Liverpool e Tottenham encontravam-se este domingo depois de terem ido à Europa espantar fantasmas, recuperar confiança e recarregar energias. A equipa de Jürgen Klopp venceu o Genk na Bélgica, de forma natural e inequívoca, num jogo em que Oxlade-Chamberlain esteve em evidência e que serviu para esquecer o empate com o Manchester United que pôs fim a uma série de 17 partidas consecutivas a ganhar na Premier League e encurtou a distância para o Manchester City. Já a de Mauricio Pochettino, que está a anos-luz do nível que apresentou na temporada passada, goleou o Estrela Vermelha também na Liga dos Campeões e alcançou um resultado importante tendo em conta o 10.º lugar que ocupa em Inglaterra e os três encontros seguidos sem vencer (Bayern, Brighton e Watford).

Os objetivos de parte a parte eram claros: de um lado, o Liverpool precisava de vencer para responder à vitória do Manchester City já nesta jornada e recuperar a distância no topo da tabela; do outro, o Tottenham necessita de todos os pontos que conseguir conquistar e um resultado positivo com os reds, ou pelo menos a ausência de um negativo, significaria um boost de confiança numa equipa que ficou totalmente irreconhecível no espaço de parcos meses.

Depois de fazer alguma alterações a meio da semana e colocar em campo, contra o Genk, um onze notoriamente ofensivo, Klopp voltava à fórmula dita habitual e lançava um meio-campo com Henderson, Fabinho e Wijnaldum a apoiar o trio Salah, Firmino e Mané. Já o Tottenham, face à aptidão de todos os elementos de um quarteto maravilha que não tem sido muito regular, tinha Dele Alli, Eriksen e Son nas costas de Kane e Lucas Moura e Ndombélé no banco de suplentes. Num início de jogo que justificou desde logo o preço dos bilhetes dos milhares que se deslocaram a Anfield — e o facto de este ser um encontro entre dois dos big six ingleses –, o Liverpool beneficiou da primeira oportunidade e viu a equipa de Pochettino, na transição ofensiva consequente, inaugurar o marcador ainda dentro do minuto inicial.

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Sissoko cavalgou pela faixa central, deixando para trás vários adversários, e abriu para Son no corredor esquerdo. O jogador sul-coreano puxou para dentro e atirou a visar a baliza mas a bola desviou num defesa do Liverpool e foi direita à barra; na recarga, de cabeça e sem qualquer oposição, Harry Kane marcou um golo aos reds em Anfield no primeiro minuto pela primeira vez desde 1999 (o último tinha sido por intermédio de Olivier Decourt, do Everton). Obrigado a realizar um jogo em formato remontada desde os primeiros instantes, o Liverpool colocou a primeira linha de construção no meio-campo e empurrou o Tottenham para a própria baliza: mais organizados do que aquilo que seria de esperar, face ao descalabro defensivo que tem sido este início de temporada, os spurs estagnaram a transição ofensiva, desistiram de avançar de forma construtiva e limitaram-se a defender a vantagem.

O internacional inglês inaugurou o marcador ainda no primeiro minuto

Se o Tottenham circulava a bola diretamente do setor mais recuado para o mais adiantado, sem passagem pelo intermédio e com Dele Alli e Eriksen a serem quase espectadores até ao intervalo, o Liverpool aplicou a velocidade máxima durante toda a primeira parte, com especial impacto nos instantes antes da meia-hora. Salah e Firmino poderiam ter empatado, num lance em que o primeiro rematou de fora de área e o segundo apareceu na recarga (27′), e também Trent Alexander-Arnold tentou a sorte de longe — estas duas jogadas tiveram como elemento comum duas defesas impressionantes de Gazzaniga, o guarda-redes argentino que é agora titular do Tottenham face à grave lesão de Lloris.

O jogo chegou ao intervalo totalmente desequilibrado, com o Liverpool a dispor das únicas oportunidades de golo da partida (com a exceção óbvia do golo de Kane) e o Tottenham a aplicar uma eficaz pressão na faixa central, por intermédio de Winks e Sissoko, que ia asfixiando a mobilidade de Roberto Firmino. No final da primeira parte, apesar da absoluta superioridade da equipa de Klopp, era Pochettino quem vencia em Anfield. No segundo tempo, os primeiros instantes mostraram desde logo que o jogo tinha voltado como que tirado a papel químico daquilo que foi a primeira parte e o Liverpool voltava a inclinar o relvado em direção à baliza dos spurs. A eficácia, essa, não tardou como aconteceu até ao intervalo.

Antes de estarem cumpridos 10 minutos de segundo tempo, Fabinho recuperou uma bola perto da grande área adversária e solicitou Henderson com um passe pingado enquanto o capitão acelerava para a zona do segundo poste. Kyle Walker ainda desviou a bola numa tentativa de interceção mas Henderson surgiu mais que a tempo para bater Gazzaniga e empatar a partida (52′). A pressão dos reds manteve-se mas o Tottenham, não só através das defesas do guarda-redes argentino como também de uma pouco habitual consistência defensiva, ia conseguindo evitar a remontada. A reviravolta, porém, confirmou-se a cerca de um quarto de hora do apito final, depois de Mané sofrer uma grande penalidade de Aurier e Salah converter (75′).

Até ao fim, Klopp ainda lançou James Milner para reforçar o controlo do meio-campo e o Tottenham espaçou os setores, algo que ainda não tinha feito na segunda parte, para procurar o segundo golo mas já não conseguiu bater Alisson. Pela terceira vez esta temporada, os spurs desperdiçaram uma vantagem ao intervalo fora de portas e falharam a subida ao sexto lugar da Premier League. Quanto ao Liverpool, depois do empate com o Manchester United, regressaram às exibições consistentes, às vitórias a nível interno e responderam ao resultado do Manchester City. A lei natural da vida, onde o Liverpool é inequivocamente superior ao Tottenham, impôs-se este domingo em Anfield: mas Gazzaniga, que defendeu quase tudo e fez esquecer o lesionado Lloris, merecia muito mais.