Especialistas e doentes uniram-se para alertar para o “investimento desigual” no tratamento da obesidade, considerando que “pouco é feito” pela maioria dos casos e pelos doentes que esperam pela cirurgia.

A Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e a ADEXO – Associação de Doentes Obesos e Ex-obesos de Portugal alertam ainda para as dificuldades de acesso ao tratamento farmacológicos, defendendo que poderia beneficiar tantos os casos menos graves como os que que têm obesidade mórbida que estão em lista de espera para a cirurgia bariátrica.

As duas entidades têm vindo a alertar para este problema, mas como pouco tem sido feito decidiram reiterar este apelo no mês em que se assinala o Dia Mundial da Obesidade, 11 de outubro.

“Achámos que o Dia Mundial da Obesidade seria uma boa altura para voltar a falar no problema” porque “muitas vezes é nesses dias que as pessoas tomam consciência dos problemas, mas eles existem todos os dias”, disse hoje à agência Lusa a presidente da SPEO, Paula Freitas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A endocrinologista observou que a obesidade tem vindo a aumentar em Portugal, como em todos os países, existindo estratégias implementadas para “as grandes obesidades” que requerem intervenção cirúrgica, mas as pessoas que ainda não necessitam deste tipo de intervenção “muitas vezes não têm acessibilidade aos medicamentos.

“O tratamento assenta sempre na dieta e na modificação do estilo de vida, mas os fármacos também são importantes”. Contudo, uma “grande percentagem de pessoas” não tem acesso aos medicamentos, nomeadamente as classes desfavorecidas, onde a prevalência da obesidade é maior.

Para estas pessoas, é “praticamente impossível” aceder aos três fármacos aprovados para a obesidade na Europa, que não são comparticipados e custam entre os 80 e os 257 euros.

“O investimento no tratamento da obesidade ainda é muito desigual, pois quem tem indicação para cirurgia tem a ajuda do Estado para se tratar, mas as pessoas com obesidade sem indicação para a cirurgia têm de pagar do seu bolso 100% do valor do tratamento farmacológico”, sublinhou Paula Freitas.

A especialista adiantou que a obesidade está associada a mais de 200 doenças, como diabetes, dislipidemia, doenças cardiovasculares, e a 13 tipos de cancro, o que tem um grande impacto económico na sociedade, com custos diretos e indiretos, como “o absentismo laboral, as baixas por depressão, que fazem com que as pessoas sejam muito menos produtivas e tenham muito menor qualidade de vida”.

“Neste momento, andamos como que a correr atrás do prejuízo. Ou seja, eu não trato os doentes com obesidade, mas daqui a uns anos vou tratar” as outras doenças, disse, defendendo que se houvesse uma “intervenção mais precoce” provavelmente muitas pessoas não iriam desenvolver estas doenças e iria poupar-se a longo prazo, disse, anunciando que a SPEO pretende realizar nos próximos três anos um estudo para avaliar o impacto económico da obesidade.

O presidente da Adexo, Carlos Oliveira, também considerou que “ainda há muito que pode ser feito pelas mais de 2000 pessoas com obesidade a aguardar pela cirurgia de obesidade”.

“Além de aumentar o número de cirurgias realizadas por hospital, de forma a reduzir os tempos de espera, que atualmente rondam os oito meses, também o acesso ao tratamento farmacológico antes da cirurgia poderia beneficiar não só a saúde, como a motivação dos doentes, que devem iniciar o seu processo de tratamento o quanto antes”, defendeu Carlos Oliveira

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, há 1,4 milhões de pessoas obesas em Portugal.