A Comissão de Utentes de Saúde do Seixal considerou esta quinta-feira, em declarações à Rádio Observador, que a falta de profissionais no hospital Garcia de Orta “não é aceitável” e defendeu que uma das soluções pode passar por denunciar o caso à União Europeia e ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

José Lourenço, da Comissão de Utentes de Saúde do Seixal, frisou que o problema é tão mais grave por se tratar de um “hospital público, principalmente, um hospital desta dimensão que serve quase 500 mil pessoas” e que, por essas razões, “deve estar provido de todos os profissionais necessários ao seu funcionamento”.

A Comissão de Utentes entende que “se a tutela não autoriza a contratação” de novos profissionais e “se não abre concursos com vagas suficientes para que isso aconteça, a tutela tem que ser chamada à responsabilidade”, defendendo que “se necessário, os utentes vão recorrer à União Europeia e ao Tribunal dos Direitos do Homem”.

José Lourenço acrescentou ainda que a Comissão está preocupada com o agravamento das condições no Garcia de Orta e que é preciso fixar os médicos nos hospitais públicos através de condições mais atrativas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O que se está a pedir é que sejam repostas condições que já existiram, nomeadamente, a opção de dedicação exclusiva. A dedicação exclusiva a um hospital implica uma majoração de salário, mas implica também níveis diferentes de realização em termos de carreira. É tornar os hospitais públicos em universidades de formação de novos médicos. O que tem de ser alterado é o paradigma da saúde, porque tudo aquilo que tem sido feito é empurrar a saúde para o privado”, criticou.

Na passada quinta-feira, cerca de 20 especialistas de Medicina Interna do hospital Garcia de Orta entregaram uma declaração de indisponibilidade para fazer horas suplementares às previstas no seu contrato de trabalho, pondo assim em risco a urgência do hospital.

Internistas do Garcia de Orta recusam-se a fazer horas extra. Urgência em risco

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, diz que a Ordem já enviou uma carta a pedir esclarecimentos à administração do hospital e garantiu que vai acompanhar pessoalmente a situação.

“Eu vou fazer uma visita ao hospital Garcia de Orta, vou falar pessoalmente com os médicos e com a administração, sem prejuízo de hoje já ter seguido uma carta para a administração”, esclareceu.

Por seu torno, Jorge Roque Cunha, presidente Sindicato Independente dos Médicos (SIM),  recordou, em declarações à Rádio Observador, que os médicos da urgência do Garcia de Orta já acumularam mais de 300 horas extra, o dobro do que a lei permite, mas a situação está longe de ser exceção.

“A situação que se vive no país é de extraordinária complexidade e dificuldade, agravada pela circunstância de que o Ministério da Saúde preocupa-se em camuflar e dizer que não existem qualquer tipo de problemas”, denunciou o presidente do SIM.

Jorge Roque Cunha assegura que “no ano passado, seis milhões de horas extraordinárias foram efetuadas pelos médicos portugueses” e que são “estas pessoas que garantem que as urgências não fechem”.

Hospitais em ruptura. Médicos, precisam-se!