O antigo chefe da missão militar nacional junto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) José Lima Bacelar afirmou esta quarta-feira que a organização “nunca atravessou uma crise tão profunda”, como se nota pela “falta de diplomacia pública”.

“A NATO nunca atravessou uma crise tão profunda como essa que está a passar. Vê-se, inclusivamente, nos aniversários. Havia sempre um certo dinamismo entre os países e da própria NATO em fazerem todo um conjunto de ações de diplomacia pública no sentido de se de dar a conhecer e que ficou aquém daquilo que foram anteriores aniversários”, disse o vice-almirante José Lima Bacelar. José Lima Bacelar falava à Lusa à margem do seminário comemorativo do 70.º aniversário da assinatura da NATO, na Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel.

Segundo o vice-almirante, “de 10 em 10 anos, normalmente faz-se uma revisão do conselho estratégico”, prevendo que “os problemas que afetam a NATO possam impedir que no próximo ano” haja novo conselho estratégico, o que “é uma má noticia”.

Questionando pela Lusa sobre o papel que a organização pode ter face ao crescimento das posições nacionalistas, José Bacelar aponta que o papel da NATO é reduzido, pois é “o resultado dos países”.

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“[Pode fazer] pouco. A NATO não está acima dos países, a NATO é o resultado dos países. E se os países e as populações desses países não resolvem os problemas, a NATO por si não pode resolver nada, não está acima dos países”, declarou, defendendo que a Europa terá de “investir mais na defesa para chegar gradualmente aos 2% do PIB [Produto Interno Bruto]”, naquela que é “uma reivindicação justa norte-americana”.

O vice-almirante considera que “devido à incapacidade das organizações internacionais” para resolverem “algumas questões” e face ao “engrossamento das correntes nacionalistas”, a “defesa coletiva” e as “relações transatlânticas” ficam fragilizadas, o que diminui o papel da NATO.

“Esses dois movimentos contraditórios [incapacidade das organizações internacionais e aumento dos nacionalismos] debilitam todas as estruturas internacionais. Não é só a NATO, mas obviamente que esta não fica fora dessa onda e dessa fragilidade”, afirmou, explicando: “Se a NATO assume que assenta em dois pilares, defesa coletiva e relação transatlântica, e se ambos os pilares têm fragilidades, eu julgo que, enquanto isso não ficar resolvido, não temos NATO.”.

Na ocasião, representantes dos três ramos das Forças Armadas abordaram as intervenções portuguesas em operações da NATO.

Valentim Rodrigues destacou que a Marinha “participou desde sempre nas forças permanentes” do acordo, dando como exemplo “o combate à pirataria”, a partir de 2001, no oceano Índico.

Eduardo Albuquerque, da Força Área, recordou a primeira missão, em 1992, na antiga Jugoslávia, para “monitorizar as sanções impostas pela ONU”, e ainda as missões no Afeganistão, Somália ou no leste europeu, desde 2014, devido à “crise da Ucrânia”.

Por seu turno, Vítor Meireles dos Santos, do Exército, considerou que aquilo que é o país em matéria de defesa se deve “à participação na aliança” e assinalou que, atualmente, entre “forças e elementos destacados, contam-se 750 militares envolvidos” nas missões da NATO.