A morte do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, conforme foi anunciada este domingo por Donald Trump, está a receber diferentes reações em todo o mundo, com alguns líderes a congratularem abertamente este desenvolvimento, outros a recebê-lo com mais cautela e ainda um que duvida mesmo da veracidade da notícia.

França: Um “golpe duro” que “não passa de uma etapa”

O Presidente francês, Emmanuel Macron, reagiu à notícia com um tweet. “A morte de al-Baghdadi é um golpe duro contra o Daech, mas não passa de uma etapa. O combate continua com os nossos parceiros da coligação internacional para que [aquela] organização terrorista seja definitivamente derrotada. É essa a nossa prioridade no Levante”, escreveu Emmanuel Macron.

A hesitação do Presidente francês em realçar a importância deste momento, tal como a posição que toma ao sublinhar os parceiros da coligação internacional que combate o Estado Islâmico, pode ser visto como uma mensagem de Emmanuel Macron ao Presidente dos EUA. Em dezembro de 2018, quando Donald Trump anunciou a saída das tropas norte-americanas da Síria, acabando depois por recuar, Emmanuel Macron disse à altura que “um aliado tem de ser confiável”.

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Ainda antes do chefe de Estado francês, o governo gaulês reagiu pela mão da sua ministra da Defesa, Florence Parly. “Reforma antecipada para um terrorista, mas não para a sua organização. Vamos continuar o combate sem descanso contra o Daesh, com os nosso aliados, adaptando-nos às novas circunstância regionais”, escreveu a ministra da Defesa francesa, que num segundo tweet felicitou ainda “os nossos aliados americanos por esta operação” e chamou atenção para “todas as vítimas da loucura de Baghdadi e dos criminosos que o seguiram”.

Reino Unido: “A batalha contra o mal do Daesh ainda não acabou”

Da parte do Reino Unido, que tal como a França também faz parte da coligação de combate ao Estado Islâmico na Síria, as reações também procuraram sublinhar que aquele grupo terrorista não desapareceu com a morte do seu líder.

“A morte de Baghdadi é um momento importante na nossa luta contra o terror, mas a batalha contra o mal do Daesh ainda não acabou. Vamos trabalhar com os nossos aliados para levar ao fim das atividades homicidas e bárbaras do Daesh de uma vez por todas”, escreveu o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, no Twitter.

O ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Dominic Raab, sublinhou os compromissos elencados pelo seu chefe de governo. “Após a morte do líder do Daesh, não podemos permitir que o Daesh glorifique alguém que impulsionou crimes de uma forma tão desumana e aberrante. O Reino Unido vai continuar a apoiar os esforços para derrotar o Daesh”, escreveu o chefe da diplomacia britânica.

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Iraque: foi o “trabalho intensivo” de Bagdade que localizou o líder do Estado Islâmico

Da parte do Iraque, país no qual o Estado Islâmico teve origem, tendo conseguido a partir dali cruzar a fronteira com a Síria no pico da guerra naquele país vizinho, a reação serviu para sublinhar foram os seus serviços de informação que localizaram o esconderijo de al-Baghdadi. A par da Síria, o Iraque foi país onde o Estado Islâmico fez mais vítimas, entre operações militares e atentados terorristas.

Num comunicado do Governo do Iraque, ao qual a Reuters teve acesso, lê-se: “Após o trabalho intensivo de uma equipa dedicada ao longo de mais de um ano, os serviços de informação do Iraque conseguiram localizar com eficácia o esconderijo do terrorista Abu Bakr al-Baghdadi na província síria de Idlib”.

O comunicado refere que foi só depois disso que as forças norte-americanas, “em coordenação com os serviços de informação do Iraque, levaram a cabo uma operação que levou à eliminação do terrorista al-Baghdadi”.

Esta notícia surge numa altura em que, no Iraque, milhares de manifetantes saem à rua apesar da violência com que são recebidos pelas autoridades. Ao longo do fim-de-semana, já terão morrido 63 pessoas nestas manifestações, de acordo com a ONG Alto Comissariado do Iraque para os Direitos Humanos. Os manifestantes, na sua maioria jovens sunitas, exigem o fim do governo iraquiano.

Turquia: “Um ponto de viragem nanossa luta conjunta contra o terrorismo”

Mais positiva foi a reação da Turquia, cujo Presidente, Recep Tayyip Erdoğan, felicitou sem reservas a operação norte-americana que levou à morte do líder do Estado Islâmico.

