A líder indígena Sonia Guajajara disse esta terça-feira que o projeto de construção de um hotel do grupo português Vila Galé numa reserva no estado da Bahia “reproduz o que foi a exploração de Portugal” nos territórios brasileiros.

A Vila Galé é, mais uma vez, a reprodução do que foi a exploração de Portugal nos territórios brasileiros. É uma situação grave. Há uma decisão da presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), que é responsável pelo reconhecimento daquele território [..] em benefício da empresa”, disse Sonia Guajajara.

A ativista e coordenadora da APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil falava esta terça-feira em Lisboa, numa das etapas da digressão “Sangue Indígena, Nenhuma gota a mais”, que vai passar por 12 países e 18 cidades europeias em 35 dias.

O objetivo da campanha é sensibilizar parlamentos, líderes políticos, consumidores e sociedade civil dos países europeus para que ajudem a pressionar o governo brasileiro e as empresas que “estão a promover a destruição da Amazónia” e a fomentar as perseguições aos povos indígenas.

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Sonia Guajajaraa defendeu que é necessária “uma manifestação mais forte da população portuguesa em apoio aos povos indígenas”, acrescentando que esta foi uma das questões abordadas durante os encontros em Portugal.

“Estamos a dar visibilidade a esse caso porque não podemos permitir” que venha a desencadear outros processos nos quais “se trave a demarcação de uma terra para atender aos interesses de uma empresa”, sublinhou.

O portal de jornalismo de investigação The Intercept revelou, há uma semana, que o grupo Vila Galé está a tentar construir um resort numa reserva indígena no sul do estado da Bahia, com o apoio do governo do Brasil.

Grupo português Vila Galé garante que “não existem indígenas” na zona onde quer construir hotel de luxo, no Brasil

O The Intercept avançou que a Funai recebeu, em julho último, um pedido do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) — órgão vinculado ao Ministério do Turismo do Brasil — para encerrar o processo de demarcação de uma reserva indígena, pertencente ao povo Tupinambá de Olivença, para a construção do empreendimento.

O grupo hoteleiro português emitiu um comunicado em que garantiu que “não existem indígenas” na zona onde pretende instalar o resort.

Contudo, esta posição não é partilhada por antropólogos de ambos os países, que asseguram que o local é constituído por uma área de mangue — ecossistema costeiro e húmido presente em zonas tropicais e subtropicais —, uma das maiores fontes de sustento daquela comunidade nativa.

O povo Tupinambá de Olivença luta pela demarcação daquelas terras há pelo menos 15 anos e a primeira fase do processo foi concluída em 2009.