A Amnistia Internacional (AI) acusou na terça-feira a Arábia Saudita de continuar a impedir a monitorização do caso relacionado com o assassínio do dissidente saudita Jamal Khashoggi e considera que o atual processo carece de transparência.

“Até ao momento, também não existe qualquer informação sobre a forma como a investigação foi realizada e se os suspeitos tiveram acesso adequado a advogados. Desconhece-se ainda se os restos mortais de Khashoggi foram ou não entregues à família”, indica, em comunicado, a ONG de defesa de direitos humanos no primeiro aniversário da morte do jornalista saudita.

O julgamento de 11 suspeitos do assassínio do jornalista e dissidente de nacionalidade saudita iniciou-se em janeiro de 2019, mas as sessões estão vedadas ao público e todo o processo carece de transparência. “As autoridades sauditas não permitiram a monitorização independente do caso e cinco pessoas enfrentam a pena de morte, a pedido da acusação”, prossegue o comunicado.

A AI recorda as recentes declarações do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, que em 30 de setembro negou ter ordenado o homicídio, mas admitiu responsabilidades na morte de Khashoggi “porque aconteceu” sob “a sua administração”.

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“A responsabilidade de Mohamed bin Salman pela morte de Jamal Khashoggi será apenas mais um golpe fracassado de relações públicas se não for seguido por ações significativas, concretas e imediatas”, afirma a diretora de investigação da Amnistia Internacional no Médio Oriente, Lynn Maalouf.

“Isso deve incluir o fim imediato da repressão e a libertação de todos os defensores dos direitos humanos, por um lado, e o acesso rápido e sem limitações de monitores independentes de direitos humanos no país, inclusivamente para observar e monitorizar o julgamento”, prosseguiu.

A 2 de outubro de 2018, o jornalista saudita Jamal Khashoggi, radicado nos Estados Unidos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, para tratar de documentos necessários para o casamento com uma cidadã turca. O jornalista não voltou a sair do consulado, onde foi morto por agentes sauditas provenientes de Riade, e que regressaram à Arábia Saudita logo após o assassínio.

O julgamento de 11 suspeitos pelo assassínio começou no início de janeiro, na Arábia Saudita, e o procurador-geral solicitou a pena de morte para cinco deles. Até ao momento ninguém foi condenado.

Em junho, a ONU publicou um relatório que responsabiliza diretamente Mohammed bin Salman e pediu mais sanções internacionais contra a monarquia saudita e o prosseguimento das investigações sob os auspícios do organismo internacional.

A AI reitera ainda no comunicado que a Arábia Saudita continua a reprimir os cidadãos do país e enumera diversos casos recentes, incluindo os “pelo menos 30 prisioneiros de consciência” que cumprem penas de prisão de cinco a 30 anos por exercerem pacificamente os seus direitos à liberdade de expressão, associação e reunião.

A ONG de direitos humanos indica que a pena de morte “foi usada como arma política contra a minoria xiita, numa execução em massa de 37 homens no início do ano”, e que nos últimos seis meses “pelo menos 14 ativistas da sociedade civil, escritores e familiares de ativistas permanecem detidos sem acusações”.

Apesar de várias mulheres “terem sido libertadas nos últimos meses”, a Amnistia Internacional recorda que “Loujain al-Hathloul, Samar Badawi, Nassima al-Sada e Nouf Abdulaziz permanecem em detenção arbitrária desde maio de 2018”.

A pressão sobre os detidos para assinarem “confissões” e aceitarem sentenças de prisão predeterminadas para evitar detenções arbitrárias prolongadas, e a “falta de independência e transparência do sistema de justiça, que fica muito abaixo das leis e padrões internacionais de direitos humanos”, são outras violações dos direitos humanos descritos no comunicado, que elogia os ativistas que continuam a lutar no país pela liberdade de expressão.