Não é preciso esta quinta-feira ir a muitos jornais brasileiros para encontrar palavras que descrevam a noite de sonho que o Flamengo teve contra o Grémio na segunda mão das meias-finais da Taça dos Libertadores. Melhor: basta passar pela capa do Extra para se perceber a dimensão do sucesso alcançado, com o “Histórico, exuberante, fantástico, magnífico” a resumir tudo aquilo que se diz sobre a passagem do conjunto do Rio de Janeiro ao jogo decisivo da principal prova de clubes da América do Sul. E ainda há umas analogias que chegam da Argentina, de onde chega o adversário River Plate e onde se fala de um “Flashmengo”. Num e noutro local, Jorge Jesus é centro das atenções. Percebe-se porquê: em menos de cinco meses, os cinco golos sem resposta marcados ao adversário de Porto Alegre têm como contexto por trás um total de cinco recordes já alcançados pelo português.

A evangelização do Maracanã pelo dedo de Jesus, que faz história pelo Flamengo com uma goleada (histórica)

Logo à cabeça, a qualificação para a final da Taça dos Libertadores. Apesar de ser a equipa brasileira com maior número de seguidores e de ter um palmarés recheado no plano estadual e nacional, o Flamengo é apenas a 27.ª melhor equipa na competição em termos de vitórias e ranking de pontos desde que a prova foi criada, tendo por exemplo seis conjuntos brasileiros à sua frente nesse particular (Grémio, São Paulo, Palmeiras, Cruzeiro, Santos e Corinthians). Além disso, tinha chegado apenas por uma vez à final, em 1981, quando a equipa capitaneada por Zico e onde já estava o então jovem central Mozer (que passaria mais tarde pelo Benfica) venceu os chilenos do Cobreloa na partida de desempate realizada em Montevideu, no Uruguai. 38 anos depois, chega a nova decisão.

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O cântico do Maracanã, Gabigol como líder de claque e os aplausos dos jornalistas: a noite de sonho de Jesus no Rio de Janeiro

Depois, a forma como essa qualificação foi obtida. E em duas vertentes: o 5-0 na segunda mão frente ao Grémio foi juntou-se às maiores goleadas de sempre em jogos entre equipas brasileiras para a Taça dos Libertadores, depois da goleada também do Flamengo diante do Santos na fase de grupos de 1984 e do Grémio contra o Palmeiras nos quartos de 1995; em paralelo, foi a segunda maior goleada em encontros a contar para as meias da competição, apenas superado pelo 6-0 do Atl. Nacional com o Danubio em 1989.

Jorge Jesus: “Fazemos isto em todas as equipas por onde passamos”

Já antes, o Flamengo, que no início do reinado de Jorge Jesus chegou a ter oito pontos de diferença para o primeiro lugar e que nesta altura lidera o Campeonato com mais dez pontos do que o Palmeiras e mais 13 do que o Santos, tinha conseguido dois registos históricos na principal competição nacional.

À 23.ª jornada, os rubro-negros bateram o recorde de pontos desde que o Campeonato se joga com 20 equipas a duas voltas – e a marca não ficou por aí, porque desde o triunfo alcançado fora com a Chapecoense que o conjunto comandado por Jorge Jesus tem vindo a somar vitórias atrás de vitórias, num total conjunto de 13 vitórias e um empate nas últimas 14 partidas desde a inesperada derrota com o Bahia à 13.ª jornada. Ao mesmo tempo, o Fla conseguiu ainda bater o recorde de triunfos consecutivos no Campeonato (era sete, passou a oito) que foi apenas interrompido pelo nulo com o São Paulo – e que vai agora agora em cinco vitórias seguidas.

Segredos? Muitos. Palavras mágicas? Sobretudo uma, como destacou o avançado Bruno Henrique no final do jogo no Maracanã. “[Jorge Jesus] É um cara que chegou e entendeu o que é ser Flamengo. Ele é um cara muito dedicado a tudo que faz. Mesmo a ganhar por 5-0, ele pede-nos para jogar futebol, desfrutar. É a palavra que ele sempre fala: desfrutar. Ter alegria e prazer de jogar futebol, diante de uma torcida como esta e um clube tão grande quanto o Flamengo”, contou o dianteiro que faz dupla com Gabigol na frente e levam já 60 golos em 2019.