Newcastle e Wolverhampton são o exemplo dos dois caminhos diferentes que as equipas podem seguir quando sobem dos escalões inferiores ao principal. O primeiro, depois um início de milénio em que andou pelo topo da Premier League, nos tempos de Alan Shearer e Bellamy, caiu para a segunda liga, regressou há duas temporadas e pouco mais tem conseguido do que garantir a manutenção e procurar os lugares intermédios da tabela. O segundo, depois de décadas de ausência da Premier League, voltou com estrondo ao primeiro escalão na temporada passada, ficou em sétimo logo depois dos big six e garantiu uma vaga na Liga Europa.

Inevitavelmente, Newcastle e Wolverhampton estão nesta altura em categorias diferentes do futebol inglês e europeu. A equipa de Nuno Espírito Santo, que começou a temporada muito cedo devido à Liga Europa e demorou a arrancar, tanto no Campeonato como nas competições europeias, leva agora sete jogos sem perder em todas as frentes e reforçou uma confiança crescente com uma vitória frente ao Manchester City ainda antes da pausa para as seleções. Já o Newcastle, que tem um conjunto de jogadores interessantes na frente de ataque mas demonstra uma fragilidade defensiva fora do normal, mascarou uma goleada com o Leicester com uma surpreendente vitória perante o Manchester United e procurava este domingo, com o Wolves, ganhar pontos a uma equipa que estava à entrada desta jornada a apenas três pontos de distância.

Em St. James Park, Espírito Santo não tinha o indiscutível Boly, que se lesionou num treino e cujo tempo de paragem, que se adivinha prolongado, é ainda desconhecido. Com o onze normal em campo — à exceção da ausência do defesa — depois de algumas trocas na Liga Europa a meio da semana, o Wolves visitava o Newcastle com Diogo Jota a fazer companhia a Raúl Jiménez na frente de ataque e João Moutinho e Rúben Neves como titulares no meio-campo. Do outro lado, o maestro Miguel Almirón tinha os irmãos Longstaff e o virtuoso Saint-Maximin no apoio, numa formação montada por Steve Bruce que apostava claramente na transição rápida e no aproveitamento de situações de superioridade numérica.

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Numa primeira parte com pouco sumo, o Wolves foi tendo mais bola mas não conseguia transformá-la em ocasiões de golo ou jogadas ponderadas com cabeça, tronco e membros. As perdas de bola na saída a jogar, logo na zona do meio-campo, ofereciam iniciativa ao Newcastle — que não acelerava a partida e agradecia o baixo ritmo de jogo, de forma a precaver-se do intenso ímpeto ofensivo do Wolves e explorar formas de quebrar a organizada transição defensiva da equipa de Nuno Espírito Santo. O Newcastle conquistou um ascendente relevante a partir da meia-hora, depois de Miguel Almirón protagonizar a primeira oportunidade do jogo ao atirar à malha lateral da baliza de Rui Patrício (34′), e acabou por conseguir inaugurar o marcador durante esse período de controlo das ocorrências, em que criou uma mão cheia de lances que empurraram o Wolves para junto da própria baliza.

João Moutinho foi titular na equipa de Nuno Espírito Santo

Numa jogada de insistência em que Diogo Jota cometeu um erro fulcral na saída a jogar, o capitão Lascelles respondeu com um cabeceamento ao primeiro poste a um cruzamento a partir da direita e colocou o Newcastle a ganhar (37′). Até ao intervalo, o Wolves pouco ou nada conseguiu fazer para ficar perto de empatar e ia mostrando muitas dificuldades em chegar de forma vertical ao setor mais adiantado, principalmente pela faixa central. Na segunda parte, Nuno Espírito Santo alterou o sistema tático da equipa de um 3x5x2 para um 3x4x3, potenciando o poder de explosão de Adama Traoré e explorando aquilo que o jogador formado no Barcelona tem para oferecer ao ataque.

A dimensão física do avançado espanhol, aliada a um discernimento técnico que parece melhorar a cada jogo, era o principal motor de um conjunto do Wolves que completou 15 minutos de total domínio na segunda parte, não permitindo que o Newcastle saísse de forma organizada como havia feito até ao intervalo. Diogo Jota poderia ter empatado numa situação individual em que só pecou na previsibilidade do remate (64′) mas os minutos iam passando sem o golo do Wolves e com um crescente conforto do Newcastle na partida.  O avançado foi substituído por outro português, Pedro Neto, e Nuno Espírito Santo parecia empurrar cada vez mais a equipa para o corredor direito, onde Traoré era dono e senhor dos últimos 30 metros, Dendoncker e Rúben Neves apareciam bem nas costas do espanhol e Jiménez era móvel o suficiente para jogar em zonas interiores e oferecer linhas de passe.

Foi assim que acabou por surgir o empate. Raúl Jiménez apareceu tombado na direita para cruzar para o interior da grande área, Dubravka saiu em falso em fez um autêntico passe para Jonny Castro, que disparou para uma baliza praticamente deserta (73′). Castro, por sua vez, aparecia em zona de finalização graças à entrada de Pedro Neto, que se ocupou da largura na esquerda e ofereceu ao espanhol o espaço entrelinhas. O jogo partiu ligeiramente depois do empate, principalmente porque o Newcastle reagiu ao golo sofrido e procurou, pela primeira vez na segunda parte, chegar mais perto da baliza de Rui Patrício: tudo se alterou, porém, a dez minutos do apito final, quando Sean Longstaff viu cartão vermelho direto depois de uma entrada dura sobre Rúben Neves.

A partida tornou-se algo incaracterística até ao final e o Wolves acabou por não conseguir chegar à vitória num terreno onde marcou o golo decisivo no último minuto na temporada passada. A equipa de Nuno Espírito Santo, que parece ter entrado numa fase mais tranquila da época no que diz respeito a resultados, evitou a derrota que poderia significar o quebrar de rotinas mas falhou os três pontos que a poderiam aproximar dos lugares logo abaixo dos tubarões da Premier League. O pior dos males, esse, foi garantido por Jonny Castro, o Jonny B. Goode que salvou o dia do Wolves e de Espírito Santo.