Durante muitos anos, a rivalidade entre Manchester United e Arsenal foi uma das maiores do futebol inglês e europeu. Mesmo não partilhando uma cidade, os dois clubes viviam entre si uma competitividade acima da média, levada ao expoente pelos treinadores: Alex Ferguson de um lado, Arsène Wenger do outro. A manutenção do escocês e do francês nos respetivos comandos técnicos ao longo de inúmeras temporadas ajudou a engrossar a rivalidade entre os dois clubes, já que o confronto entre Manchester United e Arsenal era tido como prioridade máxima pelos dois treinadores.

Os anos passaram, Alex Ferguson deixou o Manchester United, Arsène Wenger deixou o Arsenal. Mais do que isso, tanto um como outro clube deixaram de lutar diretamente e sucessivamente pela conquista da Premier League, facto que tirou fôlego, gás e preponderância aos encontros entre red devils e gunners. Esta segunda-feira, Ole Gunnar Solskjaer e Unai Emery eram os protagonistas de mais um jogo entre Manchester United e Arsenal, num início de temporada em que as posições na tabela de ambas as equipas deixavam desde já antever que, tal como tem acontecido nos últimos anos, a partida teria menos emoção do que aquilo a que as primeiras épocas do novo milénio nos habituaram. À entrada para o último compromisso da sétima jornada da liga inglesa, o Manchester United era 11.º, a 13 pontos do líder Liverpool, e o Arsenal era oitavo, a dez pontos dos reds.

Ainda assim, o jogo ganhou ao longo da última semana um novo boost de interesse: motivado, como não poderia deixar de ser, por um dos dois protagonistas de outros tempos. Wenger, que não voltou a treinar desde que deixou o Arsenal em 2018, depois de 22 anos no comando técnico do clube londrino, já assumiu que quer regressar aos bancos em breve e que não pretende reformar-se para já e parece ter decidido que o desafio predileto é, curiosamente e ironicamente, o Manchester United. “Treinar o Manchester United é um trabalho de sonho para qualquer treinador. Pelo menos, para qualquer treinador com coragem e confiança. Tenho coragem, tenho confiança e sim, tenho ideias. Eles precisam, na minha opinião, de quatro jogadores de primeira equipa. Mas, apesar disso, vejo uma equipa que é capaz de ser competitiva”, defendeu o francês na beIN Sports, onde é agora comentador.

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E se Old Trafford já foi uma autêntica fortaleza para o Manchester United, a verdade é que os red devils não conseguiram ganhar três dos últimos seis jogos em casa; contudo, e numa rápida retrospetiva histórica, o Arsenal não ganhava em Old Trafford desde 2006, há 13 anos. Mas antes ainda do final da partida, Unai Emery já garantia que entrava para os livros de memórias do clube londrino ao lançar o avançado Bukayo Saka, de apenas 18 anos, que se tornava o jogador mais novo a atuar em encontros entre os dois clubes. O técnico espanhol deixava Ceballos no banco e colocava Lucas Torreira no meio-campo, numa tentativa de segurar Pogba, e Solskjaer tinha Ashley Young e Tuanzebe nas laterais da defesa, face às lesões de Wan-Bissaka e Luke Shaw.

Numa primeira parte totalmente atípica, em que por momentos o futebol inglês parecia ter deixado órfãos Manchester United e Arsenal, as duas equipas demoraram 27 minutos a fazer o primeiro remate e jogaram quase sem balizas ao longo de 45 minutos muito físicos e divididos a meio-campo, com várias entradas muito duras. A primeira oportunidade apareceu já à beira da meia-hora, através de uma jogada individual de Pereira que acabou com um remate à figura de Leno (29′), e o Arsenal só conseguiu responder na mesma moeda perto do intervalo: num contra-ataque rápido, depois de um canto na própria grande área, os gunners lançaram-se em velocidade e beneficiaram de um erro de Pereira, que deixou a bola fugir para Saka. O jovem avançado rematou, De Gea defendeu para o lado, Guendouzi ainda foi a tempo da recarga mas o guarda-redes espanhol voltou a evitar o primeiro golo do jogo (44′).

E em dois minutos, como se de um milagre se tratasse, o tal futebol inglês caótico e ligado à ficha que estava a escassear apareceu em dose dupla. Depois da enorme oportunidade de Saka e Guendouzi, o Manchester United atirou-se para uma transição rápida, Daniel James conduziu ao longo do corredor direito e tentou descobrir Rashford ao segundo poste; o inglês não chegou a tempo mas assistiu McTominay, que à entrada da área e depois de ter tempo para dominar e levantar a cabeça atirou certeiro para a baliza do Arsenal (45′). Na ida para o intervalo, a equipa de Solskjaer estava a ganhar graças a um rasgo do médio escocês de 22 anos depois de uma primeira parte onde só se aproveitaram os dois últimos minutos.

Na segunda parte, Unai Emery lançou Ceballos no lugar de Lucas Torreira para tentar oferecer algum dinamismo e criatividade ao meio-campo londrino. O Arsenal acabou por conseguir chegar ao empate por intermédio de Aubameyang, que marcou na primeira oportunidade de que beneficiou, ao aproveitar um erro crasso da defesa adversária para picar a bola à saída de De Gea (58′). Ao contrário daquilo que seria de esperar, face à debilidade emocional que a equipa tem demonstrado nas últimas jornadas, o Manchester United subiu de rendimento depois do golo sofrido e podia ter reposto a vantagem em duas ocasiões, primeiro com um remate de Pogba ao lado (64′) e depois com um cabeceamento de McTominay por cima na sequência de um canto (70′).

Até ao final, Solskjaer ainda lançou Mason Greenwood e Fred e Emery colocou em campo Reiss-Nelson e Willock mas o resultado não se alterou: o Manchester United voltou a não conseguir ganhar em casa, o Arsenal voltou a não conseguir ganhar em Old Trafford. E quando Scott McTominay nasceu, em 1996, Alex Ferguson já era treinador do Manchester United há uma década. E quando Scott McTominay se estreou pela equipa principal do Manchester United, em maio de 2017 e pela mão de José Mourinho, Alex Ferguson já não era treinador da equipa há quatro anos. Contudo, estão ligados intrinsecamente: o jovem médio nasceu em Inglaterra, tem ascendência escocesa do lado paterno e escolheu representar a seleção da Escócia, em parte, por interferência de Ferguson, que aconselhou o jogador. Esta segunda-feira, com o sir na bancada de Old Trafford, McTominay marcou o golo que podia ter valido a vitória do Manchester United perante o Arsenal mas acabou por não conseguir oferecer a Alex Ferguson um dos resultados que mais prazer lhe dava enquanto treinador dos red devils.