Por muito que os treinadores insistam em contrariar esta tendência, a verdade é que é complicado para os grandes clubes preparar um fim de semana de Campeonato antes de uma semana de competições europeias sem gerir, medir e equacionar os jogadores que podem ser poupados de um lado para reforçar no outro. E este sábado, Atl. Madrid e Valencia eram o epíteto dessa ideia: se ambas as equipas precisam de conquistar pontos a nível interno, ambas as equipas precisam também de garantir vitórias no plano europeu. E depois do encontro desta jornada no Wanda Metropolitano, o Atl. Madrid recebe o Bayer Leverkusen para a Liga dos Campeões e o Valencia visita o Lille para a mesma competição.

Este sábado, portanto, as duas equipas precisavam de ganhar sem esgotar o tanque do combustível. Mas Diego Simeone, o treinador do Atlético de Madrid, saiu da partida com um empate e com uma dor de cabeça para os próximos tempos: João Félix lesionou-se e o técnico já veio dizer que a lesão foi “algo grave”.

No início pensei que não era nada, mas os médicos disseram-me que seria algo grave. Esperamos que em pouco tempo esteja connosco”, disse Simeone, citado pelo El Confidencial. Posteriormente, a conta oficial do Atlético de Madrid no Twitter indicava que Félix saiu do terreno de jogo por “uma forte entorse no tornozelo direito”.

Voltemos, porém, ao começo. Depois da pausa das seleções, os colchoneros regressavam aos relvados com um onze que batia certo com as ideias colocadas em prática por Simeone antes dos compromissos internacionais: um meio-campo com uma linha de quatro, com Partey e Saúl ao centro, Koke de um lado e João Félix do outro, e Diego Costa e Morata juntos numa fase mais adiantada, ainda que o internacional português apareça muitas vezes nas costas dos dois avançados e permita que um deles desvie para o corredor. A única surpresa era mesmo a ausência de Renan Lodi, que terá ficado de fora do onze devido à viagem longa que realizou após estar ao serviço da seleção brasileira e era substituído por MarioHermoso, que é central de origem e retirava pendor ofensivo à faixa do Atl. Madrid.

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Do outro lado, Alberto Celades não tinha Gonçalo Guedes nem Rodrigo — marcaram os dois na pausa internacional, um por Portugal e outro por Espanha, mas regressaram lesionados — e apostava numa frente de ataque com Cheryshev, Ferrán Torres e o reforço Maxi Gómez. Depois de uma fase muito instável a nível institucional, com o despedimento de Marcelino Toral contra aquilo que era a opinião geral dos adeptos e dos jogadores, o Valencia ainda está à procura de recuperar o ímpeto desportivo que permitiu a conquista da Taça do Rei na época passada mas a verdade é que, em caso de vitória no Wanda Metropolitano, a equipa de Celades poderia este sábado igualar o Atl. Madrid na classificação.

O jogo — que este sábado assinalava o Dia Internacional do Cancro da Mama, com os jogadores a usarem uma braçadeira cor de rosa no braço esquerdo — começou morno, tal como tem sido, aliás, apanágio dos encontros do Atl. Madrid. Depois de um quarto de hora muito disputado no meio-campo, em que os dois conjuntos se estudaram mutuamente e não arriscaram nem cometeram muitos erros, a equipa de Simeone acabou por conseguir encontrar espaço para desequilibrar e conquistar um claro ascendente. As linhas entre Wass e Garay, na esquerda do ataque do Atl. Madrid, estavam a ser exploradas principalmente por Diego Costa, Koke e Saúl, que motivavam as desmarcações de Morata. Foi assim que o Atl. Madrid chegou à primeira oportunidade do jogo, com um cruzamento a partir da direita que Saúl recebeu, Diego Costa amorteceu para o mesmo Saúl e o médio espanhol rematou rasteiro e ao lado (18′).

O Valencia não conseguia impor o seu jogo e mostrava que esta equipa de Celades está a anos luz da de Toral: Dani Parejo, que é o grande maestro no meio-campo e o início da construção de todos os lances, quase não tinha intervenção na partida e o Valencia estava totalmente reduzido ao seu meio-campo, a tentar retardar o mais possível aquele que já parecia o inevitável golo do Atl. Madrid. Diego Costa ficou perto de inaugurar o marcador com um remate ao lado depois de um ressalto (21′) e Morata falhou por centímetros a emenda a uma tentativa de João Félix (32′) mas acabou por ser o primeiro a abrir as contas. Cheryshev interrompeu com a mão um cruzamento de Morata, o árbitro assinalou grande penalidade depois de consultar o VAR e Diego Costa converteu o penálti (36′), marcando pela segunda vez esta temporada para o Campeonato.

Até ao intervalo, o Atl. Madrid não voltou a estar perto do golo mas manteve sempre o domínio das ocorrências, beneficiando principalmente da ausência de pressão do Valencia, que defendia de forma pouco intensa e que permitia conforto aos jogadores de Simeone. No final da primeira parte, os colchoneros venciam bem e de maneira justa, por terem sido inequivocamente melhores do que o adversário, mas estavam longe de ser brilhantes, falhando maioritariamente na definição do último passe na fase mais adiantada.

Na segunda parte, as duas equipas voltaram sem alterações tanto técnicas como táticas e o Valencia permanecia algo inofensivo, sem capacidade para catapultar a posse de bola do setor intermédio para o útlimo terço. Ainda assim, e fruto de uma maior insistência atacante, a equipa de Alberto Celades acabou por ficar muito perto do empate, com Maxi Gómez a aproveitar um erro de Giménez para assistir Cheryshev, que na cara de Oblak acertou em cheio na trave (53′). No minuto seguinte, Simeone trocou Partey e Hermoso por Lemar e Lodi e procurou recuperar o controlo do meio-campo, principalmente a partir da pressão alta que ia exercendo na fase inicial de construção do Valencia.

Numa reta final muito morna e jogada quase a passo, o Valencia não tinha energia para lutar realmente pelo resultado e o Atl. Madrid estava a atuar a favor do relógio, à espera do apito final que valeria três pontos. A cerca de dez minutos dos 90′, João Félix lesionou-se sozinho numa ação defensiva, ao torcer o tornozelo, e acabou por ter de sair diretamente para o balneário e em ombros, sem conseguir colocar o pé no chão: o Atl. Madrid, que nesta altura já havia realizado as três substituições, estava então reduzido a dez unidades até ao final. No lance imediatamente a seguir à lesão de Félix, Dani Parejo atirou um livre direto a tombar na direita e bateu Oblak (82′), relançando uma partida que parecia totalmente decidida até à saída do internacional português.

Em superioridade numérica, o Valencia foi atrás do golo que valeria uma vitória que foi impensável e improvável durante toda a partida: Dani Parejo ficou perto de bisar, com um grande remate rasteiro, mas Oblak segurou o empate (84′) e Lee Kang-in acabou por ser expulso, repondo a igualdade de elementos. Os colchoneros empataram, sofreram um golo pela primeira vez em seis jogos, colheram a consequência de não terem ido à procura do aumentar da vantagem e têm agora menos um ponto do que o Granada, ficando no quarto lugar da classificação, atrás ainda de Barcelona e Real Madrid. Quanto a João Félix, que esteve mais apagado na segunda parte graças também ao desacelerar global de toda a equipa, foi importante nas movimentações do primeiro tempo que acabaram por dar golo. Esteve quase a levar para casa o trunfo de ter cumprido os 90 minutos, ao contrário do que tem vindo a acontecer na Liga espanhola, mas acabou por sofrer uma lesão que pode agora dar dores de cabeça a Simeone.