O evento prometia ser um “encontro de gerações” e não fugiu ao guião. Se havia uma criança de três anos a agitar uma bandeira do CDS, também havia na sala Margarida Barros, militante com 103 anos, que — como Assunção Cristas registou — “estava a dançar” ao som dos gritos de “CDS, CDS, CDS“. A satisfação da plateia começou ainda antes das palavras, do presunto ao rosé, passando pela maçã bravo-esmolfe, naquela que foi também uma mostra de militância do CDS. Das bases ao topo: do “Zé Carneiro” que apanha cerejas para Hélder Amaral levar para o grupo parlamentar até a um ex-governante. No hotel Grão Vasco, em Viseu, os três principais discursos da noite ficaram a cargo de uma troika (Mota Soares, Hélder Amaral e Assunção Cristas) que avisou que a escolha é entre o CDS e a esquerda radical. E denunciaram aquilo a que Cristas chamou de “telenovela que estamos a assistir e que muito preocupa: o estado do país”.
Mota Soares abriu as hostilidades e quis dar aquilo que definiu como “boost de alma” para uma campanha que admitiu que “vai ser difícil”. Deixou o aviso de que, para existir, o CDS “teve de lutar muito mais do que os outros” e advertiu: “A nós nada nos é dado. A nós, ninguém nos leva ao colo.” Abordando um dos assuntos do dia — o alegado envolvimento de Marcelo Rebelo de Sousa no caso de Tancos — Mota Soares alertou que “há alguns à esquerda que querem pôr em causa o Presidente da República” e transformá-lo “numa espécie de Rainha de Inglaterra”.
No apelo à não desmobilização, alertou que “à direita, ninguém pode ficar em casa” e disse ainda que, em Viseu, a escolha é entre o centrista Helder Amaral e “uma deputada do Bloco de Esquerda.” Lembrou que um dos problemas de Viseu é a falta de água, que é preciso uma barragem capaz, e que o CDS a defende, ao contrário de quem “é contra as barragens porque evaporam a água“. Uma farpa que tinha como alvo a bloquista Catarina Martins.
Pedro Mota Soares comentou ainda — na mesma lógica de ataque à esquerda — que atualmente “parece que voltámos ao PREC“. E foi aí, onde o CDS acredita que os extremos (o direito e o esquerdo) se tocam (na estatização) que Assunção voltou a reiterar o que tinha dito de manhã, que o modelo que o governo PS impôs para a Casa do Douro é típico do “Estado Novo, autoritário, que não deixava cada um fazer por si“, num “modelo obrigatório, corporativo, estatizante, que não acredita nas pessoas”.
Assunção Cristas disse ainda no seu discurso que “o objetivo número um do CDS é acabar com o pobreza, mas acaba-se com a pobreza com educação e com economia. Uma não existe sem a outra”. E nem Cuba escapou. Com a líder do CDS a lembrar os países com “populações muito instruídas, que muitas vezes não dá em bem-estar para a população“. Assunção Cristas denunciou também a “injustiça social” que é só terem acesso a um serviço melhor do privado aqueles que têm capacidade económica.
Depois da ideologia, e aproveitando estar no interior, Cristas repetiu três das oito principais medidas do pacote fiscal que o CDS tem para o interior ao encontro dos anseios de uma sala com cerca de 150 apoiantes: “Metade do IRS a quem vive no interior, 10% de IRC para empresas do interior, sejam pequenas ou grandes, e descontos nas portagens”. E voltou a puxar Elisa Ferreira para a conversa: “Como há uma comissária portuguesa das reformas, pode dar uma ajuda a explicar em Bruxelas o que é o interior”.
Antes de Cristas, tinha falado Hélder Amaral que disse não ligar a sondagens e que tem “uma fé enorme no CDS“. Deixou ainda um pedido à plateia: “Apaixonem-se pelo CDS”.
O deputado eleito pelo distrito lembrou que o PS “prometeu um conjunto de obras” que o CDS apoiou, mas que nada foi feito, dando os exemplos do IP3, IC26, a ligação Viseu-Sátão ou o centro oncológico. Sportinguista ferrenho, e comentador televisivo a defender as cores do clube de Alvalade, Hélder Amaral vê leões em todo lado. Durante o discurso, o deputado centrista utilizou a típica dicotomia entre o lobo e as ovelhas para enaltecer qualidades de liderança de Cristas, mas fez uma alteração a gosto: “Prefiro um leão a comandar um rebanho de ovelhas, que uma ovelha a comandar um rebanho de leões. Assunção Cristas é um leão.”