Uma das peças do impasse político em Espanha pode ter sido removida este sábado por Albert Rivera, ao indicar que o seu partido, o Ciudadanos, está disposto a viabilizar um governo do PSOE mediante a negociação de reformas políticas.

“Comprometo-me a convencer o PSOE a retificar a sua posição e a voltar ao sítio de onde nunca devia ter saído, que é o constitucionalismo, o consenso, os grandes pactos de Estado, e a sentar-se connosco para apoiar ou liderar, dependendo do que disserem os espanhóis, estas reformas”, disse Albert Rivera este sábado, num comício em Madrid.

Desta forma, o Ciudadanos assume publicamente uma mudança do rumo que tem seguido desde as eleições andaluzas (dezembro de 2018) e que daí levou para as eleições gerais (abril de 2019) e para os meses que se seguiram, em que o PSOE tentou mas não conseguiu reunir uma maioria de 176 deputados para aprovar o seu governo.

Na atual legislatura, que se encaminha para o seu fim perante a convocatória de eleições antecipadas para 10 de novembro, bastaria que o PSOE conseguisse o apoio ou abstenção do Ciudadanos para somar 180 deputados (123 do PSOE e 57 do Ciudadanos), isto é, mais do que suficientes para validar uma investidura. Este cenário, porém, pode vir a esfumar-se após as eleições de 10 de novembro, uma vez que as sondagens preveem um resultado semelhante para o PSOE mas também uma descida considerável para o Ciudadanos.

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Albert Rivera estende agora a mão ao PSOE mediante a discussão de dez reformas que tratam de questões sociais — não exigindo sequer a sua aprovação total, segundo disse a direção do Ciudadanos ao El País. Essas medidas incluem incentivos à natalidade, combate à desertificação das zonas menos populadas do país, maior atenção às pensões e à precariedade, uma baixa de impostos às famílias, entre outras causas.

O presidente do Ciudadanos acrescentou ainda outra condição, de ordem política, que é a recusa do PSOE em chegar a acordos com o atual governo regional da Catalunha, atualmente liderado pelo independentista Quim Torra e numa coligação do Juntos Pela Catalunha e a Esquerda Republicana da Catalunha. “Tudo o que vier a acontecer neste país passará pelo PSOE mudar de aliados e escolher bem quem são os seus adversários”, disse Albert Rivera.

Apesar deste ramo de oliveira estendido em direção ao PSOE, o líder do Ciudadanos manteve de qualquer forma no seu discurso as exigências que já vinha dirigindo ao líder dos socialistas no últimos meses. Albert Rivera exigiu a Pedro Sánchez que rasgasse “os acordos com Otegi em Navarra, com Torra na deputação de Barcelona e nas autarquias”.

Em causa está o governo regional de Navarra, onde o PSOE governa com a viabilização (por meio da abstenção) do partido independentista basco EH Bildu; tal como vários casos na Catalunha, em que, depois das eleições autárquicas de maio deste ano, o Partido Socialista da Catalunha (PSC) firmou acordos tanto com o JPC como com a ERC.

Estas são condições dificilmente aceitáveis para Pedro Sánchez — até porque já respondeu a propostas semelhantes em setembro, quando se esgotavam os últimos dias para evitar uma repetição eleitoral, levando às quartas eleições gerais espanholas em quatro anos.

Em setembro, Albert Rivera já tinha proposto a viabilização de um governo do PSOE mediante três condições. A primeira era o fim do “pacto com o EH Bildu em Navarra”. A segunda era a discussão da aplicação do Artigo 155 no caso de o governo regional catalão não respeitar a sentença do julgamento do processo independentista. A terceira e última era o compromisso de Pedro Sánchez para que não houvesse uma subida de impostos.

Como resposta, Pedro Sánchez disse que já cumpria todas estas exigências. “Nenhuma delas impede a abstenção”, disse então. Para já, a resposta de Pedro Sánchez ainda não é conhecida — mas nada indica que ela seja substancialmente diferente daquela que deu há quase um mês.