Os curdos e o governo sírio chegaram a um acordo para mobilizar tropas para a fronteira norte do país de modo a estancar a ofensiva militar vinda da Turquia, avança a BBC citando a comunicação social síria.

A aliança surge depois de o presidente Donald Trump ter anunciado este sábado que os Estados Unidos aplicarão “sanções severas” contra a Turquia, pela ofensiva militar contra as milícias curdas na Síria, e ter ordenado a saída imediata das tropas norte-americanas na região. As decisões acontecem no mesmo dia em que a Turquia intensifica o ataque na zona fronteiriça do norte da Síria: pelo menos 26 civis terão sido mortos só este domingo e mais de 700 familiares e pessoas próximas de membros do Estado Islâmico fugiram, depois de o campo onde estavam detidos ter sido bombardeado.

A situação é de tal forma intensa que, de acordo com o secretário da Defesa norte-americana, os curdos estarão a negociar um entendimento com as forças russas e sírias de apoio a Bashar al-Assad para combater o exército turco.

Depois de ter anunciado na semana passada a retirada de tropas norte-americanas na região, abrindo assim caminho à ofensiva turca contra os curdos, o Presidente dos EUA disse este domingo que estava em conversações com o Congresso para a aplicação de sanções contra a Turquia: “Estou a negociar com o senador Republicano Lindsey Graham e outros membros do Congresso, incluindo Democratas, para a imposição de sanções severas à Turquia. O [Departamento do] Tesouro está preparado”, escreveu Donald Trump na sua conta pessoal da rede social Twitter.

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Trump responde assim ao apelo feito por Lindsey Graham que, embora seja um forte apoiante do Presidente, tinha criticado a decisão da retirada de tropas da Síria, abandonando os aliados curdos na Síria à mercê da ofensiva militar turca.

Mil soldados norte-americanos retirados da região por haver risco de confronto entre Turquia e EUA, aliados da NATO

Nos últimos dias, os EUA têm feito apelos ao Presidente turco para que cesse a operação militar e este sábado, de acordo com o secretário de Defesa Mark Esper, Donald Trump ordenou a saída imediata e total do contingente militar no norte da Síria.

Interrogado sobre se achava que a Turquia, aliada na NATO, atacaria deliberadamente as tropas norte-americanas na Síria, Mark Esper disse não saber o que responder. Esper mencionou um incidente ocorrido na sexta-feira em que um pequeno grupo de tropas norte-americanas ficou sob o fogo de artilharia turca, num posto de observação no norte da Turquia, mas disse que pode ter sido apenas um exemplo de “fogo indiscriminado”, não destinado deliberadamente a atingir militares dos EUA.

Esper disse que falou sobre a situação na Síria com o Presidente Trump, na noite de sábado, quando crescem os sinais de uma intensificação da ofensiva turca. “Nas últimas 24 horas, descobrimos que eles [os turcos] provavelmente pretendem expandir seu ataque mais a sul e a oeste do que o originalmente planeado”, disse Esper, referindo-se à escalada de dimensão da ofensiva contra as milícias curdas.

De acordo com o secretário de Defesa, os EUA também acreditam que os curdos estão a tentar “fechar um acordo” com o exército sírio e com a Rússia para combater as forças turcas, vindos do sul do país, o que ajudou à decisão de Trump de retirada das forças norte-americanas da região, já que as forças norte-americanas poderiam ficar “presas entre dois exércitos inimigos”.

No mesmo sentido, Trump usou a sua conta de Twitter para explicar, mais uma vez, por que os EUA não se devem envolver militarmente na região: “Outros podem querer entrar e lutar por um dos lados contra o outro”, escreveu, podendo estar a referir-se à intervenção síria e russa no conflito, como esclareceu Mark Esper.

Entretanto a Síria confirmou que vai mesmo enviar tropas governamentais para o norte do país, para enfrentar a ofensiva turca contra as milícias curdas nessa região, segundo os media estatais sírios. De acordo com fontes oficiais citadas pela agência e pela estação televisiva estatais da Síria, o exército prepara-se para entrar em cidades controladas pelos curdos que estão a ser atacadas pelas forças turcas, desde quarta-feira, dias depois de os Estados Unidos terem anunciado a retirada das suas tropas da região.

“Unidades do exército árabe sírio estão a caminho do norte, para enfrentar a agressão turca em território sírio”, diz a agência estatal, citando fontes oficiais que dizem ter havido negociações entre a administração semi-autónoma curda e o Governo de Bashar al-Assad, mediadas pelo Governo russo.

