Depois de ter sido o grande responsável pelo lançamento das trotinetes elétricas da Lime em Espanha, em 2018, Alvaro Salvat chegou no verão Lisboa para liderar as operações da empresa de micromobilidade em Portugal, um país que diz ter mais abertura para a entrada de novas empresas tecnológicas. Neste mês de outubro, faz um ano que a Lime chegou a Portugal. Foi a primeira do género a oferecer este serviço.

Em entrevista ao Observador, o diretor-geral para Portugal faz um balanço da operação: 1,8 milhões de viagens realizadas, a “decisão dura” de deixar de circular em Coimbra e a vontade em entrar em mais cidades portuguesas, desde que as autarquias abram as portas. Para Alvaro Salvat, o futuro deste mercado vai implicar mudanças, incluindo no número de operadores: “Pouco a pouco, a transição natural é que acabem por ficar menos empresas e ficam aquelas que oferecem um melhor serviço”.

O objetivo principal em Lisboa, conta, é “que tudo funcione da melhor maneira possível”, sendo o estacionamento correto uma das grandes prioridades da empresa em Portugal. “Acreditamos que aquilo que ajuda muito a que se estacione de forma responsável é ter uma boa sinalização”, referiu. No “sonho de cidade” do responsável da Lime vivem menos carros privados (e mais taxas para quem os usa), caminhos específicos para trotinetes, bicicletas “e tudo o que possa chegar no futuro”.

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A Lime chegou a Lisboa há um ano e foi a primeira empresa de micromobilidade a entrar no nosso país. Um ano depois, quais são os resultados?
O feedback tem sido muito positivo. Estamos aqui há pouco mais de um ano e, tanto a nível de procura dos utilizadores como a nível institucional, a cidade de Lisboa está preparada e tem vontade de mudar a mobilidade na cidade. Lisboa vai ser no próximo ano uma das cidades “verdes” da Europa e creio que é muito importante que a Câmara Municipal esteja concentrada nisto. Não podemos aceitar que diariamente haja 300 mil trajetos de carro, muitos deles desnecessários, na cidade de Lisboa. Por isso é que estamos a procurar formas alternativas.

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Uma das coisas que nos preocupa muito é o facto de hoje, na Europa, haver mais mortes por poluição do que por tabaco. A grande epidemia do século XXI é a poluição. E, para nós, é muito importante resolver este problema e ir muito mais além do que simplesmente ter um sistema de mobilidade mais eficiente.

E em termos de números em Portugal, como foi este primeiro ano?
Já realizamos mais de 1,8 milhões de viagens em Portugal e esperamos acabar o ano com dois milhões de trajetos.

Com quantos utilizadores conta a Lime em Portugal?
Por uma questão de política da empresa, não podemos revelar dar números.

Nem o número de trotinetes em Lisboa?
Temos mais de mil trotinetes a circular em Lisboa.

Em março entraram na segunda cidade portuguesa, Coimbra, mas em agosto anunciaram que deixariam de circular lá. Porque é que decidiram sair? A cidade e os resultados não foram o que estavam à espera?
Coimbra serviu como aprendizagem. É uma cidade estudantil e o que queremos fazer a partir de agora é ter cidades onde sabemos que podemos lá ficar, que nos permita continuar o nosso modelo de negócio. Coimbra, como cidade, era, talvez, um pouco pequena para nós. Talvez precisássemos de ter mais espaço, uma outra cidade ao redor, para que fizesse sentido em termos de operações. Testámos e vimos que não funcionava como imaginávamos e, por isso, o que queremos fazer a partir de agora é trabalhar com cidades e plantar modelos que saibamos que sejam para ficar.

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As operações dependem muito das características de cada cidade.
Sim, cada cidade é muito diferente, tanto a nível de topografia como de clima e de população. No caso de Coimbra, é uma cidade muito sazonal. Foi uma decisão dura dizer que vamos embora de uma cidade onde gostamos de estar, mas pelo tamanho, pelo fator da sazonalidade era complicado. Queríamos oferecer um bom serviço e para o fazer temos que ter um modelo económico viável e nesse momento não se davam essas circunstâncias.

