Foi sob chuva forte que, diante de mais de dois mil convidados, entre eles chefes de Estado, de governo e reis, se realizou a cerimónia de entronização de Naruhito, na terça-feira. O 126.º imperador do Japão, que assumiu o trono desde 1 de maio, na sequência da abdicação do pai, Akihito, surgiu de traje tradicional branco no Palácio Imperial em Tóquio.

Acompanhado por funcionários do palácio vestidos de negro que carregavam os tesouros imperiais — a espada e joias —, Naruhito, de 59 anos, percorreu três santuários do palácio antes de mudar para um traje cor de tijolo e subir ao trono para uma cerimónia de 30 minutos perante dois mil convidados de mais de 180 países.

Ao seu lado, num trono mais pequeno, estava a imperatriz Masako que alegadamente envergava 12 camadas de roupa. O casal tem uma filha, Aiko, de 17 anos. Apesar de Aiko ser descendente direta do imperador, a lei imperial não a autoriza a assumir o trono. O primeiro na linha de sucessão é o irmão mais novo do atual imperador, o príncipe Akishino, de 53 anos, uma vez que a sucessão no Japão se faz pela via masculina.

Durante a cerimónia, o imperador declarou a sua entronização e prometeu “ficar ao lado do povo” e cumprir todas as responsabilidades inerentes às funções. Naruhito comprometeu-se a agir de acordo com a Constituição pacifista, elaborada após a Segunda Guerrra Mundial, que impede o país de recorrer à guerra para resolver conflitos.

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O 126.º imperador do Japão, cujo traje obedece a um design com mais de mil anos, prestou ainda tributo ao pai, Akihito, que esteve no trono entre 7 de janeiro de 1989 e 30 de abril de 2019, quando abdicou a favor do filho (o primeiro a fazê-lo em 200 anos). Naruhito prometeu continuar o seu trabalho.

De frente para o imperador, mas numa posição inferior, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, congratulou Naruhito. “Faremos o nosso melhor para criar um futuro pacífico, brilhante e cheio de esperança para o Japão”, disse antes de os convidados entoarem em coro, três vezes, “Banzai, Banzai, Banzai!” — “Longa vida ao imperador!”.

Entre os convidados presentes na cerimónia e no jantar de gala, estavam os reis de Espanha, Felipe e Letizia, o príncipe Carlos de Inglaterra, o príncipe Alberto do Mónaco, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy. A representar Portugal esteve o ex-Presidente Cavaco Silva.

Para assinalar a subida ao trono, as autoridades japonesas assinaram indultos a meio milhão de pessoas, condenadas por crimes menores. Os indultos, que obedecem a uma tradição pré Segunda Guerra Mundial, foram criticados por serem uma decisão pouco democrática.

A parada dos imperadores pelas ruas de Tóquio foi adiada para novembro devido aos danos causados pela passagem do tufão Hagibis. As cerimónias de entronização custaram 16 mil milhões de ienes (mais de 136 milhões de euros) aos contribuintes japoneses. Os críticos da monarquia contestaram este valor, afirmando que esta despesa viola a separação entre Estado e religião, prevista na Constituição.

Esta não foi a única crítica à cerimónia. Houve quem reprovasse o facto de o primeiro-ministro ter discursado a partir de uma posição inferior em relação à do imperador, por isto contrariar a Constituição que afirma que a soberania do monarca reside no povo.

Ainda assim, e apesar da chuva, milhares de japoneses estiveram à porta do Palácio Imperial para saudar o novo imperador.