O líder do Partido Socialista da Catalunha (PSC), Miquel Iceta, deu por satisfatórias as declarações de Quim Torra à CNN, em que condenou a violência que tem marcado as manifestações depois da leitura da sentença que condenou alguns dos políticos e líderes cívicos catalães envolvidos no referendo de 2017 a penas de prisão entre os 9 e os 13 anos.

A condenação da violência por parte de Quim Torra era uma condição sine qua non do Presidente de Governo em funções de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, aceitar os repetidos pedidos do presidente da Generalitat para uma reunião.

Depois de várias afirmações que os socialistas entenderam estarem aquém dessa condição, as palavras de Quim Torra à CNN podem levar a um rumo diferente na relação entre o governo regional catalão e o Governo de Espanha.

“Sempre estive ao lado de um movimento pacífico e democrático, com a bandeira do diálogo e da não-violência. Aqui me mantenho e daqui nunca sairei. A violência não me representa e condeno-a”, disse Quim Torra, numa entrevista emitida esta segunda-feira à noite. “Além disso, a isto poderia enfraquecer o nosso caminho até à independência”, acrescentou o presidente da Generalitat.

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Em declarações à TV3, Miquel Iceta disse: “Ontem, ouvimos pela primeira Torra a condenar a violência”. De acordo com o La Vanguardia, o líder do PSC (filial do PSOE na Catalunha) sublinhou que até agora o presidente da Generalitat não tinha condenado a violência das manifestações com “esta clareza” e atribuiu este desenvolvimento à pressão que partiu do PSC e do PSOE: “Se não tivéssemos insistido, Torra não se teria expressado de forma tão contundente como fez ontem na CNN”.

Miquel Iceta revelou ainda na TV3 que, apesar de não ter tido falado com Quim Torra nos últimos tempos, tem mantido o contacto com o número dois do governo regional da Catalunha, Pere Aragonès. “É possível manter uma relação com o vice-presidente e não com o presidente”, disse o líder do PSC, partido que é federalista e que se opõe à independência. Miquel Iceta disse mesmo que Quim Torra “não está à altura”.

A assunção de Miquel Iceta de que tem mantido contactos com Pere Aragonès é mais uma prova da distância cada vez mais ampla entre as duas forças que compõem o governo regional da Catalunha, isto é, a ERC e o Juntos Pela Catalunha (JPC), de Quim Torra e também Carles Puigdemont. Ao passo que o JPC tem insistido na realização de um novo referendo (na semana passada, Quim Torra chegou o objetivo de repetir em 2020 um referendo semelhante ao de 2017), a ERC já fez saber que prefere não colocar prazos e adotar uma postura mais dialogante.

O líder do PSC disse ainda que o facto de haver líderes políticos e cívicos na prisão “dificulta” encontrar solução ao conflito na Catalunha, mas ainda assim “não faz impossível” a sua busca.