O mais antigo sobrevivente austríaco dos campos de concentração nazis, Marko Feingold, morreu na quinta-feira aos 106 anos, indicou esta sexta-feira a comunidade judaica de Viena (IKG).

Feingold sobreviveu a quatro “campos da morte” e, apesar da sua idade, ainda há um ano participava em conferências e falava nas escolas sobre a sua experiência, de acordo com declarações feitas à agência France-Presse.

Nascido a 28 de maio de 1913, como cidadão austro-húngaro, no território da atual Eslováquia, Marko Feingold fugiu após a anexação nazi da Áustria em 1938 para evitar a perseguição como judeu, mas foi preso pela Gestapo em Praga e deportado para Auschwitz em 1940.

“Disseram-me que tinha três meses de vida. Era verdade: ao fim de dois meses e meio estava prestes a sucumbir à exaustão quando por acaso fui enviado para Neuengamme“, um outro campo situado na Alemanha. Com o número 11.996, seria ainda transferido para Dachau e depois Buchenwald, onde o seu ofício de pedreiro lhe salva a vida.

Único sobrevivente da sua família, deixa Buchenwald, libertado pelos norte-americanos, em maio de 1945 e, impossibilitado de ir para Viena como desejava, estabelece-se em Salzburgo, onde presidiu à pequena comunidade judaica da cidade e viveu até à morte. Após a guerra e até 1947 organizou uma rede que permitiu a “100.000 judeus emigrarem para a Palestina” através de Itália.

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Mas Marko Feingold recusou deixar a Áustria, apesar das dificuldades encontradas quando regressou ao país, onde o antissemitismo estava ainda muito presente. “Era impossível encontrar emprego. Quem tivesse vindo dos campos era forçosamente um criminoso. Então tive de começar um negócio”, contou à AFP. Criou uma loja de roupa e prosperou.

A Áustria foi tardia em reconhecer o seu papel no Holocausto, mas desde o final da década de 1990 tem feito um significativo trabalho de memória e Marko Feingold foi alvo de honras oficiais no seu país.

O antigo chanceler austríaco conservador Sebastian Kurz considerou que Feingold tinha uma “personalidade incrivelmente impressionante” e que a sua experiência mostrava ser nossa “responsabilidade nunca esquecer as atrocidades nazis”.