Schweinsteiger é um caso especial. Tem um nome longo, com muitas consoantes, extraordinariamente alemão e aparentemente difícil de pronunciar. Ainda assim, em Portugal, o apelido de Bastian é normalmente dito sem grandes atropelos, sem grandes perdigotos a saltar da boca ou sem grande dificuldade. Em Portugal, para os adeptos de futebol, Bastian sempre foi Schweinsteiger e nunca houve grande problema com isso. Existe um motivo, ainda assim, para esta descomplicação linguística. E esse motivo prende-se com o dia 8 de julho de 2006.

Naquela noite de verão, há 13 anos e num estádio em Estugarda, Portugal perdeu para a Alemanha o terceiro lugar do Mundial que acabou por ser conquistado pela seleção italiana. Ainda na ressaca da derrota na final do Europeu, dois anos antes, a Seleção Nacional que ainda era de Figo havia sido eliminada nas meias-finais pela França que ainda era de Zidane e falhou o acesso à derradeira partida; do outro lado, a anfitriã seleção alemã tinha perdido, precisamente, com Itália. No encontro que decidia quem ficava com a medalha de bronze, Schweinsteiger bisou na segunda parte, beneficiou de um autogolo de Petit pelo meio e foi substituído logo depois de marcar o segundo golo e ver cartão amarelo por tirar a camisola, assistindo já no banco de suplentes e com o estatuto de melhor em campo ao reduzir da desvantagem de Nuno Gomes que de nada valeria.

O médio alemão marcou dois golos à Seleção Nacional na partida que decidia quem ficava no terceiro lugar do Mundial 2006

Nesta altura, em 2006, o médio já andava pela equipa principal do Bayern há quatro anos. O Mundial da Alemanha foi uma montra para o jogador, que explodiu nas temporadas seguintes e ganhou praticamente tudo o que havia para ganhar ao serviço do clube de Munique. Depois de somar oito Bundesligas, sete Taças da Alemanha, uma Taça da Liga, uma Supertaça e ainda uma Liga dos Campeões com o Bayern, decidiu sair pela primeira vez do país de origem e do clube que o viu nascer e crescer para o futebol em 2015, já com 31 anos. O destino foi o Manchester United, onde foi orientado por Louis van Gaal e ainda por José Mourinho: a chegada do treinador português a Old Trafford atirou o alemão para os Sub-23, numa decisão que foi duramente criticada pelos adeptos e até pelos colegas de equipa do jogador. Em março de 2017, Schweinsteiger deixou a Europa e assinou pelos norte-americanos do Chicago Fire. A cumprir a terceira temporada nos Estados Unidos e na Major League Soccer, 92 jogos e oito golos depois, anunciou esta terça-feira que vai terminar a carreira no final da época, aos 35 anos.

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“Queridos adeptos, a hora chegou e vou terminar a minha carreira ativa no final desta temporada. Queria agradecer-vos, a vocês e aos meus clubes, Bayern Munique, Manchester United, Chicago Fire e a seleção alemã. Foram vocês que tornaram possível este tempo inacreditável! E, claro, quero agradecer à minha mulher, Ana Ivanovic, e à minha família, pelo apoio. Dizer adeus enquanto jogador ativo faz com que me sinta um pouco nostálgico mas também estou ansioso pelos desafios entusiasmantes que me esperam em breve. Vou continuar fiel ao futebol”, comunicou o jogador no Twitter, deixando antever que vai continuar ligado ao desporto que pratica ao mais alto nível há 18 anos.

Em 2014, no Brasil, com o troféu de campeão do mundo conquistado pela seleção alemã

O agradecimento alargado, não só aos clubes e à família — onde se inclui a mulher, a tenista Ana Ivanovic –, estende-se também à seleção alemã, onde Schweinsteiger foi capitão, conquistou o Mundial 2014 no Rio de Janeiro, somou dois terceiros lugares (2006 e 2010) e ainda disputou uma final de um Europeu (2008, perdida para Espanha). O Campeonato do Mundo garantido no Brasil, graças a um golo solitário de Götze já no prolongamento que valeu a vitória na final contra a Argentina de Messi, foi o ponto alto da carreira de Bastian Schweinsteiger, que foi um dos poucos a contornar a habitual frieza alemã para não conseguir controlar as lágrimas na hora do apito final.

O médio alemão do nome comprido vai acabar a carreira no final da temporada. Para trás, ficam apenas três clubes, apenas três países mas dezenas de títulos. Para trás, fica também a certeza de que o apelido de Bastian, com consoantes, muito alemão e difícil de pronunciar, se tornou fácil para todos os portugueses pelos piores motivos. Desde julho de 2006 e desde os dois golos que marcou à Seleção Nacional, Schweinsteiger entrou na memória de todos os adeptos de futebol em Portugal.