Mas está nos planos voltarem a Coimbra?
O objetivo é poder regressar, mas quando o fizermos terá de ser com a garantia de que vamos poder continuar a operar.

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Estão a ponderar a entrada noutras cidades portuguesas?
A intenção é continuar em Portugal, tanto por aceitação como pela vontade das Câmaras. Estamos muito alinhados. Para nos expandirmos dependemos muito das autarquias. Estamos em conversas com várias e no momento em que tivermos luz verde por parte de alguma autarquia, então poderemos avançar. Temos de nos concentrar em oferecer um bom serviço e sermos operacionalmente eficientes e termos uma equipa cada vez mais sólida.

Lisboa soube adaptar-se às trotinetes? Passado um ano, a Lime notou diferença no comportamento dos utilizadores?
Sim, mas a mudança não é uma coisa exclusiva de Lisboa. Sabemos que um veículo novo chama logo à atenção, pelo bem e pelo mal. Antes, a conduta de estacionamento não era a melhor e cada vez vai melhorando mais, porque a autarquia faz campanhas e nós também fazemos campanhas de sensibilização, como por exemplo o “Respect The Ride” [em português, “Respeita a viagem”]. Vamos fazer mais eventos no futuro e vamos focar-nos naquilo que para nós é prioritário: a segurança. Ensinar como circular de forma responsável, a utilização do capacete e o próprio estacionamento correto, que também é muito importante porque somos uma parte mais de todo o ecossistema da cidade.

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Quais foram os resultados de todas estas ações de sensibilização?
Creio que tem sido um resultado agregado também às políticas de estacionamento. A cidade de Lisboa disponibilizou às operadoras pontos de estacionamento e penso que é um bom começo, porque temos bastantes pontos para estacionar. Acreditamos que aquilo que ajuda muito a que se estacione de forma responsável é ter uma boa sinalização. Normalmente o utilizador estaciona porque vê um aglomerado de trotinetes e estaciona ali porque elas estão ali. Mas se, em vez disto, tivesse uma sinalização, por exemplo, a indicar uma zona de estacionamento de trotinetes, então o utilizador já sabe que pode estacionar ali. Já vimos isto noutras cidades e tiveram muito bons resultados. Este pode ser um passo seguinte muito positivo.

Saíram também várias notícias de trotinetes que foram apreendidas pela Polícia Municipal por estarem mal estacionadas. A Lime tem verificado muitos casos destes?
Não temos muitos. Se estão mal estacionadas é responsabilidade da Polícia Municipal recolhê-las e aplicar multas. Mas, no geral, não é uma grande preocupação e também dialogamos com a polícia de forma a que estejamos sempre informados e de acordo.

E em relação ao vandalismo, a Lime tem tido muitos problemas?
Isto é uma espécie de padrão: começas as operações na cidade e tens um pico, porque é a novidade, e tens alguns adolescentes que só querem fazer asneiras com as trotinetes. Depois, a coisa começa a acalmar-se, mas é algo que não é muito relevante nas operações. Lisboa é uma cidade bastante responsável e cívica.

Qual é o principal desafio que enfrentam no mercado português?
Para nós, o maior desafio é conseguirmos enraizar-nos naquilo que é todo o ecossistema lisboeta. E por isso é que é muito importante focarmo-nos nos nossos utilizadores. Queremos que os nossos utilizadores se comportem da melhor forma possível e parte dessa responsabilidade é nossa, como dizermos por onde podem circular, por onde não podem, tudo em colaboração com a Câmara Municipal. Sobretudo para os nossos novos utilizadores que nos escolhem como opção de mobilidade, para não lhes darmos razões para que não voltem a utilizar os nossos veículos. E isso passa essencialmente por uma utilização e estacionamento responsável.

Como tem sido o diálogo com a Câmara Municipal de Lisboa?
A minha experiência é muito boa. É uma câmara muito conversadora, tem vontade de aprender em conjunto, incentiva a propor e escuta. Obviamente que aqui é a autarquia que decide, mas há esta vontade em dizer: “Isto é novo para todos, queremos crescer e queremos crescer da melhor maneira”.

