“Nós, patriotas, sabemos que precisamos de mais Nações Unidas, e não menos”. Foi desta maneira que Marcelo Rebelo de Sousa finalizou o seu discurso na 74.ª Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira.

O Presidente da República concluiu o discurso apelando, por diversas vezes, à união dos países e ao combate contra a xenofobia, o “isolacionismo” e as radicalidades. Numa clara alusão ao discurso feito também esta terça-feira pelo homólogo norte-americano, Donald Trump, o Presidente português pediu: “Não vamos repetir os mesmos erros de há 100 anos”, já em inglês, durante as suas últimas palavras.

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Há 100 anos, foi criado o primeiro projeto daquilo que seria a Organização das Nações Unidas. “Vale a pena recordar que há 100 anos nasceu a Liga das Nações. Uma iniciativa de um presidente americano, Woodrow Wilson, que viu o Congresso rejeitar a ratificação do Tratado com base em posições isolacionistas. Os Estados Unidos, que tinham sido o povo de arranque de uma nova ordem internacional, acabavam por não entrar na nova organização. Ao mesmo tempo a União das Repúblicas Soviéticas não queria integrar a Liga das Nações invocando razoes ideológicas”, relembrou o Presidente da República sobre o projeto embrionário da ONU. “A Liga das Nações nunca recuperou do não empenhamento dessas duas potências”, seguiu Marcelo, completando: “Sabemos onde foi parar o mundo. Precisamente 20 anos depois começava a Segunda Guerra Mundial”.

Num discurso de “vale a pena”, Marcelo Rebelo de Sousa continuou: “Vale a pena parar um minuto para retirar as lições desse passado próximo”. “Vale a pena pensar que tem sentido lutar por mais direitos internacionais para reger as relações entre povos e estados. Vale a pena lutar por organizações internacionais que ajudem problemas que são de todos, e não só de alguns estados. Vale a pena lutar por um papel político, e não apenas técnico, dessas organizações. Vale a pena lutar por uma visão multilateral de todos, a começar nos que se consideram mais poderosos, porque ninguém é uma ilha, ninguém consegue sozinho, ou com alguns aliados, enfrentar problemas globais”.

“Há que resistir à tentação de olhar para o nosso ego, o nosso poder”, continuou o Presidente, enfatizando que “somos um país migrante. Desde que nascemos, há nove séculos, que temos milhões de portugueses espalhados pelo mundo. Acolhemos o que nos chegam, combatendo xenofobias e intolerâncias. Consideramos prioritária a educação, consideramos que é preciso evitar a radicalização, o tráfico de seres humanos, e salvaguardar a paz e os direitos das pessoas e das comunidades”.

Marcelo continuou, entretanto, acrescentando perspetivas positivas sobre recentes decisões governamentais. “É favorável a preocupação com os oceanos. É favorável o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, e a sensibilidade de todos com o desafios ambientais. É favorável a nova esperança aberta entre a Grécia e a República da Macedónia do Norte. É favorável a janela, esperemos que se mantenha aberta, à desnuclearização da península coreana. É favorável a transição estável na República Democrática do Congo. E bem assim, algumas perspetivas mais promissoras na África Oriental”, finalizando esta parte do discurso a disponibilizar esforços para a organização da reunião de líderes entre a União Europeia e Africana, em 2021.

Por fim, apelou para que os países continuem “nesse mesmo caminho”. “Porque continuando nesse caminho seremos não só multilateralistas, mas também seremos verdadeiros patriotas das nossas próprias pátrias. Ser patriota é ter orgulho no passado, é ter orgulho nas raízes e na historia própria, mas é também ter a exata noção de que o mundo é como é, e que os outros tem direito a ter orgulho nas suas próprias pátrias”.

E que o mundo, onde não há ilhas, é fruto do diálogo, do encontro, da permanente conjugação entre o espírito patriótico de todos e de cada um de nós”, finalizou Marcelo a porção do discurso em português, que finalizou na língua oficial das Nações Unidas, em inglês, a dizer que “somos todos patriotas, porque amamos a nossa terra natal e a nossa história, e sempre desejamos o melhor para o nosso presente e para o nosso futuro”. Enfatizou ainda que “o melhor não é a ignorar o mundo em que vivemos e de como dependemos de tantos outros. Nós, patriotas, sabemos que precisamos de mais Nações Unidas, e não menos”, finalizando assim o discurso.

Ainda esta terça-feira, os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, dos Estados Unidos, Donald Trump, e da França, Emmanuel Macron, entre outros, também discursaram. O tema do debate geral da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas é “Esforços multilaterais para a erradicação da pobreza, educação de qualidade, ação climática e inclusão”.