Desapareceu um exemplar raro d’Os Lusíadas, avaliado em 100 mil euros, que estava guardado no Ateneu Comercial de Lisboa, avança o jornal i. Outras peças, como um candeeiro de cristal avaliado em 150 mil euros e loiças do século XX, também desapareceram do edifício que pode vir a ser transformado num projeto residencial pela Vogue Homes — apesar de esperar uma classificação pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).

Em 2012, Joaquim Faustino, presidente do Ateneu, tinha dito numa assembleia de credores que essa edição d’Os Lusíadas era “tão valiosa” que “deveria estar na Torre do Tombo”, recorda o jornal. Sete anos depois, esta e outras obras desapareceram. Na verdade, pode haver mais objetos desaparecidos, já que o Ateneu não mantém um inventário das obras que lhe pertencem.

O Ateneu Comercial de Lisboa fechou portas em 2012, depois de ter entrado em insolvência — caso que, mais tarde, levantou suspeitas de irregularidades na gestão. Em 2015, já as dívidas chegavam aos 400 mil euros, um mecenas comprou as dívidas e ficou com os mesmos direitos que os credores. No entanto, comprou essas dívidas por valores mais baixos que os pedidos anteriormente, o que levantou suspeitas entre os credores, como contou o Observador.

Ateneu de Lisboa. Morrer lentamente aos 135 anos

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As proprietárias do bar do Ateneu apresentaram queixa e o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) começou a investigar o caso por suspeitas de gestão danosa no processo de insolvência. Entretanto, o edifício já degradado pode vir a ser “transformado num projeto residencial que visa trazer vida não só ao edifício emblemático, mas também a uma zona que tem poucos residentes”, confirmou Joaquim Silva Lico, presidente executivo da Vogue Homes, ao i.

Isso mesmo já tinha sido confirmado ao Observador pelo administrador de insolvência por altura do 135º aniversário do Ateneu: “Há um projeto imobiliário e o Ateneu fica com a garantia de novas instalações. Há espaços que não vão ficar inseridos no novo projeto imobiliário, que vai ter mais metros do que atualmente”. Sobre a insolvência, afirmou: “O passivo fica totalmente regularizado e é eleita uma direção. Com a garantia de que terá novas instalações, chave na mão, e continuando e mantendo os seus estatutos. Também com todos os bens mobiliários”.

Joaquim Silva Lico não avança com nenhuma data para o início das obras. No entanto, elas podem ser dificultadas caso a DGPC ceda uma classificação ao Palácio dos Condes de Povolide, em que se insere o Ateneu, recorda o jornal. É que, se essa classificar for mesmo oficializada, as obras no edifício precisam de ser analisadas à luz da lei para bens patrimoniais. O chão, tecto e fachada não podem ser alterados, enumera o i.

Enquanto as obras não avançam e a classificação da DGPC não chegam, o Ateneu Comercial de Lisboa vai abrir as portas a visitantes, numa estratégia para “ir ao encontro das melhores expetativas, pois a alternativa era o clube ficar sem sede, fechar de vez e extinguir-se definitivamente”, justifica Joaquim Faustino. Esse investimento vai permitir “manter a sede do Ateneu nas suas históricas instalações, preservar algumas das suas atividades lúdicas e associativas, bem como manter todo o seu espólio”.