“A transição natural é que acabem por ficar menos empresas e ficam aquelas que oferecem um melhor serviço”

Em agosto deste ano, o vereador da mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa, Miguel Gaspar, referiu que o mercado da micromobilidade em Lisboa já vale mais de 50 milhões de euros. Como vê estes valores?
Não sei como foi feito o cálculo, por isso não posso responder a isso. Mas acredito que Miguel Gaspar é o primeiro interessado na micromobilidade em Lisboa, porque sabe que é a forma de eliminar o grande problema da cidade: o tráfego. É um drama circular em Lisboa, sobretudo em horas de ponta. E Lisboa é uma cidade com 500 mil habitantes, não é uma mega cidade, mas a concentração de carros por habitante é desproporcional. Penso que nisto estamos alinhados.

Outra coisa é a forma como o fazemos e é nisso que temos de trabalhar. Para mim, o valor real é o facto de dizermos à sociedade que conseguimos fazer com que estes 350 mil carros sejam 300 mil em dois anos e depois passem a ser 100 mil em cinco anos. É isto que tem mais valor. Obviamente que se conseguirmos isto e, ao mesmo tempo, impulsionar a micromobilidade, acrescentamos maior valor. Mas o importante, mais que os números, é poder erradicar isto e poder respirar ar limpo em Portugal.

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Em Lisboa temos cerca de nove empresas de micromobilidade. Acha que há neste momento players e trotinetes a mais em Portugal? Não há um risco de saturação do mercado?
Acredito que isto é uma tendência geral e que, pouco a pouco, a transição natural é que acabem por ficar menos empresas e ficam aquelas que oferecem um melhor serviço. Atualmente, operar em Lisboa supõe também um custo operativo muito alto e tens de conseguir, por um lado, ser operativamente eficaz e, por outro lado, também ter uma capacidade financeira para poder manter estas operações. É normal que haja cada vez menos empresas ou elas se juntem e acabamos por ter menos operadores. É uma tendência que vamos assistir e tudo isto é muito novo, mas já o vemos em cidades como Madrid em que chegamos a começar com 25 operadores.

E alguma vez a Lime foi abordada neste sentido, de se juntar a alguma empresa?
Sinceramente, sim, por causa da perceção da marca a nível mundial. Somos a empresa líder e uma empresa mais pequena que queria lançar deu-se conta daquilo que falamos agora e disse: “Isto é mais dispendioso e mais complicado do que eu pensava”. O primeiro operador que chamam é a Lime, porque sabem que tem capacidade, mas não é este o nosso modelo. O nosso modelo é competir em serviço e em produto, não comprar e comprar outras empresas. Não é uma política que tenhamos feito até agora porque confiamos que o que estamos a fazer está a ser feito da forma correta e que podemos utilizar os nossos próprios recursos.

Gere também as operações em Espanha. Que diferenças destaca entre o mercado português e o mercado espanhol?
A nível operacional, muda muito numa cidade como Lisboa. A calçada, por exemplo, é muito distinta e há quase montanhas em Lisboa, o que dificulta um pouco o uso e as operações. A nível de uso responsável, acredito que Lisboa é bastante civilizada.

O comportamento é diferente?
Do meu ponto de vista, Portugal é um país que acolhe as empresas tecnológicas de uma forma diferente de Espanha. Lá somos um pouco mais conservadores: começamos por um “não” e depois vamo-nos abrindo aos poucos. Em Portugal acho que é um modelo em que para nós, como empresa e utilizadores, há uma visão mais aberta. Espanha começa por ser mais restrita e, pouco a pouco, vai-se abrindo.

