados por jovens nascidos nas décadas de 1980 e 1990. “É importante perceber como é que esta geração entende o design, como se interessa por ele, o que traz de novo, como se concretiza no mercado de trabalho e qual a sua intencionalidade.”

A relação da disciplina do design com o meio industrial também é abordada numa mostra onde, no Artes Mota Galiza, poderá encontrar uma seleção de objetos de vários fabricantes portugueses, como os sabonetes da Ach Brito/Claus Porto, os cadernos da Mishmash, os lápis da Viarco ou as torneiras Roriz, que contam a história do design industrial contemporâneo português.

A partir do arquivo Ephemera de José Pacheco Pereira, a exposição “Que Força é Essa” permite ver um espólio de cartazes artesanais únicos, recolhidos ao longo dos últimos sete anos, que foram utilizados em ações pacíficas de protesto e participação democrática em território nacional. Através deles é possível perceber a “dimensão política da tensão pós-milénio, as inquietações, interrogações e intensidades que a caracterizam”.

O evento ultrapassa as fronteiras e ocupa também o espaço público do Porto e Matosinhos, graças à instalação Hard Design, composta por uma pá e uma torre eólica, já Itália é o país convidado desta primeira edição da Porto Design Biennale, com direito três exposições próprias, que exploram os ícones históricos, a cultura de projeto e as expressões contemporâneas do design italiano.