Uma equipa de cientistas descobriu algumas características genéticas em células tumorais que podem abrir portas a tratamentos mais eficazes contra o cancro, indica um estudo publicado esta quarta-feira na revista científica Nature.

Depois de sequenciarem o genoma de tumores com metástases de 2.399 pessoas, naquele que é o maior estudo genético de metástases publicado até agora, os investigadores dizem ter descoberto tratamentos mais eficazes para 62% dos participantes, que tinham características genéticas específicas. Em metade deles, esses tratamentos são medicamentos contra o cancro que já estão no mercado. Na outra metade, a resposta está em medicamentos que estão em fase de testes.

As metástases são novos tumores que se formam quando as células de um tumor original viajam pelo organismo e se desenvolvem noutros lugares. Noventa porcento das mortes por cancro ocorrem em pacientes com metástases. E, segundo o relatório do estudo, o problema está “na baixa eficácia do tratamento”: “Uma melhor compreensão das características dos cancros em estágio avançado é necessária para ajudar a adaptar tratamentos personalizados, reduzir excesso de tratamento e melhorar os resultados”, defendem os autores.

Este novo estudo pode ter encontrado a solução. Após compararem as características genéticas das células das metástases com as das células saudáveis retiradas do sangue dos doentes, os investigadores encontraram 70 milhões de mutações. Em alguns casos, essas mutações desligavam os genes que preveniam a formação de cancros ou ligavam os genes que ajudavam à expansão de células cancerígenas.

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Segundo os cientistas, as metástases são geneticamente menos diversas que os tumores primários, mas ambos costumam ter mutações muito semelhantes. As más notícias é que, por serem tão complexos do ponto de vista genético, é difícil encontrar o calcanhar de Aquiles dos cancros. É que, apesar de terem milhares de mutações, poucas delas causam o tumor. Por exemplo, só 67 mutações causam o cancro no rim, 56 o do pâncreas e 178 o do pulmão.

As boas notícias, no entanto, é que as mutações que fazem com que uma célula saudável se transforme numa célula tumoral são praticamente as mesmas que existem tanto nos tumores como nas metástases. Nesses casos, o tal calcanhar de Aquiles fica mais à vista. De acordo com este estudo, em 62% dos casos analisados foram encontrados marcadores genéticos que indicam que os tumores podem ser particularmente mais vulneráveis a tratamentos mais específicos e personalizados.

Estes são os resultados finais de um estudo que já tinha começado a dar frutos em setembro. Os primeiros resultados indicavam que, entre os doentes que podiam beneficiar de um tratamento já aprovado, a utilização dessa terapêutica era considerada off-label em 42% dos casos — ou seja, não tinha sido aprovada para tratar aquele cancro em específico.

Numa atualização a esses números, o estudo especifica agora que, entre os 62% dos pacientes com características genéticas indicadoras de que os tumores podem ser combatidos com tratamentos específicos, 18% deles encontravam resposta num medicamento aprovado para aquele tipo de cancro em específico. Em 13% dos casos, o tumor era vulnerável a medicamentos que não eram indicados para aquele cancro, mas que os médicos podem obter quando acham necessário. E em 31% dos doentes, o tumor podia ser combatido com medicamentos experimentais, em fase de testes.