“O Porto é uma cidade muito interessante para nós”

Em cidades, como por exemplo o Porto, em que está a ser criado um regulamento para trotinetes, como é que a Lime lida com estas questões da regulamentação e de uma possível entrada sempre sob determinados parâmetros?
No caso do Porto, o que podemos fazer é dizer que seguimos as recomendações nas mais de 130 cidades onde operamos e vemos aquilo que do nosso ponto de vista funciona e o que não funciona. Mas no final, o decisor é o Porto e fará o que acredita ser conveniente, sempre supondo que escutam o que os operadores acham e o que temos de fazer é adaptarmo-nos às condições que a autarquia nos dá. Mas, desde logo, o Porto é uma cidade muito interessante para nós.

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Há interesse em entrar no Porto?
Sim, o Porto é a segunda maior cidade em Portugal e tem uma área metropolitana muito interessante e que, por exemplo, em relação a Lisboa já tem uma diferença: é mais plana e a nível de utilizadores isso pode ser algo que facilita, se compararmos com a topografia das duas cidades. Mas sim, é uma cidade que nos interessa, que já demonstramos interesse e que continuamos a demonstrá-lo.

Com quantas pessoas conta a equipa da Lime em Portugal?
O que posso dizer é que é uma equipa que variou pouco desde o início e o que estamos a fazer é tentar ser cada vez mais eficientes, conhecer cada vez melhor o mercado e também ter uma equipa com experiência num mercado específico como o de Lisboa.

E dentro desta equipa, apesar de ser de forma colaborativa, a Lime tem também os juicers [cidadãos que recolhem as trotinetes para carregá-las]. Como tem corrido esta colaboração?
O programa Juicers é um complemento à nossa operação. Temos o nosso músculo operacional, que é a equipa interna, e temos também um grupo de colaboradores que nos ajudam a fazer a recolha e a reposição das trotinetes. Estamos muito contentes porque faz parte do espírito da Lime também colaborar com juicers.

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Mas tem havido um aumento das pessoas que querem colaborar com a Lime neste sentido?
Sim, tem tido êxito e o bonito e interessante de tudo isto é que podes colaborar quando quiseres, não há um horário fixo. Podes ser um estudante ou até uma pessoa que tem um trabalho durante o dia e tem tempo para fazer a recolha das trotinetes durante a noite. O modelo é interessante.

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Quais são os próximos passos que a Lime quer dar em Portugal?
Neste momento, estamos centrados em que funcione tudo da melhor maneira possível em Lisboa, tanto a nível operacional como de estacionamento e de consciência dos utilizadores. É nisso que nos estamos a focar. Os próximos passos dependem muito das câmaras, dos passos dos outros. Podemos sugerir, mas os tempos serão sempre marcados pelas autarquias.

Há uns meses foi noticiada a possibilidade de as trotinetes só poderem estacionar em pontos específicos, em Lisboa. Qual é a vossa posição?
As zonas específicas de estacionamento já estão a funcionar atualmente. O que acontece é que, como em tudo — nos carros, nas motas, nas bicicletas –, não é um sistema infalível. Há quem estacione as trotinetes da mesma forma que um carro é estacionado num passeio. O que estamos a fazer, juntamente com a câmara, é estudar formas para melhorar isto, para que, nos sítios designados pela Câmara, possamos estacionar e por isso é que acreditamos que é muito importante a sinalização. Deixar claro que tu, como utilizador de trotinetes, vejas um sinal de estacionamento de trotinetes e digas: “Ok, aqui posso estacionar”. É muito útil e vimos noutras cidades que marca a diferença.

Se a cidade de Lisboa quer estacionamentos designados, que sejam sinalizados para ajudar o utilizador a identificá-los, porque muitas vezes estaciona-se mal por não se saber. Porque é novo para todos.

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E em termos de acidentes com trotinetes, os números são expressivos?
Esses números estão abaixo da média de acidentes com bicicletas e de carros. Se compararmos com outros sistemas de mobilidade, pela informação que temos, é inferior. É algo em que estamos a trabalhar para recolher informação com maior veracidade mas, sim, o que vemos através da tendência tanto em Portugal como noutros países, é que não é um número significativo.

