Na antevisão do jogo entre o Lokomotiv Moscovo e o Atl. Madrid, a contar para a segunda jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, o jornal Marca escolheu o português João Mário para comentar o encontro entre russos e espanhóis. Por ter sido um dos reforços mais sonantes do clube da capital da Rússia durante o verão, por ter sido titular nos últimos quatro jogos (e vitórias) da equipa e ainda, precisamente, por ser português. Português tal como João Félix, atual nome maior do Atl. Madrid que concentra em si grande parte das esperanças colchoneras para esta temporada.

Na entrevista ao desportivo espanhol, o antigo jogador do Sporting não só falou pelo bom momento que vive atualmente no Lokomotiv — onde encontrou estabilidade depois de períodos pouco positivos tanto no Inter Milão como no West Ham — como ainda teve tempo para opinar sobre João Félix (e o valor da transferência de João Félix). “Ele tem de esquecer o que pagaram por ele, tem de perceber que mostrou um nível bom o suficiente para que o Atl. Madrid investisse nele. O valor que os clubes acordaram é algo entre os clubes, não tem a ver com ele. Só tem 19 anos e com tempo e paciência, vai provar o talento que tem. Claro que vai triunfar. É um jogador muito especial, com muita qualidade, mas as pessoas têm de ter paciência. Não podemos pensar que o João vai explodir nos primeiros meses, precisa de tempo”, disse João Mário, num comentário que poderia ter sido enviado diretamente para todos aqueles que ao longo da última semana, depois das exibições menos conseguidas que o internacional português teve contra o Celta Vigo e o Real Madrid, se apressaram a afirmar que Félix é um flop.

Esta terça-feira, Diego Simeone lançava o jogador português mais tombado na direita, a procurar terrenos interiores e a atuar nas costas de Diego Costa e Morata. Face ao dérbi do fim de semana com o Real Madrid, o Atl. Madrid só mudava o lateral direito, onde aparecia agora o ex-Sporting Santiago Arias no lugar de Trippier (Herrera começava no banco, Felipe era titular no eixo defensivo). Do outro lado, João Mário integrava o onze inicial do Lokomotiv e Éder começava a partida na condição de suplente. Nas contas do Grupo D, os russos eram líderes à entrada para esta jornada, já que venceram o Bayer Leverkusen na Alemanha há duas semanas, e os espanhóis estavam empatados com a Juventus, ambos com um ponto, depois de terem empatado no Wanda Metropolitano.

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No confronto entre duas equipas que não têm normalmente grandes percentagens de posse de bola, o Atl. Madrid dominou os primeiros 20 minutos da partida e encostou o Lokomotiv à própria baliza. Além da presença de João Félix na segunda linha ofensiva, logo atrás dois homens mais adiantados, os espanhóis tinham bem montada a primeira fase de pressão, através de Partey e Koke, e anulavam rapidamente as tentativas de contra-ataque do Lokomotiv, que só conseguia sair do próprio meio-campo em transição rápida e a apostar na velocidade. Apesar da autêntica asfixia que provocou aos russos nos instantes iniciais do encontro, a verdade é que os espanhóis só conseguiram criar uma verdadeira oportunidade de golo: depois de um canto batido na direita, João Félix desviou ao primeiro poste e Diego Costa surgiu ao segundo a rematar de forma inexplicável por cima da baliza deserta (19′).

João Mário foi titular no Lokomotiv Moscovo

O falhanço inacreditável do avançado espanhol e uma quase oportunidade de Smolov, depois de uma boa abertura de João Mário no corredor esquerdo, abriram espaço a um período de cinco minutos em que o Lokomotiv conseguiu empurrar o Atl. Madrid para trás da linha do meio-campo e jogar de forma apoiada perto da grande área de Oblak. Essa fase escassa, porém, foi rapidamente anulada pela equipa orientada por Simeone, que voltou a colocar Felipe e Giménez a atuar no meio-campo adversário e obrigou os russos a juntar novamente as linhas, a aproximar os setores e a recuar o bloco. Nos últimos minutos da primeira parte, o Atl. Madrid criou uma segunda oportunidade, com Morata a forçar Guilherme a uma defesa apertada depois de solicitado de calcanhar por Koke, lançado por um grande passe de Partey (38′). Na ida para o intervalo, os espanhóis estavam muito por cima do jogo, tinham as únicas ocasiões claras de golo e Oblak ainda não tinha tido intervenções de relevo; ainda assim, não tinham marcado. E quanto mais tempo passava em Moscovo, mais o Lokomotiv estava satisfeito com o resultado indicado pelo marcador.

As duas equipas voltaram para a segunda parte sem alterações e o Atl. Madrid voltou a tomar conta das ocorrências, colocando novamente a primeira fase de construção logo na zona do meio-campo. Com jogadores muito móveis no setor intermédio, a equipa de Simeone não precisou de mais do que três minutos para conseguir fazer aquilo que tinha falhado no primeiro tempo: marcar um golo. Morata recebeu tombado na direita e serviu João Félix à entrada da área, que dominou em velocidade e atirou para a defesa de Guilherme, acabando por inaugurar o marcador na recarga (48′). O internacional português estreou-se a marcar na Liga dos Campeões, tornou-se o marcador mais novo da história dos colchoneros na liga milionária, desbloqueou uma partida que podia complicar-se para o Atl. Madrid e juntou um carimbo importante ao processo fulcral de acumulação de confiança que ainda atravessa.

O conjunto orientado por Simeone não desceu no relvado depois do golo mas juntou os setores, criando uma espécie de efeito acórdeão em que a equipa se tornava compacta quando o Lokomotiv tinha a bola e se alongava no terreno quando recuperava a posse. Enquanto os russos tinham muitas dificuldades para chegar com perigo e de forma organizada à baliza de Oblak, o Atl. Madrid acabou por conseguir alcançar o segundo golo, precisamente através de uma transição rápida em que a equipa se desmontou assim que recuperou a bola no próprio meio-campo. João Félix conduziu, descobriu Morata na direita com um grande passe e o avançado espanhol fez o típico passe de morte, nas costas da defesa, deixando a Partey a simples função de encostar para a baliza deserta à saída de Guilherme (58′).

A vantagem de dois golos levou o Atl. Madrid, de forma algo compreensível, a ficar confortável na partida e a tirar o pé do acelerador, relaxando dinâmicas e reduzindo a intensidade da pressão. Os espanhóis ainda viram Oblak evitar o golo de Krychowiak com duas grandes defesas (73′), Éder entrou nos últimos dez minutos mas o Lokomotiv acabou mesmo por perder em casa com a equipa de Simeone. João Mário pediu paciência para João Félix mas o jogador de 19 anos não precisa dessa virtude: estreou-se a marcar na Liga dos Campeões, criou o segundo golo quase de raiz e demonstrou que, tal como funcionou com Diego Costa na pré-época, também funciona bem nas costas de Morata.  João, o virtuoso, não precisa de mais virtudes.