“Não acho que as pessoas queiram viver num mundo onde só podem dizer coisas que as empresas de tecnologia decidem ser 100% verdade”, afirmou, esta quinta-feira, Mark Zuckerberg, fundador e presidente executivo do Facebook, ao Washington Posta, antes de dar uma palestra sobre liberdade de expressão na Universidade de Georgetown, em Washington D.C.. A intervenção de Zuckerberg ocorreu numa altura em que a rede social tem sido criticada por permitir anúncios políticos que têm informação falsa.

O principal caso que precedeu esta palestra está relacionado com um vídeo pago, que foi publicado por Donald Trump no Facebook. Neste vídeo, o presidente dos EUA faz críticas infundadas sobre um dos democratas na corrida à Casa Branca e vice-presidente de Barack Obama, Joe Biden. As críticas também envolviam o filho, Hunter Biden. Além de Hunter já se ter defendido a contestar as “mentiras” de Trump, o Partido Democrata tem criticado a suposta inação do Facebook nestes casos.

Live from Georgetown — Standing For Voice and Free Expression.

Live from Georgetown — Standing For Voice and Free Expression.

Posted by Mark Zuckerberg on Thursday, October 17, 2019

Zuckerberg afirma que “as pessoas”, e ele, “preocupam-se profundamente com a erosão da verdade ”. Contudo, o perigo para a liberdade de expressão é maior se for uma rede social a fazer a triagem e, por isso, estas “tensões são algo com o qual temos de conviver”. Mesmo que isso signifique permitir que continuem a ser partilhados vídeos com informação falsa.

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Para o responsável máximo do Facebook, que também tem a cargo o Instagram e o WhatsApp, um dos perigos de as redes sociais começarem a banir estes conteúdos é, no futuro, passarem a “reprimir demasiado”. Como exemplo dessas ameaças, Zuckerberg lembrou o caso da China, que censura qualquer discurso político na internet. De acordo com o presidente executivo da rede social mais utilizada em todo o mundo, os EUA têm de se mostrar fortes em relação a governos que querem atacar a liberdade de expressão e devem criar uma legislação exemplar de como lidar com estes casos.

Mark Zuckerberg tinha avisado esta quarta-feira, na sua página oficial de Facebook, que tem estado nos últimos tempos a escrever um discurso sobre “os seus pontos de vista sobre voz e expressão livre”. Ainda no início da semana, num esclarecimento pouco comum, Zuckerberg utilizou a sua rede social para dizer que tinha jantado com “políticos, media e pensadores conservadores”. E deixou um conselho: “Conhecer novas pessoas e ouvir de uma ampla variedade de pontos de vista faz parte da aprendizagem. Se ainda não experimentaram, sugiro que o façam!”.

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Nos EUA, o Facebook tem estado debaixo de fogo, principalmente pelos democratas, pelo papel que tem tido n proliferação de notícias falsas. Apesar dos esforços que tem feito para mitigar o problema desde que foi revelado o caso Cambridge Anytica, Elizabeth Warren — uma das principais candidatas democratas na corrida à Casa Branca –, tornou-se um dos rostos da oposição ao Facebook. Num ataque ao caso de Donald Trump, a democrata pagou um anúncio político com uma notícia falsa para mostrar que a rede social não consegue filtrar todas as notícias falsas.

O Facebook afirma que continua a preparar-se para as “ameaças do futuro”, como vídeos deepfake — vídeos falsificados ultrarrealistas criados com recurso à inteligência artificial. Quanto à possível propaganda política que pode ter conteúdos falsos, Zuckerberg diz: “No geral, numa democracia, acho que as pessoas devem poder ouvir por si mesmas o que os políticos estão a dizer”.

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