“Temos de encontrar o equilíbrio entre a sustentabilidade e o avanço tecnológico”

Juntaram-se à Uber em agosto de 2018. Para quando vamos ter disponível em Portugal as trotinetes da Lime na aplicação da Uber?
O sistema que é utilizado nas outras cidades permite que com a app da Uber seja possível visualizar as trotinetes da Lime, mas ao contrário não funciona. É algo que também temos de ver no futuro como vai funcionar. Neste momento estamos com este serviço em várias cidades europeias.

Planeiam alterar, por exemplo, os modelos das vossas trotinetes?
A nossa ideia é mudar, mas temos de encontrar o equilíbrio entre a sustentabilidade e o avanço tecnológico. Já introduzimos um novo modelo em várias cidades europeias, o Gen 3, que tem características melhores e é uma evolução do modelo atual. A ideia é que vá entrando pouco a pouco. O que queremos é que quando for a hora de substituir estas trotinetes, que seja feito com um modelo mais fiável e mais seguro. É uma prioridade para nós e temos uma equipa que desenvolve modelos superiores e está sempre de olho nisto.

Há planos para a Lime expandir o tipo de veículos em Portugal? Já existem as bicicletas que ajudam na recolha, mas há planos de, por exemplo, passarmos a ter bicicletas da Lime para alugar?
Temos bicicletas elétricas noutros mercados. Neste momento não pensamos em operar com bicicletas em Portugal, pela simples razão de que acreditamos que as trotinetes são, de certa forma, o nosso produto estrela. Não porque simplesmente nos agrada, mas porque é mais cómodo, tem mais uso, pesa menos e ocupa menos. Se o nosso objetivo é reduzir o número de veículos numa cidade, a tendência indica-nos que as trotinetes são mais usadas do que as bicicletas. Além disso, ocupam menos espaço.

Não veem, então, necessidade de introduzir as bicicletas em Portugal.
Não, porque também já existem operadores que podem resolver esta necessidade, tanto a nível da autarquia, como a nível privado, e acreditamos que o nosso modelo é uma melhor solução e faz mais sentido continuar com as trotinetes.

As prioridades da Lime em Portugal mudaram ou mantêm-se as mesmas de há um ano?
Houve um período de aprendizagem. Não te vou dizer que faríamos tudo igual, porque senão não tínhamos aprendido nada. Mas os pilares da nossa entrada em Portugal continuam os mesmos: a redução da poluição e redução da ocupação do espaço público. Há coisas que podem ser melhoradas, como o estacionamento, que é algo muito importante e vamos continuar a trabalhar nesse sentido.

Como imagina a micromobilidade daqui a cinco anos?
Daqui a cinco anos imagino muito menos operadores e alguns agregadores serão um pouco mais eficientes. Também imagino que comecem a existir fórmulas como o que se verificou na indústria da música, com os modelos de subscrição. Creio que será esse o passo natural. Serão menos empresas de trotinetes e umas quantas de automóveis partilhados e de bicicletas partilhadas. É este o meu sonho: não ter um carro privado e poder utilizar todas as opções que existem na cidade, tanto públicas como privadas.

A mentalidade das pessoas está a mudar nesse sentido?
Sim. É voltar um pouco à questão do tabaco: nunca vais conseguir que todos deixem de fumar. Vai existir sempre alguém que fuma e, desde logo, tem o direito de poder exercer essa liberdade, da mesma forma que uma pessoa que queira circular na cidade no seu carro privado poderá fazê-lo. Agora, vemos o que está a acontecer em Londres, Paris, Copenhaga, onde há taxas de congestionamento, e acho que isto vai ser uma tendência. O que se tem de fazer é promover o uso sustentável de veículos tanto partilháveis como o transporte público e que quem queira utilizar um carro tenha que pagar mais, porque no final estás a utilizar um veículo totalmente ineficiente. Também te direi que daqui a cinco anos as infraestruturas ou vão mudar ou deveriam mudar muito.

Porque as próprias cidades têm de estar preparadas para todas estas mudanças que referiu.
Sim, o ideal é que haja trilhos para os carros, porque continuam a existir, mas muito menos privados. E falo do meu sonho de cidade: carris agregados para trotinetes, bicicletas e tudo o que possa chegar no futuro.