Um júri popular considerou esta quinta-feira por unanimidade que Ana Julia Quezada é culpada de assassinar, com maldade (que segundo o código pena espanhol serve de agravante penal), Gabriel, o filho de oito anos do seu então parceiro, Angel Cruz.

Segundo o jornal El País, foram precisas 26 horas para os membros deste júri (sete mulheres e dois homens) alcançarem uma posição unânime sobre o crime ocorrido no passado dia 27 de fevereiro de 2018,  numa propriedade remota em Rodalquilar, Almería. Todos estes decisores foram mantidos em isolamento, incomunicáveis, entre uma pequena sala do Tribunal Provincial de Almeria e o hotel onde estavam alojados.

Segundo o diário espanhol estes jurados começaram as suas deliberações por volta das 13h26 da passada quarta-feira e as mesmas deram-se por concluídas por volta das quatro da tarde desta quinta-feira. Este momento deu por concluído um julgamento de sete dias que envolveu dezenas de testemunhas e especialistas que tentaram esclarecer aquilo que realmente aconteceu na morte que mais abalou o povo espanhol nos últimos tempos. Resta agora saber qual será a pena aplicada.

Ana Julia já tinha confessado o crime em 2018. Na altura, explicou que asfixiou Gabriel depois de uma discussão, quando o rapaz brincava com um machado. Contudo, na passada terça-feira, partilhou novos detalhes sobre aquele dia: relatou que a criança lhe chamou “negra” e que disse para voltar para o país de origem.

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Vi o Gabriel com um machado. Disse-lhe: ‘Larga isso, que ainda te magoas’. Começou a gritar: ‘Não mandas em mim, não és a minha mãe. És negra, feia e tens um nariz feio, não te quero com o meu pai. Quero que o meu pai se case com a minha mãe. Quero que voltes para o teu país’. Eu simplesmente tapei-lhe a boca, não o queria magoar. Só queria que se calasse. Não queria matar o rapaz”, declarou a mulher no tribunal de Almería, citada pelo El País.

Ana Julia explica ainda que não se lembra de certos pormenores e que tudo aconteceu muito rápido. “Só sei que pus uma mão na boca e no nariz (de Gabriel) para que parasse de dizer essas coisas. Não sei onde pus a outra, na nuca, na frente, na cara… Foram momentos muito rápidos, estava muito nervosa”, relatou.

E o testemunho continuou. A dominicana de 45 anos disse que ficou bastante nervosa quando viu que o rapaz de oito anos não respirava: “Quando o soltei, pus-lhe a mão no peito e vi que não respirava. E fiquei de pé, bloqueada”. Seguiram-se vários cigarros. Depois, Ana Julia cavou um buraco no jardim, onde escondeu o corpo. Duas semanas mais tarde, o corpo do rapaz foi encontrado no porta-bagagens do carro de Ana Julia. Estava coberto de lama, despido e enrolado num cobertor. A dominicana transportava o cadáver no carro com medo que alguém o encontrasse no poço onde primeiro o teria escondido ou no sítio onde o enterrou, segundo a confissão da passada terça-feira.