A poesia de Natália Correia é divulgada no mais recente trabalho discográfico do músico açoriano Luís Gil Bettencourt, que considera que ainda não foi dado o devido valor à “mulher de armas” de quem guarda memórias no Botequim.

“Ainda não se falou de Natália, ainda não se agarrou Natália da devida forma e há que aproveitar espaços como o Outono Vivo e outros para chamar à atenção. Eu não sou o dono da razão, nem nunca seria por mim que as pessoas iriam dar atenção à Natália, mas pelo menos vai-se falando nela aos poucos”, adiantou, em declarações à agência Lusa.

Natural da ilha Terceira e com um percurso ligado sobretudo ao rock e à organização de eventos, Luís Gil Bettencourt lança no domingo um CD com seis poemas musicados de Natália Correia, no festival literário Outono Vivo, na cidade da Praia da Vitória. Recorda a escritora, nascida em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, das idas ao bar Botequim, em Lisboa, como “uma mulher de armas” e “com uma força incrível”. “Senti que ela própria sabia que na sua terra ainda não a tinham olhado de forma correta. Essa distância era mais do que notória na forma de ela falar”, salientou.

Nascida em 1923, em Ponta Delgada, Natália Correia mudou-se cedo para Lisboa, onde morreu em 1993, tendo-se destacado como deputada, jornalista, tradutora, guionista e editora, mas também como poetisa, dramaturga, romancista e ensaísta. Para Luís Gil Bettencourt, que já tinha musicado poemas dos açorianos Antero de Quental e Vitorino Nemésio, criar músicas para estes autores tem sido uma “aprendizagem incrível”.

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“Geralmente quando gravamos ou musicamos poemas de alguém, a nossa intenção é o formato das cantigas, com refrãos. E musicar poesia, para mim, continua a ser uma aprendizagem incrível. O mais importante é a palavra. Nem que seja sempre a mesma melodia, desde que sirva o poema, desde que sirva para transportar a palavra de uma forma interessante, que uma pessoa possa fazer justiça à palavra, isso é que é o importante”, sublinhou.

A pedido do amigo António Terra já tinha musicado o poema “Ode à Paz” de Natália Correia para um concerto em Oeiras, experiência que o entusiasmou a criar um “pequeno registo” seu com outros poemas. “São necessidades que uma pessoa por vezes sente. Nada está programado e do nada aparece a ideia”, contou.

Tal como muitos outros açorianos, Luís Gil Bettencourt conhecia pouco da obra poética de Natália Correia, mas bastou-lhe “uma tarde” para musicar seis poemas e hoje diz-se “apaixonado”.  “É uma escrita inteligente. Dá-me impressão de que ela mostra mil e um caminhos para seguir, mas na verdade só há um e nós temos de ter a capacidade de entender onde é que ele está e de decifrar as entrelinhas dela”, sustentou. Para o músico terceirense é altura de a escrita de Natália Correia “entrar pelas escolas adentro”.

“A escrita da Natália, de certa forma, é importante para todos nós. Para mim, está a ser uma aprendizagem incrível. E com a minha idade se me faz sentir bem este exercício, o que não poderá ser para os mais novos”, defendeu.