Em junho, quando foi confirmado que Jorge Jesus ia mesmo ser o novo treinador do Flamengo, a dúvida entre os brasileiros era só uma: quanto tempo é que um português ia durar no comando técnico de uma equipa como o Flamengo? Com o passar dos dias, das semanas, dos meses, as dúvidas dos brasileiros foram sendo dissipadas para abrir espaço a outras novas. Quantas vitórias seguidas poderia Jesus conseguir?, será que Jesus vai chegar ao topo do Brasileirão?, será que elimina o Internacional nos quartos de final da Libertadores?, será possível ultrapassar o Grémio e chegar à primeira final continental em 38 anos? Jorge Jesus, que nem professor, tirou as dúvidas, uma por uma, a toda a gente. E agora, campeonato à parte, só resta afastar mais uma — será que o Flamengo vai conseguir ganhar ao River Plate na final e vencer a Libertadores pela primeira vez desde 1981?

A evangelização do Maracanã pelo dedo de Jesus, que faz história pelo Flamengo com uma goleada (histórica)

Esta quarta-feira, o Maracanã assistiu a uma goleada memorável do Flamengo, que atropelou o Grémio e carimbou o passaporte para a final da Libertadores depois de também o River Plate o ter feito no dia anterior. No final do jogo, depois dos golos de Bruno Henrique, Gabigol, Pablo Marí e Rodrigo Caio, o estádio explodiu de alegria e os cânticos personalizados vindos da bancada sucederam-se. Ouvia-se, em uníssono, “olé, mister”, uma homenagem ao treinador português que chegou em junho e em outubro tem a equipa no primeiro lugar do Brasileirão e na final da principal competição continental. Gabigol, uma das referências para Jorge Jesus que ganhou um novo fôlego e um inequívoco protagonismo desde que o técnico aterrou no Rio de Janeiro, juntou-se às bancadas e aos adeptos para cantar pelo treinador e aplaudir, quase como um líder de claque.

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No relvado, enquanto todos os jogadores, a equipa técnica e o restante staff festejavam a passagem à final, Jorge Jesus estava mais resguardado, perto dos bancos de suplentes, depois de se ter desdobrado em flash interviews. Assim que se aperceberam de que estavam a comandar as celebrações, com o Maracanã totalmente lotado, sem a presença do treinador, os jogadores chamaram imediatamente por Jesus, que se fez difícil e quase obrigou Diego e Éverton Ribeiro a irem buscá-lo pela mão. O estádio foi à loucura com a integração do técnico nos festejos e o português pediu duas “corridinhas”, de mãos dadas, para a equipa agradecer aos milhares que estavam nas bancadas.

Esta quinta-feira, Jorge Jesus e o Flamengo dominam a imprensa brasileira — que usa repetidamente os adjetivos “épico”, “magnífico”, “histórico” e “exuberante” — mas também a argentina, que já antevê o encontro entre o clube do Rio e o River Plate. O “Flashmengo”, como lhe chama o Olé, é de “meter medo”, em considerações que giram sempre à volta do treinador português e da revolução que empreendeu na equipa ao longo dos cinco meses que já passou no Brasil. Quando apareceu na conferência de imprensa, “rouco mas não emocionado”, como o próprio ressalvou, Jesus agradeceu aos jogadores, agradeceu ao clube, agradeceu aos adeptos, agradeceu aos portugueses que ficaram acordados até de madrugada para assistir à partida e lembrou que as finais não se jogam, ganham-se. No fim, quando se levantou, foi aplaudido pelos jornalistas — os mesmos que em junho diziam que um português que só tinha treinado em Portugal e na Arábia Saudita nada podia fazer no Brasil.

Jorge Jesus começou a noite a brincar com as crianças que acompanharam os jogadores até ao relvado, celebrou cinco golos, reprovou cada erro como se estivesse a perder e no fim, num apito final que pouco ou nada teve de entusiasmante porque o resultado há muito que estava decidido, limitou-se a entrar a passo dentro de campo. Sorriu, bateu palmas, cantou e gritou até ficar rouco. E desfrutou — indo ao encontro da palavra que, segundo Bruno Henrique, é a que mais utiliza nas palestras. “É um cara que chegou e entendeu o que é ser Flamengo. É um cara muito dedicado a tudo o que faz. Mesmo a ganhar por 5-0 ele pede-nos para jogar futebol, para desfrutar. É a palavra que ele sempre fala: desfrutar. Ter alegria e prazer de jogar futebol. Diante de uma torcida como esta e um clube tão grande como o Flamengo”, revelou o avançado.