Numa conferência de imprensa para divulgar algumas das conclusões do ataque terrorista que matou quatro polícias esta quinta-feira na sede da Polícia de Paris, o procurador francês para o terrorismo, Jean-François Ricard, disse que o responsável pelo ato tinha aderido “a uma visão radical do Islão”.

O autor do ataque, identificado como um homem chamado Mickaël Harpon e com 45 anos, era um funcionário administrativo que trabalhava na sede da polícia parisiense há 16 anos. Convertido ao islamismo há cerca de 20 anos, o indivíduo em questão teve “contacto com certos indivíduos do meio salafista”.

Pelo que avançou o procurador, o autor dos ataques trocou 33 mensagens de caráter religioso com a sua mulher horas antes de partir para o ataque. Uma delas dizia: “Alá é grande, segue o nosso bem amado profeta e medita sobre o Corão”.

O procurador Jean-François Ricard disse ainda que ao longo da investigação levada a cabo pela sua equipa junto de “várias testemunhas” ao longo dos últimos levou à recolha de vários elementos que indicavam uma radicalização do autor do ataque: “A aprovação de certos atos violentos cometidos em nome dessa religião [Islão], o seu desejo de não voltar a ter contactos com mulheres, a sua justificação junto de colegas de trabalho para os atentados cometidos no jornal Charlie Hebdo em 2015, a sua mudança de maneira de vestir há alguns meses”.

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Este relato contraria aquele que apresentou o ministro do Interior, Christophe Castaner, que horas dpeois do ataque disse que aquele funcionário “nunca tinha apresentado dificuldades comportamentais” e que nunca tinha dado “o menor sinal de alerta”.

O procurador refere ainda que o autor do ataque não era tinha “cadastro S”, isto é, a categoria em que se inserem os suspeitos de pertencerem ou simpatizarem com grupos terrorismo.

Ainda de acordo com o procurador, o ataque foi feito com recurso a uma faca de cerâmica comprada antes do ataque, que durou sete minutos. Começou às 12h53 e terminou às 13h00, altura em que o atirador foi morto a tiro pela polícia.

Ao todo, com o autor do ataque, morreram cinco pessoas. Entre as vítimas do ataque, encontram-se pessoas que trabalhavam diretamente com o suspeito de terrorismo, como é o caso da sua superior hierárquica.

O facto de França ter sido palco de vários atentados terroristas não apaga a excecionalidade daquele que se registou esta quinta-feira, o primeiro a ser perpetrado por alguém que pertence a um órgão de segurança. Esse mesmo facto tem levado a pedidos de demissão do ministro do Interior, Christophe Castaner, e já levou a oposição, desde o Partido Socialista até à União Nacional e passando pelos Republicanos, a exigir uma comissão de inquérito parlamentar ao caso.