“A morte do líder do Daesh marca um ponto de viragem na nossa luta conjunta contra o terrorismo. A Turquia continuará a apoiar os esforços anti-terrorismo, tal como tem feito no passado”, escreveu, num post em inglês no Twitter, o Presidente da Turquia.

O líder do regime turco aproveitou ainda a ocasião para equiparar o YPG (as forças curdas que foram aliadas dos EUA até, no início deste mês, Donald Trump ter anunciado a saída dos seus soldados que auxiliavam os soldados curdos) ao grupo terrorista PKK.

“Tendo pago o preço mais alto na luta contr ao Daesh, PKK/YP e outras organizações terroristas, a Turquia saúda este desenvolvimento. Estou confiante de que uma luta decisiva contra o terrorismo, em linha com um espírito de aliança, trará paz a toda a humanidade”, escreveu Recep Tayyip Erdoğan.

Irão: “Simplesmente mataram a vossa criatura”

Sem surpresas, é do Irão que surgem as reações mais céticas em relação à morte de Abu Bakr al-Baghdadi. Apesar de combater o Estado Islâmico na Síria (como, de resto, fazem vários atores naquela guerra, incluindo até outros grupos terroristas), o regime de Teerão aponta frequentemente o dedo a alguns seus maiores rivais geopolíticos quando toca a apontar responsabilidades sobre o aparecimento e sustento do Estado Islâmico. Isto é, o Irão atribui aos EUA e à Arábia Saudita, entre outros, a sobrevivência do Estado Islâmico.

A contribuir para esta posição está também o facto de o Irão ser um país maioritariamente xiita e de o Estado Islâmico ser sunita, à imagem da Arábia Saudita, aliada estratégica dos EUA no Médio Oriente.

“Não é grande coisa! Simplesmente mataram a vossa criatura”, escreveu no Twitter o ministro da Informação do Irão, Azari Jahromi.

Mais extenso, mas igualmente cético, foi o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabiei. Atribuindo o desenvolvimento do Estado Islâmico a três causas — “política americana, petrodólares da região do Médio Oriente e um pensamento apóstata” —, Ali Rabiei disse que o Estado Islâmico só chegará ao fim no dia em que “estas três fontes ficarem secas, nomeadamente os pântanos do terrorismo”.

Rússia: ceticismo em relação a “mais uma ‘morte’ de Abu Bakr al-Baghdadi”

Da parte da Rússia, também há ceticismo em torno desta notícia — e não é sequer em relação às suas consequências, mas antes no que diz respeito à sua veracidade.

“O Ministério da Defesa da Rússia não possui informação fiável sobre os militares dos EUA que terão levado a cabo uma operação na parte que a Turquia controla na zona de inversão de escalada de Idlib, nem sobre mais uma ‘eliminação’ do ex-líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi”, afirmou, com pitada de ironia, o major-general Igor Konashenkov, citado pela agência Ria Novosti.

O mesmo responsável russo disse ainda que, “depois de o Estado Islâmico ter sido derrotado pelas forças do governo da Síria com o apoio das forças aéreas da Rússia no início de 2018”, aquilo a que ironicamente chamou de “mais uma ‘morte’ de Abu Bakr al-Baghdadi não terá impacto na situação na Síria ou nas ações dos terroristas que estão em Idlib”.

O major-general Igor Konashenkov negou ainda ter apoiado a operação dos EUA, apesar de Donald Trump ter elogiado a Rússia, dizendo que os russos foram “muito cooperantes” e “bons”.

“Não sabemos nada sobre qualquer apoio ao voo de uma aeronave dos EUA no espaço aéreo da zona de inversão de escalada de Idlib no decurso desta operação”, referiu aquele militar.

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NATO: “Passo importante”

Mais uma reação: o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que a morte do líder do grupo extremista Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al-Baghdadi, anunciada por Donald Trump, foi um “passo importante” na luta contra o “terrorismo internacional”.

“O anúncio norte-americano da operação contra Abu Bakr al-Baghdadi é um passo importante nos nossos esforços contra o terrorismo internacional. A NATO continua empenhada na luta contra o inimigo comum do EI”, afirmou Stoltenberg através da rede social Twitter.