“Projecto Gemini”

Will Smith interpreta um veterano atirador de elite às ordens do governo dos EUA, que se vê perseguido pelo seu clone jovem neste “thriller” de espionagem assinado por Ang Lee. A tecnologia usada em “Projecto Gemini” é futurista: o clone foi feito nos computadores e Smith deu-lhe apenas a voz, e Lee filmou no novo formato digital 3D + em HFR, a 120 fotogramas por segundo e Alta Definição. Só que a história, que cheira a Robert Ludlum em segunda mão, insiste no rame-rame do agente que se torna o alvo daqueles para quem trabalha (uma organização super-ultra-secreta do Estado, claro) e aos quais sempre foi leal, incorporando o “cliché” de ficção científica do super-soldado fabricado em laboratório. E o 3D + em HFR ainda não está aperfeiçoado. É pouco amigo da vista humana, transmitindo uma impressão crua, de imagem ainda por tratar na pós-produção, e deixando muitas costuras visuais à mostra, sobretudo nas sequências noturnas e envolvendo muitos efeitos digitais.

“Varda por Agnès”

Naquele que seria o seu último filme, Agnès Varda, desaparecida no passado mês de Março, com 90 anos, passa em revista toda a sua obra, incluindo não só os filmes como também as fotografias e as instalações. “Varda por Agnès” assemelha-se a uma “masterclass”, mas sem a formalidade, o peso académico e a intenção didáctica que lhes associamos. A realizadora revela como entende a obra de arte, em três tempos — inspiração, criação, partilha — e parte daí para explicar as circunstâncias, o como e o porquê dos filmes de ficção e documentais que rodou, das fotografias que tirou e das instalações que concebeu. Sempre com os olhos no mundo imediato que tinha à sua volta, sempre falando de pessoas reais, tiradas ao quotidiano, ou que lhe eram próximas e íntimas, desde os comerciantes da rua em que viveu durante anos até ao marido Jacques Demy, ou aos funcionários das sua produtora (sem falar nos gatos). Um filme que é um longo, afetuoso, generoso e melancólico adeus.

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“Judy”

Este filme de Rupert Goold, baseado na peça “End of the Rainbow”, de Peter Quilter, apanha Judy Garland (Renée Zellweger) nos últimos meses da sua vida, sem dinheiro e sem casa, expulsa com o filho Joey e a filha Lorna do hotel de Los Angeles onde viviam por não pagar a conta, e obrigada a deixá-los com o pai e terceiro marido, Sidney Luft, enquanto ruma a Londres com um contrato de cinco semanas para o clube noturno Talk of the Town. Estamos no Inverno de 1968 e Garland é um caco ambulante. Não só por estar falida e longe dos filhos, mas também por causa da dependência da bebida e dos fármacos, desde os seus dias de glória na MGM e da rodagem de “O Feiticeiro de Oz”, em que, rigorosamente controlada pela mãe e paternalmente tiranizada por Louis B. Mayer, tomava comprimidos para não engordar, aguentar as longas horas de rodagem e conseguir dormir. “Judy” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.