Não é complicado apontar hoje um favoritismo teórico grande à Irlanda nos encontros com a Escócia, de tal forma que, no final do encontro entre Nova Zelândia e a África do Sul, aquilo que se falava era já da possibilidade de haver um cruzamento entre os africanos e os irlandeses, numa espécie de “jogo chamariz” dos quartos do Campeonato do Mundo – e com dezenas de partidas ainda por disputar na fase de grupos. Ainda assim, há sempre aquela esperança de que o conjunto liderado por Gregor Townsend, que no último Mundial foi afastado num jogo eletrizantes nos quartos frente à Austrália por 35-34, consiga dar uma outra réplica num dos duelos com mais história no râguebi. O que não aconteceu, bem pelo contrário.

Se é verdade que por exemplo a Escócia esteve uma década sem sofrer qualquer derrota contra a Irlanda (entre 1989 e 1999, com 11 vitórias e um empate), os últimos anos mudaram de forma mais acentuada esse cenário. Por exemplo, desde 2005 para cá a Irlanda tinha ganho 13 dos 18 jogos feitos diante dos escoceses entre Championship e particulares. E 2005 surge aqui como uma referência porque foi nesse ano que Rory Best se estreou pelos irlandeses. 14 anos depois, ainda está aí para as curvas.

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Capitão da equipa de Joe Schmidt com mais de 120 chamadas ao conjunto principal do país, Best continua a ser a referência de liderança na equipa. Uma referência, um exemplo e alguém com uma visão muito própria do que é ser a figura que tem de comandar todos os outros. “Parte do segredo em ser capitão tem a ver com o equilíbrio de gerir as coisas sem afetar nunca a tua preparação. Uma coisa que tenho vindo a perceber nos últimos tempos é que a melhor coisa de um capitão é jogar o melhor possível e dar o exemplo em campo. Poucos homens nasceram para inspirar apenas com as palavras, hoje a big thing é ser líder através das ações que temos – e algumas palavras certas, claro”, referiu antes deste Mundial.

Este é já o quarto Campeonato do Mundo de Rory Best na carreira. Mas este é especial porque, no final, irá terminar a carreira. E, aos 37 anos, quer acabar da melhor forma, dando o exemplo em campo para algo que a Irlanda nunca conseguiu alcançar: chegar às meias-finais, algo que falhou em 2011 ou 2015, com derrotas nos quartos com País de Gales e Argentina, respetivamente. Os primeiros sinais, esses, são prometedores: com uma defesa de betão, os ensaios de James Ryan, Rory Best e Tadhg Furlong (dois com conversão, de Johnny Sexton e Conor Murray) deram uma vantagem de 19-3 ao intervalo, contra um conjunto escocês que apontou apenas uma penalidade por Greig Laidlaw. No segundo tempo, com menos pontos de interesse, um ensaio de Andrew Conway e uma penalidade de Jack Carty fizeram o 27-3 final no segundo jogo do grupo A do Mundial, que tinha começado com a vitória da anfitriã Japão frente à Rússia por 30-10 na passada sexta-feira.