Paul Francis Gadd nasceu no Reino Unido em 1944 e, depois de muito tentar, em vários estilos, bandas e até com nomes artísticos diferentes, conseguiu ser uma espécie de estrela fugaz no firmamento alternativo do glam rock, na década de 1970.

Como Gary Glitter, o alter ego com que vingou, lançou em 1972 um grande sucesso, em formato single: “Rock and Roll, Parts I and II”. A introdução da música, comummente conhecida como “The Hey Song” (porque além da bateria e da guitarra só se vai ouvindo essa interjeição gritada), é até hoje um sucesso — não na ilha natal do artista mas nos Estados Unidos, onde se tornou uma espécie de hino oficioso do futebol local: sempre que uma equipa marca um touchdown, ecoa o “Hey” no sistema de som do estádio.

Será exatamente por isso que, à generalidade dos fãs americanos de cinema, a mais recente polémica em torno da música e da sua utilização da banda-sonora de “Joker”, de Todd Phillips, está a passar ao lado. O que nem por isso diminui a ira dos cinéfilos britânicos: Gary Glitter está desde 2015 a cumprir uma pena de 16 anos de prisão, condenado por abuso sexual de menores, e poderá ainda assim receber milhares de dólares em royalties graças à inclusão do tema no filme.

Hoje com 75 anos, Glitter é uma das figuras públicas mais odiadas em Inglaterra, onde já anteriormente tinha sido condenado, e não só: em 2002 foi expulso do Camboja e entre 2005 e 2008 esteve preso no Vietname — sempre por crimes relacionados com pedofilia, incluindo posse de pornografia infantil, tentativa de violação, sexo com menor e atentado violento ao pudor.

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Foi no decorrer de um desses processos que, em 2012, a música do cantor, que deveria passar na Super Bowl, foi banida do evento, continuando ainda assim a ser tocada nos estádios. Em 2014, à Billboard, uma fonte próxima revelou que, apesar de todos os anticorpos do autor, “Rock and Roll, Parts I and II” continuava a gerar cerca de 250 mil dólares por ano em direitos de autor.

Segundo explicou agora ao Guardian um especialista que quis permanecer anónimo, é pouco provável que a utilização de dois minutos da música no novo filme sobre o vilão da DC venha a render “centenas de milhares” de dólares a Glitter, como os seus detratores temem.

Joaquin Phoenix, enquanto Arthur Fleck aka Joker, dança ao som da “The Hey Song” num momento particularmente emblemático do filme, mas o facto de o processo de pagamento de direitos de autor envolver várias empresas e entidades deverá fazer com que Gary Glitter não receba mais do que 30% do total.

E se o FBI matou um gangster falso?

Em 2006, num dos episódios da terceira temporada do The Office americano, Steve Carrel, enquanto Michael Scott, dançou no seu gabinete na Dunder Mifflin ao som de “The Hey Song”. Nenhuma voz se levantou na altura contra o assunto (mas o Twitter só existia há cerca de seis meses).