A chefe do Governo de Hong Kong condenou este sábado a violência cometida na véspera por grupos de manifestantes, que vandalizaram estabelecimentos comerciais e estações de metro, garantindo que a população está assustada.

“Estes atos violentos cometidos por desordeiros estão na origem de uma noite muito negra para Hong Kong e a sociedade está parcialmente paralisada hoje”, disse Carrie Lam, numa mensagem vídeo.

A governante acrescentou que “todos estão muito preocupados e até mesmo assustados”.

Antes, o secretário para a Segurança de Hong Kong, John Lee, tinha advertido que a falta de uma condenação explícita da violência pela população local estava a alimentar as ações de grupos de manifestantes.

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“O que está a alimentar a violência é o apoio da população a estes atos”, reconheceu o responsável, ao rejeitar que as acusações de que a proibição do uso de máscaras em manifestações ilegais anunciada por Lam, na sexta-feira, e já em vigor, “tenha ateado as chamas”.

“Todos deviam sair [à rua] para dizer ‘não, a sociedade não aceitará a violência'”, sublinhou.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, dois ativistas apresentaram um recurso, na sexta-feira à tarde, contra a proibição, alegando que a medida vai instalar o medo e atentar contra a liberdade de reunião, mas um tribunal negou o pedido.

O encerramento de toda a rede ferroviária, responsável por mais de quatro milhões de viagens diárias, ocorreu pela primeira vez desde que, em quase quatro meses, o território tem sido palco de manifestações quase diárias contra o governo, na pior crise desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China em 1997.

A operadora da rede de metropolitano e de comboios referiu que os serviços vão ficar encerrados durante todo este sábado, noticiou a rádio pública RTHK.

A noite foi marcada por ataques incendiários, pilhagens, confrontos com a polícia e agressões, bloqueios de estradas, a vandalização de estações de metro e estabelecimentos comerciais com ligações à China. A polícia recorreu a granadas de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.

Com a ‘lei anti-máscara’, usada pela última vez durante os motins de 1967, o Governo de Hong Kong pretende “acabar com a violência e restaurar a ordem” e a proibição visa apenas as pessoas que participem em manifestações ilegais e aqueles que recorram à violência.

Apesar de a medida excecional ser justificada pela “situação de grande perigo público” que se vive no território, não foi decretado o estado de emergência em Hong Kong, sublinhou Carrie Lam.

Na origem da contestação que se vive na região administrativa especial chinesa desde o início de junho está uma polémica proposta de emendas à lei da extradição, já retirada formalmente pelo Governo de Hong Kong.

Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.

A transferência da soberania da antiga colónia do Reino Unido para a China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”.

Tal como acontece com Macau, para Hong Kong foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.