O Presidente do Brasil negou, na terça-feira, qualquer envolvimento no homicídio da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, em 2018, e insultou a rede Globo pela transmissão de uma reportagem que o coloca na investigação.
“Vocês são canalhas, patifes, são são patriotas, não pensam no Brasil”, o que “é que vocês querem? Querem acabar com o Brasil?”, disse Jair Bolsonaro, visivelmente exaltado, num vídeo de 24 minutos transmitido na rede social Facebook, em que acusou a Globo de receber dinheiro do Estado no tempo do PT. “Essa teta acabou!”, afirmou.
Segundo a Folha de São Paulo, Jair Bolsonaro acrescentou: “Vocês vão renovar a concessão em 2022. Não vou persegui-los, mas o processo vai estar limpo. Se o processo não estiver limpo, legal, não tem renovação da concessão de vocês, nem de TV nenhuma”. A concessão da TV Globo, um órgão publico, vence a 15 de abril de 2023. É o presidente quem decide se é renovada ou derrubada, embora essa decisão, que tem de ser tomada até um ano antes de ela se efetivar, tenha sempre de ser analisada pelo Congresso.
O Presidente lamentou ainda que o jornalista da Globo, que está com ele numa visita à Arábia Saudita, não o tenha ouvido sobre o assunto e acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, de ter dado informações à televisão sobre um processo ainda em segredo de justiça. Aliás, avisou a Globo que terá de ser “investigada” por ter tido acesso a essa informação protegida por lei e perguntou.
“Tenho o compromisso de tirar o Brasil do buraco, apesar da imprensa suja, nojenta, desonesta e imoral, como a Rádio e Televisão Globo”, acrescentou. “Vamos resistir, a verdade está do meu lado. Quero servir o meu país como Presidente da República”, disse.
De acordo com a reportagem da Globo, difundida na terça-feira, um dos suspeitos de participar no homicídio de Marielle esteve no condomínio de Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018, dia em que a vereadora de esquerda e o motorista Anderson Gomes foram mortos a tiro.
Um porteiro do condomínio, citado pela Globo, disse que o ex-polícia Élcio Queiroz, já formalmente acusado de ter sido um dos autores materiais do crime, afirmou à entrada que queria visitar Jair Bolsonaro, então deputado federal.
Segundo a mesma fonte, alguém de casa de Bolsonaro autorizou a entrada, mas Queiroz acabou por dirigir-se à residência de Ronnie Lessa, acusado de balear Marielle horas depois, naquele mesmo dia, e que vive no mesmo condomínio de Bolsonaro.
De acordo com o registo da Câmara dos Deputados brasileira, Bolsonaro estava em Brasília em 14 de março de 2018, o que o Presidente reiterou neste vídeo.
“Ou o porteiro mentiu, ou induziram o porteiro a cometer um falso testemunho, ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu nem assinou. Qual é a intenção? Sempre a mesma, todo o tempo em cima da minha família, dos meus filhos e de quem está próximo de mim”, disse Bolsonaro.
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), ao qual Marielle Franco pertencia, informou ter pedido, após a transmissão da reportagem, uma “audiência imediata” com o presidente do Supremo Tribunal Federal, José Antonio Dias Toffoli.
“Exigimos esclarecimentos imediatamente. O PSOL nunca fez qualquer ilação entre o assassinato e Jair Bolsonaro. Mas as informações veiculadas hoje são gravíssimas. O Brasil não pode conviver com qualquer dúvida sobre a relação entre o Presidente da República e um assassinato. As autoridades responsáveis pela investigação precisam se manifestar. Exigimos respostas”, indicou, em comunicado, o PSOL.
Bolsonaro acusou a Globo de perseguir a sua família, fazendo alusão a vários elementos que têm sido visados em notícias, como o do seu filho Flávio que tem um processo judicial e perguntou: “Qual é a intenção de vocês? Conseguir através de farsa, uma possível condenação de um filho meu? É esse o orgasmo da TV Globo? Ver um filho meu, um irmão meu, presos?”
