Agora com sinal reforçado em Lisboa 98.7 FM No Porto 98.4 FM Mundo / Lula da Silva Seguir Lula discursa em São Paulo e pede livros em vez de armas. "Vamos distribuir o acesso à cultura" Lula da Silva criticou o Presidente brasileiro por se ter encontrado com o príncipe saudita, associando-o à morte do jornalista Jamal Khashoggi. "Queremos que esta gente saiba que este país é nosso". Ana Catarina Peixoto Texto Agência Lusa Texto 09 Nov 2019, 18:50 1048 i Hedeson Alves/EPA Hedeson Alves/EPA “Não posso ver o país que construimos ser destruído”. Depois de ser libertado na sexta-feira, o ex-presidente brasileiro Lula da Silva falou aos milhares de apoiantes que este sábado o receberam em São Paulo. Garantiu que quer voltar a dar o Brasil ao povo e à cultura e atirou críticas a Jair Bolsonaro, um Presidente que, diz, “nunca fez um discurso que prestasse”.“Se as pessoas tiverem onde trabalhar, se tiverem salário, se tiverem onde estudar, se tiverem acesso à cultura, a violência vai cair. Temos de viver contra a distribuição de armas do Bolsonaro. Vamos distribuir livros, vamos distribuir emprego, vamos distribuir o acesso à cultura“, discursou Lula em frente a uma multidão. Este, acrescenta, é o país que o Brasil quer “e sabe construir”. Lula criticou ainda o Presidente brasileiro por se ter encontrado com o príncipe saudita Mohammed bin Salman, associando-o à morte do jornalista Jamal Khashoggi. “Esse príncipe matou e esquartejou e fez carne moída de um jornalista”, afirmou, acrescentando de seguida: “Queremos que esta gente saiba que este país é nosso”.O antigo Presidente garantiu que o objetivo é chegar às próximas eleições presidenciais, marcadas para 2022. “Tenho certeza que tivermos juízo e soubermos trabalhar direitinho em 2022, a chamada esquerda que o Bolsoanro tem tanto medo vai derrotar a ultradireita que nós tanto queremos derrotar”, sublinhou ainda, apontando o Chile e a Bolívia como exemplo de resistência. “Temos de atacar. Não apenas defender. Estamos muito tranquilos”.Ainda antes do discurso, Lula da Silva enviou uma mensagem em vídeo dirigida a líderes da esquerda latino-americana reunidos em Buenos Aires, onde disse estar com “muita disposição para lutar contra o lado podre da Justiça, da polícia e da imprensa brasileira”. Estou com muita disposição de andar pelo Brasil, com muita vontade de viajar pela América Latina. E estou com muita disposição de combater o lado podre do Poder Judiciário, o lado podre da Polícia Federal, o lado podre da Receita Federal, o lado podre do Ministério Público e o lado podre da imprensa brasileira”, diz Lula no vídeo enviado à reunião do Grupo de Puebla, em que participam líderes da política latino-americana, reunidos em Buenos Aires.Lula acrescenta que é preciso ter coragem de enfrentar esses poderes porque “a elite latino-americana é muito conservadora e não aceita a ideia de um povo pobre subir um degrau na escala das conquistas sociais”. “Finalmente estou livre”, anuncia Lula. “E estou com muito desejo de lutar”, prossegue.O ex-Presidente brasileiro diz aos líderes da esquerda regional que “continua com o sonho de construir uma grande América Latina” que melhore a vida dos povos da região e que a recente vitória de Alberto Fernández na Argentina “pode servir de exemplo para outros países”. “Acredito que (Alberto) Fernández possa fazer isso na Argentina e que possa servir de exemplo para outros países”, destaca Lula, em sintonia com a esperança da esquerda regional de que a vitória do peronista argentino signifique um caminho para o retorno da esquerda ao poder depois de uma onda de direita que ganhou as eleições desde 2015.“Agradeço a Fernández por ter ganho a eleição. Foi como se eu tivesse ganho aqui no Brasil”, comparou, fazendo, porém uma advertência sobre o que ocorre na Bolívia. “Estou feliz com a eleição do Evo (Morales) apesar da canalhice que estão a fazer com ele na Bolívia”, diz, solidarizando-se com o líder boliviano de esquerda cuja eleição em 20 de outubro foi marcada por acusações de fraude que ainda são motivo de auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA).A exibição do vídeo de Lula fez parte da cerimónia inaugural da região do recém-criado Grupo de Puebla que, além do próprio Lula, tem como integrantes ex-Presidentes como a brasileira Dilma Rousseff, o uruguaio José Mujica e o colombiano Ernesto Samper.Depois da participação em vídeo de Lula, o Presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, revelou que na visita que fez a Lula na prisão em julho passado durante campanha eleitoral argentina, Lula deu-lhe uma ordem: “Você tem de ganhar na Argentina”. “Então, eu cumpri, Lula. Ganhei na Argentina. E vamos colocar a América Latina de pé”, anunciou.Alberto Fernández revelou que conversou este sábado com o Presidente francês Emmanuel Macron. “Uma conversa esplêndida na qual eu lhe expliquei o que está acontecer na América Latina”, disse.“Também disse ao Presidente Macron que, com Lula Livre, sopram outros ventos no Brasil. E disse-lhe que confio nesses ventos”, em alusão a uma mudança em relação à atual política do governo Bolsonaro, que ameaça romper com o Mercosul se a Argentina tiver uma postura protecionista contra a tendência de abertura comercial aplicada pelo governo de Mauricio Macri que deixa a Presidência na Argentina em 10 de dezembro. O atual Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, não felicitou Fernández pela vitória há duas semanas e avisou que não irá à sua posse. Fernandez, por seu lado, convidou Lula para a posse.“Vamos trabalhar muito para que essa união entre Brasil e Argentina não se rompa. Essa união é o eixo da unidade da América do Sul”, defendeu Alberto Fernández. “O Grupo de Puebla será a voz para contar ao mundo o que acontece na América Latina e de onde sairão os dirigentes que voltarão a colocar de pé a América Latina”, afirmou.