Dois eurodeputados do PSD questionaram a Comissão Europeia sobre medidas do Governo português para “evitar a disseminação da praga de mexilhão-zebra ao Alqueva”, o que a acontecer “poderá ter efeitos devastadores” para a biodiversidade, agricultura e turismo.

Num comunicado enviado à agência Lusa, os eurodeputados do PSD Cláudia Monteiro de Aguiar e Álvaro Amaro referem que questionaram a Comissão Europeia sobre o assunto e “conscientes do impacto ambiental e económico provocado pelo mexilhão-zebra”.

Através da pergunta, os eurodeputados também querem saber se a Comissão Europeia está a acompanhar a propagação do mexilhão-zebra, que “se estende pelo território espanhol e ameaça o território português”, e se “considera criar apoios extraordinários para combater a praga, que, a acontecer, terá efeitos devastadores para a biodiversidade da bacia hidrográfica do [rio] Guadiana e para os setores da agricultura e do turismo”.

Trata-se de uma matéria “demasiado séria para ser desprezada”, frisa Cláudia Monteiro de Aguiar, referindo que “o impacto que a praga pode ter para o turismo do interior de Portugal, para a biodiversidade do Guadiana e para a agricultura é tremendo e apenas evitável através de uma prevenção eficaz e um controlo sério por parte das autoridades competentes, quer portuguesas, quer espanholas e não estamos a assistir a nada disso”.

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A Comissão Europeia deve estar preparada para a criação de apoios extraordinários ao combate a esta praga, através de ajudas à sua prevenção e mitigação, mas deve também, eventualmente, considerar apoios diretos a quem investiu na agricultura e no turismo nesta região, que terão aqui mais um grande obstáculo para o seu sucesso”, defende Cláudia Monteiro de Aguiar.

Segundo os eurodeputados, o mexilhão-zebra, espécie bivalve não comestível com cerca de três centímetros de comprimento, “ameaça o Alqueva”, que “é uma das maiores albufeiras da Europa”.

O molusco, “cujo aumento gera densidades populacionais de até três milhões de indivíduos por metro quadrado”, está presente em Espanha desde 2001, quando apareceu na bacia do rio Ebro, onde já causou “prejuízos”, e “há poucos meses propagou-se também” às bacias hidrográficas dos rios Júcar e do Guadalquivir, referem.

A presença do mexilhão-zebra quebra o equilíbrio ecológico e, através dos efluentes que expulsa, cobre o fundo dos rios e lagos com uma camada tóxica, que destrói todos os peixes na zona afetada”, alertam os eurodeputados, frisando que “o impacto económico, com especial relevância para as atividades agrícolas e de turismo, resulta da obstrução dos sistemas de irrigação, dos canais de entrada e saída das construções hidráulicas, e ainda dos motores e âncoras dos barcos”.

No passado mês de setembro, a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) alertou para a obrigatória desinfeção de embarcações antes de entrarem na água para evitar a chegada às albufeiras do empreendimento do mexilhão-zebra, “uma das espécies exóticas invasoras mais prejudiciais do planeta”.

Lançado alerta para desinfeção de barcos para evitar mexilhão-zebra no Alqueva

Em declarações à Lusa, David Catita, do departamento de ambiente da EDIA, explicou que a transferência de exemplares e larvas de mexilhões-zebra entre bacias hidrográficas e albufeiras faz-se “principalmente” através de embarcações que navegam em águas onde a espécie existe.

David Catita alertou que “o mexilhão-zebra já existe em três bacias hidrográficas de Espanha, nomeadamente na do rio Guadalquivir, que pega com a do rio Guadiana, e é muito fácil passar de uma para a outra”, através de embarcações.

Segundo David Catita, “há muitas embarcações que navegam em Espanha e Portugal e há o risco de o mexilhão-zebra chegar a Portugal, nomeadamente à bacia do Guadiana e à albufeira do Alqueva”. “Basta que passe da bacia do Guadalquivir para a do Guadiana para entrar na albufeira do Alqueva” e desta passar para as restantes albufeiras e reservatórios do empreendimento, frisou.

O Alqueva tem 69 massas de água, entre albufeiras e reservatórios, e “a EDIA está a monitorizar 18 albufeiras que são pontos-chave” e nas quais ainda não foi detetada a presença da espécie, disse David Catita.