Um selo de “confidencial” estampado e frases rasuradas a negro, sem qualquer manchete. Foi assim que esta segunda-feira apareceram as primeiras páginas dos jornais australianos, numa ação de protesto dos media contra o secretismo por parte governo e contra a censura e represálias que os jornalistas dizem sofrer por revelarem determinadas informações.

“Vocês têm o direito de saber o que é que os governos que elegem estão a fazer em vosso nome. Mas na Austrália, hoje em dia, os media são impedidos de vos informar, as pessoas que falam são penalizadas e o jornalismo que traz a público assuntos que merecem saber é criminalizado”, lê-se no site da campanha, denominada “O direito de Saber” e organizada por vários meios de comunicação australianos. Além da imprensa, as televisões transmitiram também um vídeo que questiona o facto de o Governo “esconder a verdade” do público.

Jornais como o The Australian, o Daily Telegraph, o The Guardian Australia, o Financial Review e o The Sidney Morning Herald decidiram todos aderir à iniciativa. A campanha foi motivada depois de, há cerca de seis meses, terem sido feitas rusgas à sede da cadeia de televisão ABC, em Sidney, e à casa de um jornalista da News Corp, por, alegadamente, terem revelado histórias que não agradavam e comprometiam a imagem do Governo.

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As operações consecutivas, ocorridas muito tempo após a publicação dos artigos, provocaram preocupações de que a polícia esteja tentar intimidar denunciantes e jornalistas. As ações policiais destacaram um aumento aparente do sigilo cultural e restrições legais que afetam a liberdade de imprensa na Austrália”, lê-se no site da iniciativa.

Ao todo, conta o The Guardian, o parlamento australiano aprovou mais de 60 leis relacionadas com o sigilo e espionagem nos últimos 20 anos.“A verdade é que os que estão no poder não querem que o público saiba o que estão a fazer e estão a ocultar a transparência e a responsabilidade para servirem os seus próprios interesses”, referiu a senadora Sarah Hanson-Young.

As empresas de media dizem ter seis objetivos com esta campanha: exigir o direito de contestar mandados de busca; garantir proteções para os denunciantes; restrições ao sigilo do Governo; uma reforma das leis da liberdade de expressão; isenções para proteger jornalistas de processos através de uma série de leis de segurança nacional e uma reforma da lei da difamação.

Os organizadores da campanha citam ainda um estudo conduzido por várias empresas media que revela que 87% das pessoas acreditam que é importante para a Austrália ter uma democracia livre e aberta. A maioria dos entrevistados concordou também que o governo se tem tornado cada vez menos transparente, que os denunciantes são importantes e devem ser protegidos e que os jornalistas devem também ser protegidos da perseguição.

Michael Miller, presidente executivo do News Corp Australia, partilhou a campanha no Twitter e referiu: “Um público informado é o principal guardião da liberdade da Austrália. Temos de questionar o porquê de o governo não só querer desviar a nossa atenção das suas ações, como também o facto de não querer que saibamos o que estão a fazer”.

Já Scott Morrison, primeiro-ministro da Austrália, sublinhou que o governo “acreditará sempre na liberdade de imprensa”, mas reforçou, citado pela Associated Press, que os jornalistas não estão acima da lei.