Evo Morales já se encontra no México e já falou aos jornalistas. O antigo presidente da Bolívia fugiu para o país com uma promessa de asilo político face à instabilidade que se vive na Bolívia e que o fez resignar ao cargo.

O político aterrou no Aeroporto Internacional da Cidade do México, num avião da Força Aérea Mexicana, onde foi recebido por vários repórteres e pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Marcelo Ebrard.

Seguiu-se um breve discurso em que Evo Morales afirmou continuar a fazer política enquanto fosse vivo e prometeu regressar “com mais força e energia”, pode ver-se no vídeo da sua  chegada ao aeroporto. Houve também tempo para um agradecimento especial ao presidente mexicano, Andres Manuel Lopez Obrador: “Ele salvou-me a vida”.

No mesmo discurso, Evo Morales descreveu a situação por que passou antes do exílio: “Saquearam e queimaram a casa da minha irmã. Tentaram saquear e queimar a minha”.

“Irmãs e irmãos, parto rumo ao México, agradecido ao governo desse povo irmão que nos deu asilo para podermos cuidar das nossas vidas. Dói-me abandonar o país por razões políticas, mas sempre estarei presente. Em breve voltarei com mais força e energia.” A despedida foi publicada na rede social Twitter esta terça-feira, antes de embarcar num avião com destino ao México.

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Evo Morales renuncia ao mandato de Presidente da Bolívia. “A luta não termina aqui”

Na véspera, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador já tinha anunciado estar disponível para dar asilo político a Evo Morales depois de este ter sido pressionado pelos militares e pela contestação nas ruas a renunciar ao cargo — tinha sido reeleito pela quarta vez consecutiva em outubro passado e logo na noite eleitoral começaram as acusações de fraude.

Para além da mensagem de despedida, Evo Morales publicou também uma fotografia sua, a dormir no chão, debaixo de uma tenda improvisada com um lençol. “Assim foi a minha primeira noite depois de deixar a presidência”, escreveu.

Também o presidente mexicano publicou no Twitter uma mensagem assegurando que Evo Morales estava a caminho do México. O vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, e a ministra da Saúde, Gabriela Montaño, também já terão deixado o país.

“Uma viagem pela política sul-americana”

Foi assim que Evo Morales qualificou a experiência das suas últimas 24 horas, que passou por várias rejeições ao pedido de asilo junto de vários países e difíceis negociações entre o governo mexicano, os militares no poder na Bolívia, e mais uma mão cheia de países na América do Sul.

A viagem começou na segunda-feira. Um avião mexicano deslocou-se para Lima enviado pelo presidente do México que antecipava o sim de Evo Morales à sua proposta de asilo, segundo afirma o EL PAÍS. O plano era esperar ali as autorizações necessárias para voar para a Bolívia e recolher o ex-presidente, mas o país passa por um período político conturbado em que “não se sabe muito bem quem decide o quê”, terá afirmado Marcelo Ebrard segundo uma fonte do jornal espanhol.

Ao início da tarde, tudo parecia a postos para recolher Evo Morales e, por isso mesmo, o jato mexicano, que se encontrava estrategicamente colocado em Lima, descolou, mas viu negada a autorização para entrar no espaço aéreo boliviano. Deu meia volta e voltou a aterrar no aeroporto de onde tinha iniciado voo horas antes, onde também encontrou problemas com o combustível e a forma de pagamento exigida.

Segundo o jornal espanhol, foi durante este impasse que o asilo político foi feito público por decisão do presidente mexicano, que assegurava a necessidade de preservar a liberdade e integridade de Morales. Ao mesmo tempo, as negociações não paravam e foi finalmente dada a autorização para entrar na Bolívia e fazer embarcar o ex-presidente do país.

Eram sete horas da tarde quando a “boleia” de Morales aterrou no aeroporto de Chimorré — uma antiga base utilizada pela DEA na luta ao narcotráfico e que o próprio ex-presidente adaptou a um aeroporto internacional no meio da selva. Era aqui também onde estava escondido desde que se iniciaram os protestos.

Meia hora passara, estava na hora de descolar, mas não sem antes receberem mais más notícias — estava planeado regressar ao México pela mesma rota, mas o Peru tinha acabado de negar autorização para reabastecer em Lima. Um problema que necessitava ser resolvido em pouco tempo uma vez que estavam cada vez mais pessoas no aeroporto. Tratava-se de apoiantes de Morales na sua maioria, mas com alguns militares dissimulados no meio da multidão que constituíam uma ameaça à vida do político.

Um quarto país sul americano, a Argentina, foi então decisivo na viagem de Morales. Alberto Fernández, presidente argentino, entrou em contacto com o seu homólogo paraguaio para que uma solução fosse encontrada. O avião foi, então, prontamente autorizado a sobrevoar o Paraguai e a parar em Assunção para reabastecer.

Reabastecido o avião, pronto a descolar para sobrevoar a Bolívia em direção ao México, o país que deixara sair Morales não estava pronto para o ver regressar, nem que fosse por uma hora e dentro de um avião a mais de mil metros de altitude. Foi então necessário recorrer a mais um país da América do Sul. O Brasil, através da sua embaixada em La Paz, dispôs-se a deixar a aeronave sobrevoar o seu espaço aéreo junto à fronteira com a Bolívia.

Daí o plano era atravessar o Peru, sobrevoar o Equador e alcançar águas internacionais em direção ao México. Mais uma vez, o Equador negou passagem ao avião mas, perante pressão do governo mexicano, as autoridades do país deram o dito pelo não dito e o avião pode voar pacificamente sobre o país. Evo Morales chegou às 11h do dia seguinte ao México, um país que diz ter-lhe “salvado a vida”.

Ministro da Defesa da Bolívia anuncia renúncia ao cargo

Na sequência de muitas outras demissões, também o ministro da Defesa da Bolívia, Javier Eduardo Zavaleta López, anunciou esta terça-feira a sua renúncia ao cargo através de uma carta publicada no Twitter, onde escreveu que a sua vontade “sempre foi de preservar o caráter institucional das forças armadas ao serviço da população” e não contra esta.

“Nunca ordenámos aos nossos soldados e marinheiros que manejassem uma arma contra o seu povo e nunca o faríamos”, disse Zavaleta, décimo terceiro ministro a deixar o cargo após a renúncia de Evo Morales, na crise desencadeada após a primeira volta das eleições presidenciais de 20 de outubro. “O Estado que construímos é uma Bolívia onde os militares deveriam encarar a defesa da sua pátria ao lado do seu povo e não contra ele; portanto, a responsabilidade de voltar as armas contra o povo será daqueles que tomaram esta decisão.”

“Política são ideias contra ideias e não o zumbido de balas”, concluiu.

*Notícia atualizada às 20:57