A empresa do Alqueva alertou esta sexta-feira para a obrigatória desinfeção de embarcações antes de entrarem na água para evitar a chegada do mexilhão-zebra às albufeiras do empreendimento, “uma das espécies exóticas invasoras mais prejudiciais do planeta”.

A transferência de exemplares e larvas de mexilhões-zebra entre bacias hidrográficas e albufeiras faz-se “principalmente” através de embarcações que navegam em águas onde a espécie existe, explicou à agência Lusa David Catita, do departamento de ambiente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).

O mexilhão-zebra já existe em três bacias hidrográficas de Espanha, nomeadamente na do rio Guadalquivir, que pega com a do rio Guadiana, e é muito fácil passar de uma para a outra”, através de embarcações, alertou.

Segundo David Catita, “há muitas embarcações que navegam em Espanha e Portugal e há o risco de o mexilhão-zebra chegar a Portugal, nomeadamente à bacia do Guadiana e à albufeira do Alqueva”.

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“Basta que passe da bacia do Guadalquivir para a do Guadiana para entrar na albufeira do Alqueva” e desta passar para as restantes albufeiras e reservatórios do empreendimento, frisou.

O Alqueva tem 69 massas de água, entre albufeiras e reservatórios, e “a EDIA está a monitorizar 18 albufeiras que são pontos-chave” e nas quais ainda não foi detetada a presença da espécie, disse.

É preciso evitar a chegada de mexilhão-zebra” às albufeiras do Alqueva, porque, “uma vez presente, a erradicação é virtualmente impossível”, já que “o produto que o mata, que é americano, não está homologado, nem pode ser usado na Europa”, frisou.

Como tal, alertou, a desinfeção das embarcações antes de entrarem na água é “obrigatória” para evitar a chegada às albufeiras do Alqueva do mexilhão-zebra, “uma das espécies exóticas invasoras mais prejudiciais do planeta e uma ameaça ambiental e económica”, que pode “gerar prejuízos de grande monta”.

Segundo David Catita, em Espanha, entre 2001, quando o mexilhão-zebra apareceu na bacia do rio Ebro, e este ano, já se gastaram “1.600 milhões de euros” para fazer face a prejuízos causados pela espécie, que também já existe nas bacias dos rios Júcar e Guadalquivir.

A EDIA, “consciente desta ameaça e do risco eminente de entrada da espécie em Portugal” e sob o mote “Não dê boleia ao mexilhão-zebra”, tem vindo a promover a desinfeção de embarcações e a alertar os utilizadores das albufeiras do Alqueva para o fazerem, disse.

Neste sentido, a EDIA, no âmbito do programa “Life Invasep – Luta contra as espécies invasoras nas bacias hidrográficas dos rios Tejo e Guadiana na península ibérica”, comprou duas estações móveis de desinfeção de embarcações, que estão à disposição dos utilizadores das albufeiras do Alqueva para serem usadas de forma gratuita.

Por outro lado, a EDIA colocou nas principais entradas na albufeira do Alqueva placards informativos nos quais é referido que a desinfeção de embarcações que venham de outras bacias hidrográficas é obrigatória antes de entrarem na água.

Nos placards também consta o número de telefone para o qual se pode ligar para solicitar à EDIA a desinfeção gratuita de embarcações através das estações móveis.

As estações são móveis e transportadas pela EDIA num veículo para onde for necessário”, nomeadamente para as zonas de entrada de embarcações na albufeira do Alqueva e onde se realizem competições ou outras atividades com embarcações, explicou.

Cada estação é composta por um equipamento que tem água a alta pressão e a alta temperatura e à qual é adicionado um desinfetante e que permite desinfetar as zonas das embarcações e respetivos atrelados que estão em contacto com a água.

Segundo a EDIA, o mexilhão-zebra é um pequeno molusco bivalve de água doce ou salobra, do tamanho de uma moeda de cinco cêntimos de euro e originário dos mares Negro e Cáspio.

O mexilhão-zebra é “uma séria ameaça ambiental” e “também económica” e não tem predadores naturais nos novos habitats de água doce que coloniza, o que potencia a sua proliferação.

Em termos de impactos ambientais, a espécie provoca “alterações generalizadas dos ecossistemas aquáticos”, porque “a ação massiva de filtragem causa a diminuição do fitoplâncton e piora a qualidade da água, levando a perdas de biodiversidade em geral”.

A nível económico, a espécie provoca “limitações ou perdas de eficiência no uso da água”, já que bloqueia completamente condutas, “inutilizando bombas e outros equipamentos hidráulicos”.