Uma autoridade norte-americana disse este domingo que a situação no nordeste da Síria está a “deteriorar-se rapidamente” à medida que as forças apoiadas pela Turquia avançam e podem isolar as forças dos Estados Unidos no terreno. O risco de um confronto entre as forças apoiadas pela Turquia e os Estados Unidos no nordeste da Síria estará, por isso, na origem da retirada de mais tropas. Ambos os países são aliados da NATO e dispõem dos dois maiores exércitos da Aliança Atlântica.

Ofensiva a Ras al-Ain intensifica-se: 60 civis já morreram e mais de 130 mil abandonaram as suas casas

Pelo menos 26 civis morreram este domingo durante a ofensiva turca contra as forças curdas no nordeste da Síria, indicou um novo balanço da organização não-governamental Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Na cidade fronteiriça de Ras al-Ain, pelo menos 10 pessoas morreram num raide aéreo conduzido pelas forças turcas que atingiu uma coluna de veículos composta por civis e jornalistas, precisou a organização não-governamental (ONG). Num anterior balanço, relativo também às vítimas mortais registadas durante o dia de domingo, o OSDH tinha confirmado 14 civis mortos.

A Turquia lançou na quarta-feira uma operação militar, que inclui alguns rebeldes sírios, contra a milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG), grupo que considera terrorista, mas que é apoiado pelos ocidentais para combater o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

“Estávamos a acompanhar a coluna de civis curdos bombardeada pelas forças turcas ou pelos seus aliados em Ras al-Ain. A nossa equipa está bem, mas colegas morreram”, divulgou, por sua vez, uma jornalista de uma estação de televisão francesa, Stéphanie Perez, na rede social Twitter, mas sem dar mais pormenores.

O OSDH relatou a morte de “um jornalista”, mas, até ao momento, não conseguiu confirmar a identidade ou a nacionalidade do profissional. A agência noticiosa curda Hawar informou, entretanto, que um dos seus jornalistas no local, identificado como Saad Ahmed, morreu no ataque. A Hawar, citada pela agência espanhola EFE, avançou ainda que outros sete jornalistas ficaram feridos.

Em cinco dias, ou seja, desde o início da ofensiva turca, pelo menos 104 combatentes curdos e cerca de 60 civis morreram na sequência dos confrontos, segundo o mais recente balanço do OSDH. A ofensiva turca no nordeste da Síria já provocou cerca de 130 mil deslocados vindos das cidades de Tal Abyad e Ras al-Ain, de acordo com a ONU. As Nações Unidas estimam ainda que cerca de 400.000 pessoas na área podem precisar de assistência e proteção nos próximos dias.

Desde sábado, que combatentes turcos e apoiantes da Turquia realizam ataques aéreos em direção à cidade de Ain Eissa, administrada pelas forças lideradas pelos curdos e onde está localizada uma grande base dos Estados Unidos. A autoridade disse que as forças norte-americanas e os seus aliados curdos já não controlam as linhas terrestres de comunicação.

A Turquia declarou que o objetivo da ofensiva na Síria é combater e afastar da região a milícia curdo-síria Unidades de Proteção Popular (YPG, integrante das Forças Democrática da Síria), que os turcos consideram uma organização terrorista por suas ligações com a insurgência curda na Turquia.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse na sexta-feira que a Turquia não vai parar até que o YPG, que forma a espinha dorsal da força terrestre apoiada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico (EI) no norte da Síria, retire-se para pelo menos a 32 quilómetros da sua fronteira.

Centenas de familiares de apoiantes do Estado Islâmico fogem de centro de detenção

Esta domingo de manhã, um dos ataque aéreos turcos à cidade de Ain Issa, dominada pelos curdos, fez com que cerca de 700 familiares de membros do grupo extremista Estado Islâmico (EI) escapassem, avançou o The New York Times. Ao mesmo jornal, um responsável curdo afirmou que os ataques da Turquia estão a levar a um maior controlo da região pelos extremistas.

“Estamos a enfrentar ataques ferozes e somos forçados a diminuir o número de guardas ”, disse Ciya Kurd, da autoridade regional liderada pelos curdos, justificando assim a falta de controlo ao campo de detenção em Ain Issa, onde estavam alojados filhos e companheiras de combatentes da organização terrorista.

(Em atualização)