Marcas centenárias, focadas no aprumo e no bem-estar masculino, tendem, muitas vezes, a resistir aos novos tempos. É o caso da Turnbull & Asser, casa de fatos por medida fundada em 1885, que se foi especializando no desenho e na confeção de camisas. Foi esta a peça com que conquistou a confiança do príncipe Carlos, que as veste desde tenra idade. Depois de uma era liderada por homens, a marca contratou, este ano, uma mulher para o posto cimeiro, no que ao design diz respeito. Becky French é a primeira diretora criativa da Turnbull & Asser.

“Temos muitas mulheres e homens inteligentes, criativos e ambiciosos no negócio e a igualdade é algo importante para todos nós”, afirmou Becky French, em entrevista à Vogue. “Estamos a tentar aproveitar elementos da história da Turnbull e fazer essa ponte com o passado, mas queremos sobretudo pegar nos valores da manufatura e da criatividade, juntamente com o luxo, para levar tudo para a frente”, explicou, ao recordar o legado de uma marca que abriu portas em 1903, em Jermyn Street, Londres. A expansão foi contida, muito mais focada em vestir os clientes certos do que propriamente em criar um império de fatos, camisas e gravatas. Lojas são apenas quatro — três em Londres e uma em Nova Iorque. As camisas, produto estrela consolidado ao longo das décadas, começam nos 100 euros e quase pisam a barreira dos 600 euros.

Uma das últimas coleções da Turnbull & Asser © Getty Images

Para Becky, que já trabalhou para Ralph Lauren e Paul Smith, pensar o futuro de uma marca como a Turnbull & Asser é, sobretudo, um jogo de equilíbrio — de modernizar sem defraudar a tradição, de manter os valores e técnicas introduzindo pequenos laivos de contemporaneidade. “Temos de ir mudando as coisas gradualmente. Não podemos simplesmente fazer uma grande mudança e esperar que as pessoas continuem connosco — isso iria afastar clientes que valorizamos muito”, refere na mesma entrevista.

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A primeira coleção desenhada por French chegou há pouco tempo às lojas. Os ajustes a um novo século e a tentativa de agradar a um novo público são notórios. “Os desenvolvimentos mais importantes são os novos cortes. A coleção destaca muito mais os casacos, onde explorámos um estilo clássico com uma confeção funcional. Na Turnbull, todos os desenhos devem ter um objetivo e assentar num estilo de vida moderno — e isso inclui viagens, cidades e cenários de campo”, acrescentou.

Clientes à porta da Turnbull & Asser à espera do inícios dos saldos, a 12 de janeiro de 1976 © Milton Wordley/Evening Standard/Hulton Archive/Getty Images

O príncipe Carlos, herdeiro do trono britânico, é um cliente habitual. Em 1980, quando ganhou o poder de atribuir Royal Warrants, foi esta a casa que escolheu para depositar o seu primeiro selo dirigido em exclusivo a fornecedores reais de excelência. O rol de estrelas e individualidades que, ao longo do tempo, se afeiçoaram à Turnbull & Asser é longo e cintilante.

Winston Churchill, Charlie Chaplin, Laurence Olivier, Pablo Picasso, Ronald Reagan —  em suma, homens que marcaram o século XX. E mulheres? A atriz Lauren Bacall usava frequentemente camisas de seda produzidas por estes mestres camiseiros. No próprio ecrã, há vestígios da passagem desta arte, não só no guarda-roupa de vários agentes 007, mas também nas gravatas usadas por Heath Ledger no filme “O Cavaleiro das Trevas” e ainda no pijama de Sophia Lauren em “A Condessa de Hong Kong”. Mais recentemente, em maio deste ano, a marca lançou uma coleção inspirada no filme “Rocketman”, colaboração com a plataforma Mr Porter.

O serviço de camisas feitas à medida celebrizou a Turnbull & Asser ao longo dos anos é é mantido até hoje © Instagram.com/turnbull_asser

Uma coisa é certa: este álbum de glórias tem a sua quota-parte na aura que hoje paira sobre a Turnbull & Asser. Por muito que as silhuetas se modernizem — vão modernizar-se — é na herança clássica e no selo real que reside o encanto em torno dos fatos camisas e gravatas, que ainda hoje continuam a ser feitos à mão (no caso dos dois últimos, existem ateliers exclusivos em Gloucester e em Kent). “Quando vêm à Turnbull & Asser, os clientes têm encontrar peças de confiança, clássicas e bonitas, ao lado de peças divertidas, confiantes e surpreendentes. Sempre oferecemos escolha e isso é algo que continuamos a achar importante”, concluiu Becky French.