O presidente do conselho de administração do Hospital Garcia de Orta defendeu esta quarta-feira que é preciso “reorganizar a estrutura interna” e quer criar um “agrupamento complementar de empresas” para investir na promoção da saúde, integrando os centros de saúde.

“Diria que os principais desafios têm a ver com a velha estrutura do hospital. Quando foi concebido, nos anos 70, foi projetado para uma população à volta de 150 mil pessoas e o que é facto é que a população cresceu muito e o hospital tornou-se pequeno na sua dimensão e organização”, explicou Luís Amaro, em entrevista à agência Lusa.

Depois de 13 anos como diretor nos centros de saúde de Almada e Seixal, no distrito de Setúbal, em abril Luís Amaro integrou o conselho de administração do Garcia de Orta, tendo-se deparado com “falta de recursos humanos” e um edifício que, “do ponto de vista estrutural, está mal dimensionado”.

“Toda a atividade de ambulatório está concentrada nos pisos de internamento e isso é um problema gravíssimo”, frisou.

Na perspetiva de Luís Amaro, os serviços de ambulatório, que se localizam no piso três, deviam ser transferidos “para fora das paredes do atual hospital”, criando a possibilidade de ter mais 100 camas de internamento.

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Segundo o responsável do hospital, agora o piso três “está completamente cheio de pessoas que estão lá a fazer consultas de tudo e mais alguma coisa, todos os exames especiais estão nesse piso, mas retirando essa carga assistencial cá para fora, é possível que aquele piso possa ser transformado em áreas de internamento”.

Para o presidente do Garcia de Orta, é preciso “investir fortemente na área da imagem, no ambiente interno e externo do hospital”, não só porque está “muito degradado”, mas também para o colocar novamente como “amigo das pessoas”.

É, neste sentido, que Luís Amaro tem equacionado um projeto que classificou como uma “revolução no sistema da saúde” e que designou de “agrupamento complementar de empresas”. Trata-se de uma integração de cuidados entre os hospitais e os centros de saúde, mas de forma a que cada um mantenha a sua identidade e orçamentos.

“É fundamental criar duas coisas, que é a melhoria do acesso e um enfoque muito forte na proteção e promoção da saúde, que não existe neste momento. O enfoque atual é tratar”, sublinhou.

Segundo um estudo do Garcia de Orta sobre a procura inadequada às urgências, 73% das crianças que recorreram a este serviço, entre janeiro e agosto estavam em situação “sem gravidade”, ou seja, casos em que se poderia acorrer aos cuidados de saúde primários.

“Temos de valorizar a doença aguda e tratá-la no sítio certo. Se não há gravidade para virem ao hospital, devem ser tratadas nos cuidados de saúde primários, mas, para isso, os médicos dos cuidados de saúde primários devem ser devidamente compensados”, defendeu.

O Hospital Garcia de Orta foi o primeiro a implementar a Unidade de Hospitalização Domiciliária de doentes agudos e, de acordo com Luís Amaro, esta é outra vertente que deveria ser alargada porque “tem muitas vantagens” e nem todas as situações “carecem de internamento hospitalar”.

A segunda dimensão da sua proposta foca a proteção e promoção da saúde, defendendo a criação de uma “governação local”, envolvendo diferentes entidades, como autarquias e escolas.

“É uma intervenção local de saúde, porque há dimensões que a saúde, por mais que se esforce, não resolve, como a habitação ou a alimentação. São dimensões que têm de ser trabalhadas de forma integrada, como aprimorar uma rampa para uma pessoa com cadeira de rodas poder ir para casa”, explicou.

Além disso, lembrou a importância de trabalhar na “literacia da saúde”, como incentivar a população a deixar de fumar, a uma melhor alimentação ou a praticar exercício físico, para que aconteça uma “interiorização de necessidades” e, assim, contribuir para “mais saúde”.

De acordo com Luís Amaro, os próximos três anos de mandato serão para planear todos estes projetos, esperando que os três anos seguintes possibilitem a sua concretização.

A renovação do hospital e a implementação do “agrupamento complementar de empresas” têm um custo estimado entre 15 a 17 milhões de euros, referiu, esperando que o Ministério da Saúde comporte estes investimentos.